A Direção do Benfica volta a reunir esta terça-feira no Estádio da Luz, num encontro que já estava anteriormente marcado no âmbito das reuniões ordinárias quadrimestrais dos órgãos sociais do Benfica. No entanto, de forma quase inevitável, a situação de Luís Filipe Vieira e a instabilidade institucional que o clube vive voltarão a estar em cima da mesa, desta vez com ideias bem mais definidas do que existiam no final da última semana, quando não eram ainda conhecidas as medidas de coação aplicadas pelo juiz Carlos Alexandre ao líder dos encarnados.
Assim, e de acordo com informações recolhidas pelo Observador, há um cenário que continua completamente colocado de parte: o Benfica não irá já para eleições antecipadas, algo que tem vindo a ser pedido por vários elementos do universo encarnado nos últimos dias. A razão é simples: há um empréstimo obrigacionista a decorrer (e que sofreu o impacto do terramoto que se viveu na Luz a partir da última quarta-feira); existe uma prioridade mais imediata à construção dos plantéis não só do futebol profissional mas também das próprias modalidades – pasta entregue agora a 100% a Fernando Tavares –, que sofreram uma grande revolução depois de uma época falhada; e sobre uma urgente necessidade de fazer um damage control de toda a situação.
Dois exemplos práticos, um deles abordado na imprensa desportiva desta segunda-feira. A Adidas e a Emirates, dois dos maiores parceiros do Benfica, renovaram recentemente os seus vínculos com o clube da Luz (que não estão em causa) mas os responsáveis encarnados sentem que é necessário transmitir nesta fase, dentro do possível, uma imagem de estabilidade e confiança – até porque o modelo societário semelhante ao Bayern que foi ponderado na altura da OPA, com três grandes marcas a terem parte do capital da SAD sem o clube perder a maioria, não era só bem visto enquanto solução por Luís Filipe Vieira. Em contrapartida, as notícias que foram saindo nos últimos dias podem ter impacto no trabalho que a WME, propriedade do grupo americano Endeavor, tem estado a fazer desde o primeiro trimestre na procura das melhores soluções para a venda dos naming rights do Estádio da Luz e do Benfica Campus, uma receita nova que seria importante nesta fase para as águias.
Ainda assim, os membros dos órgãos sociais, nomeadamente os vices, vogais e suplentes da Direção, admitem que é complicado manter esta situação por mais tempo no plano institucional, sabendo também em paralelo que Luís Filipe Vieira não ficará para sempre auto-suspenso e que, daqui a algumas semanas, irá tomar uma decisão sobre o seu futuro ou não na Luz. Por isso, tem ganho força entre os dirigentes a ideia de haver um ato eleitoral antecipado, algo que, ao ser anunciado, poderia também permitir um outro “ambiente” nos próximos dois meses em relação à posição de Rui Costa como presidente substituto. Se o também administrador (e agora líder) da SAD poderá avançar e ser candidato, nada está decidido. Nem será decidido na reunião desta terça-feira, nem será decidido nos próximos dias. Uma coisa é certa: as eleições serão sempre em outubro ou em novembro, mediante também os prazos legais que têm de ser cumpridos nestas situações em termos estatutários.
Em paralelo com isso, mantém-se um outro ponto importante que já foi discutido em reuniões anteriores que se realizaram depois da operação Cartão Vermelho: uma redistribuição e um reforço de pelouros entre todos os membros da Direção, até porque Rui Costa, querendo estar presente em momentos importantes do clube enquanto figura número 1 como aconteceu este domingo na final da Taça de Portugal de hóquei em patins feminino (que as águias venceram frente ao Infante Sagres), necessitará de maior disponibilidade para esta fase da temporada no futebol para trabalhar com o técnico Jorge Jesus e o diretor geral Rui Pedro Braz. É nesse sentido que, para não retardar mais a entrada e integração no plantel tendo em vista a terceira pré-eliminatória da Champions no início de agosto, João Mário deverá ser já apresentado esta terça-feira como reforço do Benfica.
Por fim, o omnipresente em todo este processo, Luís Filipe Vieira. Em termos internos, a notícia de que o líder do clube não tinha gostado da forma como o seu nome passou sempre ao lado de todas as intervenções públicas que foram feitas desde quarta-feira, através de comunicados ou da declaração de dois minutos feita por Rui Costa no relvado da Luz, que o Observador tinha adiantado no sábado, não foi propriamente uma novidade. No entanto, há a perceção interna de que tudo foi feito tendo em consideração os superiores interesses do clube, sem atribuir qualquer tipo de “culpabilidade” ao presidente auto-suspenso (que tem uma opinião contrária). Nota: Vieira não “acusou” a passagem de Rui Costa a número 1, algo que sabia que iria acontecer até por ter sido o próprio a nomear o ex-jogador e capitão como número 2 da Direção na primeira reunião dos novos órgãos sociais eleitos, no início de novembro, mas sim a “finta” ao seu nome e a defesa da presunção de inocência.
E poderá Vieira voltar ao Benfica, assumindo a liderança do clube e até da SAD (algo que poderá também fazer, embora esteja impedido de falar com os restantes administradores como ficou expresso nas medidas de coação)? Para já, essa questão não está em cima da mesa – sendo que primeiro terá sempre de depositar a caução de três milhões de euros para deixar de estar em prisão domiciliária. E se o cenário de eleições antecipadas, nunca antes dos próximos 90 dias, for mesmo aceite, poderá até nem voltar porque a Direção vai sempre perder o quórum, o que obriga o clube a convocar novo sufrágio. Assim, algo teria mesmo de mudar para o ainda líder dos encarnados poder voltar ao cargo. Algo que, nesta fase, ninguém consegue vislumbrar o que poderá ser.