As autárquicas podem estar marcadas apenas para o final de setembro, mas António Costa já começou a fazer campanha a todo o gás e levou consigo para a estrada um trunfo: o dinheiro europeu ou, como frisou este sábado de visita a Portalegre, “o maior envelope financeiro de que o país já se dispôs” e que o PS quer gerir no poder — nacional e autárquico — entregando aos seus autarcas um papel “muitíssimo mais relevante” na gestão dos fundos.

O périplo de Costa é intenso: só este fim de semana, o primeiro-ministro, na pele de secretário-geral do PS, vai marcar presença nas apresentações dos candidatos de Castelo Branco, Viseu, Guarda, Coimbra e Leiria (embora falhe a apresentação da atribulada candidatura do Porto, marcada para domingo). Começou por Portalegre, capital de distrito governada por uma independente e que o dirigente e deputado Luís Testa vai tentar conquistar, numas autárquicas em que o PS tem uma fasquia simples — manter a maioria das câmaras — que, na verdade, significará manter a hegemonia que conseguiu em 2017, com o melhor resultado local de sempre.

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Para isso, Costa fez-se à estrada para puxar pelos autarcas do PS. Em Portalegre, fez menção dos desafios colocados pela pandemia — é preciso “acelerar e concluir tão rapidamente quanto possível” a vacinação, reforçar o SNS, construir um grande plano de recuperação de aprendizagens e apostar numa agenda de “trabalho digno”, para “pôr cobro às formas inaceitáveis de precariedade” que a pandemia terá destapado.

E o foco de Costa está mesmo no futuro: com vontade de virar a página da pandemia e de ver o copo meio cheio, como dizia esta semana no debate do Estado da Nação, Costa dedica-se ao pós-Covid. “O maior desafio é, saindo desta pandemia, proceder à recuperação económica e social, retomar a trajetória do desenvolvimento e podermos ir mais além, com a ambição de irmos mais rápido”. E essa ambição “é mesmo um dever”, porque Portugal tem agora uma quantidade inédita de recursos — ou seja, de dinheiro europeu — em cuja gestão Costa fez questão de destacar o papel dos autarcas.

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Segundo o primeiro-ministro, os autarcas terão no mandato que começa em setembro, depois das eleições, “um papel muitíssimo relevante, mais do que têm tido”. Por duas razões: as alterações nas eleições das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), em que as cúpulas são agora escolhidas pelos seus pares (outros autarcas) e não nomeadas pelo Governo, “um passo muito importante no sentido da regionalização”; e porque entrará em pleno o plano da descentralização de competências, que passa novas tarefas que eram do Estado central para os municípios.

Para isto será preciso “termos autarcas que não tenham medo de assumir essas responsabilidades” e que poderão ter “as opções sobre investimento na mão”, sem depender das opções do Governo central. E “esta é daquelas situações em que não há mesmo uma segunda oportunidade. Se não cumprirmos, nunca nos perdoaremos a nós próprios e as próximas gerações nunca nos perdoarão”, dramatizou Costa, encorajando a audiência.

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Para Costa, a conclusão é simples: para um político “não há caminho sem obstáculos e surpresas” — foi o que lhe aconteceu com a pandemia — mas é preciso “não deitar a toalha ao chão” e procurar, em vez disso, mobilização para recuperar. É o que está a fazer, uma vez que quer gerir esta crise e lançar o processo de recuperação, e o primeiro passo eleitoral será a batalha autárquica, marcada para 26 de setembro.