As reações à morte de Otelo Saraiva de Carvalho evidenciam a principal característica do militar responsável pela estratégia e pela coordenação das operações da revolução do 25 de Abril: a contradição entre o estatuto de herói da revolução e a sua participação na organização terrorista FP-25 na década de 1980.

Otelo Saraiva de Carvalho morreu este domingo aos 84 anos. O capitão de Abril encontrava-se internado no Hospital das Forças Armadas há duas semanas.

“Consciente das profundas clivagens que a sua personalidade suscita”, Marcelo evoca Otelo como capitão de Abril

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, emitiu uma nota cautelosa de condolências à família de Otelo Saraiva de Carvalho em que recordou o capitão de Abril como uma figura controversa e causadora de “profundas clivagens” na sociedade portuguesa que a história terá de avaliar.

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“Um dos mais ativos capitães de abril, exerceu funções muito relevantes durante a revolução e candidatou-se à Presidência da República em 1976. Afastado do poder na sequência do 25 de novembro de 1975, viria a ser considerado, pela Justiça, envolvido nas FP25, condenado e amnistiado“, começa por dizer o Presidente.

“É ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância. No entanto, parece inquestionável a importância capital que teve no 25 de abril, o símbolo que constituiu de uma linha político-militar durante a revolução, que fica na memória de muitos portugueses associado a lances controversos no inicio da nossa Democracia, e que suscitou paixões, tal como rejeições”, continua Marcelo Rebelo de Sousa.

“O Presidente da República, consciente das profundas clivagens que a sua personalidade suscitou e suscita na sociedade portuguesa, evoca-o, neste momento como o Capitão que foi protagonista cimeiro num momento decisivo da História  contemporânea portuguesa”, acrescenta o comunicado. “E relembra o que disse no último 25 de abril acerca da aceitação que os Portugueses devem procurar construir, todos os dias, relativamente a sua História Pátria.”

Posteriormente, em Celorico de Basto, onde se deslocou para as cerimónias de comemoração do Dia do Município, o Presidente da República falou em direto para as televisões sobre Otelo Saraiva de Carvalho. “Aquilo que neste momento sobressai é o capitão de abril e o seu papel essencial naquilo que constituiu um momento decisivo na história contemporânea do nosso país, que foi o 25 de abril e a viragem que trouxe da ditadura para a democracia através da revolução.

A história precisa de distância para ter a última palavra. Aquilo que avulta é essa intervenção, uma intervenção central em termos de coordenação operacional do 25 de abril, que por sua vez representa um momento decisivo na mudança do regime político, económico e social na história do nosso país”, referiu ainda Marcelo Rebelo de Sousa.

[Oiça aqui a reação de Manuel Castelo-Branco, filho de Gaspar Castelo-Branco, uma das vítimas de atentados das FP-25:]

“Hoje, para mim, morreu o assassino do meu pai”. A reação de quem viveu os atentados das FP-25

Ferro homenageia “o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas”

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, homenageou este domingo Otelo Saraiva de Carvalho, “o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas”, que concretizou o sonho de todos os que “ansiavam por viver em liberdade”.

“Apesar dos excessos que se possam apontar, nomeadamente no período pós 25 de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho foi, e será sempre considerado, o maior símbolo individual do Movimento das Forças Armadas”, pode ler-se numa mensagem de pesar do presidente da Assembleia da República a que a agência Lusa teve acesso.

Segundo Ferro Rodrigues, “por todos os democratas, que ansiavam por viver em liberdade e em democracia, Otelo Saraiva de Carvalho concretizou esse sonho”. O presidente da AR apontou ainda: “No momento do seu desaparecimento, e pelo seu decisivo contributo, é justo render-lhe a mais sentida homenagem”.

“Otelo Saraiva de Carvalho teve um papel fundamental no 25 de Abril, sendo de sua responsabilidade a elaboração do plano de operações militares que derrubou o anterior regime”, refere ainda Ferro Rodrigues.

Governo diz que Otelo é, “a justo título”, um dos símbolos do 25 de Abril

“Otelo Saraiva de Carvalho foi o coordenador operacional da ação militar do Movimento das Forças Armadas, que, no dia 25 de abril de 1974, derrubou o regime do Estado Novo, pondo fim à mais longa ditadura do século XX na Europa e abrindo caminho à democracia”, diz o Governo num comunicado enviado pelo gabinete do primeiro-ministro.

“A capacidade estratégica e operacional de Otelo Saraiva de Carvalho e a sua dedicação e generosidade foram decisivas para o sucesso, sem derramamento de sangue, da Revolução dos Cravos. Tornou-se, por isso, e a justo título, um dos seus símbolos. Neste dia de tristeza honramos a memória de Otelo, como um daqueles a que todos devemos a libertação consumada no 25 de Abril e, portanto, o que hoje somos.”

Augusto Santos Silva: “A ele devemos o que somos hoje, uma democracia pluralista”

O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou este domingo Otelo Saraiva de Carvalho “uma das muitas pessoas a que nós todos devemos a liberdade”, num comentário à morte do Capitão de Abril.

Em declarações após participar, “como socialista e leitor do Porto”, no lançamento da candidatura de Tiago Barbosa Ribeiro à liderança da Câmara do Porto, o governante disse que “O Governo lamenta o falecimento do coronel Otelo Saraiva de Carvalho”.

“Como sabemos, ele foi o comandante operacional da ação militar do 25 de Abril de 1974. É, portanto, um dos capitães de Abril, embora nessa altura já fosse major, e é uma das muitas pessoas a que nós todos devemos a liberdade”, acrescentou.

Neste “dia de tristeza”, continuou, deve lembrar-se a “sua memória e a sua contribuição para que a mais longa ditadura da Europa, o Estado Novo, tivesse caído e a democracia se instaurasse em Portugal”.

“Todos devemos recordar que foi ele, com a sua capacidade estratégica e operacional, que comandou a ação militar em 25 de Abril de 1974, que pôs fim à ditadura sem qualquer derramamento de sangue”, recordou o ministro.

Lembrando que Otelo “costumava dizer que o 25 de Abril tinha sido o dia mais feliz da sua vida”, Augusto Santos Silva enfatizou ser também por essa data que “mais merece ser lembrado”.

Como militar de Abril, depois da avaliação completa, isenta, distanciada no tempo, de tudo o que nós vamos fazendo, a História fá-lo-á no devido momento. A ele devemos o que somos hoje, uma democracia pluralista, europeia, civilista e um país que vive em paz e para o qual a ditadura é apenas uma memória de um tempo a que ninguém quer voltar”, assinalou.

Rui Rio: “Hoje não é dia” para “avaliação global” do papel de Otelo na história

O presidente do PSD reagiu através do Twitter reconhecendo o “papel corajoso e decisivo” de Otelo no 25 de abril. Numa publicação curta, Rui Rio rejeita que este seja o momento para a avaliação global de tudo o que Otelo fez “de bom e de mau”: “Hoje não é o dia para isso”.

PCP diz que este não é o momento para registar “atitudes e posicionamentos” do percurso político de Otelo

O Partido Comunista Português vai no mesmo sentido e, através de um comunicado, rejeita referência às polémicas do período pós-revolucionário, incluindo a pertença às FP-25, no momento da morte do militar.

“De Otelo Saraiva de Carvalho deve registar-se no essencial o seu papel no levantamento militar do 25 de Abril. O momento do seu falecimento não é a ocasião para registar atitudes e posicionamentos que marcaram o seu percurso político. O PCP endereça as suas condolências à família e à Associação 25 de Abril”, diz o partido.

Catarina Martins diz que Otelo merece ser lembrado como obreiro do 25 de Abril, facto “amplamente consensual”

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, preferiu lembrar Otelo Saraiva de Carvalho como “um dos obreiros do 25 de Abril, reconhecido estratega do golpe que nos devolveu a liberdade”

“Acho que isso é o mais importante em todo o seu percurso. Ser lembrado como um libertador do nosso país, que foi, e merece essa homenagem. Teve um percurso múltiplo, uma vida grande, também com… enfim. Mas acho que o mais importante é lembrá-lo como ele merece ser lembrado”, continuou Catarina Martins, sem comentar as polémicas subsequentes.

“Um dos libertadores do nosso país, foi estratega do 25 de Abril, devemos-lhe a democracia, a liberdade. Hoje, esse é o facto que é amplamente consensual, essa dívida de gratidão para com um construtor do 25 de Abril.”

Otelo foi abril mas também “rosto de atrocidades”, lembra CDS

No CDS a reação ficou a cargo do vice-presidente do CDS-PP Miguel Barbosa que classificou este como um dia “agridoce”. Por um lado, o dirigente citado pela Lusa lembra Otelo como “um dos principais obreiros do golpe de Estado que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos, o 25 de Abril de 1974”, reconhecendo-lhe “um primeiro ato importantíssimo para devolver Portugal à liberdade e à estabilidade de uma democracia liberal, que apenas se veio a confirmar com o 25 de novembro”. Mas, por outro, está “aquilo que O CDS não esquece”:

“Um homem que, entre estas duas datas, teve atitudes e comportamentos em que contradiz tudo aquilo que parecia defender”, numa referência ao Comando Operacional do Continente (COPCON) a a ação das FP25 que Otelo coordenou. “Não esquecemos que Otelo Saraiva de Carvalho era o rosto de toda essa atrocidade”.

Portugal “perdeu hoje uma das pessoas e uma das personagens mais polémicas da história recente do nosso país”, afirmou ainda que o CDS reconheça “aquilo em que [Otelo] acrescentou e onde fez a diferença para promover a transição da ditadura para a democracia”.

Chega destaca “papel perverso e destrutivo” de Otelo

Já o partido liderado por André Ventura destaca, também num comunicado, “o papel perverso e destrutivo que Otelo Saraiva de Carvalho teve no Portugal pós-25 de Abril, bem como a mancha de sangue que deixou durante esse processo histórico em que foi um protagonista fundamental”. Isto ainda que deixe os sentimentos à família e reconheça que a “morte é sempre um momento de dor e saudade, sobretudo para o círculo próximo”.

Mas o Chega fala sobretudo dos erros de Otelo, nomeadamente do processo de indulto pelo Parlamento “que jamais devia ter acontecido”, defendendo que o militar “deveria ter cumprido a sua pena numa prisão portuguesa. Hoje é dia de, entre muitas outras coisas, refletir sobre os momentos piores do Portugal pós-revolucionário”, remata o texto enviado às redações pelo partido.

“Serviu Portugal sem se servir”, dizem Vasco Lourenço e a Associação 25 de abril

A Associação 25 de Abril recordou este domingo o coronel Otelo Saraiva de Carvalho, considerado que o estratega da revolução de 1974, que derrubou a ditadura em Portugal, foi um homem que “serviu Portugal sem se servir”.

Em comunicado, a Associação presidida pelo tenente-coronel Vasco Lourenço — que assume ver “partir um grande amigo” — homenageia o “homem de enorme coragem e generosidade, sempre ao serviço dos seus ideais, com um coração onde cabiam, acima de tudo, os mais genuínos sentimentos da amizade”.

Convicta de que Otelo deixa “um legado que a memória dos portugueses não esquecerá”, a Associação – fundada em 1982 por oficiais dos quadros permanentes das forças armadas, mas hoje aberta a outros militares profissionais e civis — considera que o “país fica mais pobre” com a partida do Capitão de Abril.

A Associação recorda o papel de Otelo naquele “dia inicial, inteiro e limpo”, o 25 de Abril de 1974, ao liderar o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, “ação fundamental na vitória sobre uma ditadura de 48 anos que conduzira os portugueses ao obscurantismo, à guerra colonial e à pobreza”.

Sem dúvidas, a Associação, numa mensagem assinada por Vasco Lourenço, escreve: “Otelo ficará na História de Portugal como um dos principais Capitães de Abril.”

“Pessoalmente, vejo partir um grande Amigo, a quem envio um enorme abração de Abril! Até sempre, caro Otelo”, conclui Vasco Lourenço.

MPLA lamenta morte de homem empenhado na “luta pela justiça social e igualdade”

O MPLA, partido do poder em Angola, manifestou pesar pela morte do “revolucionário português”, lamentando a morte de um cidadão do mundo empenhado na luta pela igualdade e justiça social.

“Foi com profundo sentimento de pesar que o Secretariado do Bureau Político do MPLA tomou conhecimento da morte do revolucionário português Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, um dos principais estrategas do 25 de Abril de 1974, ocorrida este domingo, 25 de julho de 2021, em Lisboa, vitima de doença aos 84 anos de idade”, salienta uma nota do secretariado do Bureau Político (BP) do partido, que governa Angola desde a independência do país, em 1975.

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido de matriz marxista-leninista que se apresenta atualmente como assente na ideologia social-democrata, endereçou “sentidas condolências” à família e ao povo português, e salientou que a morte de Otelo representa a perda de um cidadão do mundo “dedicado e engajado na luta pela justiça social e por uma maior igualdade social entre os homens”.

“Pelo infortúnio, o Secretariado do Bureau Político do Comité Central do MPLA inclina-se perante a memória do malogrado, endereçando à família enlutada e ao povo português, sentidas condolências”, concluiu a nota do BP do MPLA.

Manuel Alegre: “Bastou o que ele fez nesse dia para entrar na história”

Manuel Alegre disse, em declarações à SIC Notícias, que a coordenação das operações do 25 de Abril chega para que Otelo Saraiva de Carvalho seja lembrado como um herói, sem mencionar as polémicas posteriores do capitão de Abril.

“Como resistente, como exilado, como ex-preso político e como português fiquei sempre grato ao Otelo por aquilo que ele fez no 25 de Abril. Coordenou o 25 de Abril. O Otelo é esse dia, o dia da liberdade, a que o Eduardo Lourenço chamou a liberdade feita dia. Bastou o que ele fez nesse dia para entrar na história e é isso que fica no nosso sentimento, que fica na minha memória e penso que, também, na de muitos portugueses que se reconhecem nesse dia e no 25 de Abril”, disse Alegre.

“Otelo nunca quis o poder e teve-o nas mãos”. A reação de Paulo Moura

Louçã diz que “o princípio da mudança tem o nome de Otelo”

O fundador do Bloco de Esquerda usou as redes sociais para publicar um comentário à morte de Otelo Saraiva de Carvalho onde defende que o militar “deve ser lembrado como foi, protagonista de um tempo histórico que ajudou a fazer”. Francisco Louçã destaca antes o papel de Otelo como “organizador militar do 25 de abril e participante determinante dos primeiros meses da revolução”.

A afirma que sei o que ficou conhecido como capitão de abril “a ditadura não teria sido então derrubada”. “Foi o princípio da mudança e esse princípio tem o nome de Otelo”, escreveu Louçã no facebook.

General Garcia dos Santos lembra capacidade de liderança de Otelo

O general Amadeu Garcia dos Santos, um dos militares que participaram na revolução do 25 de Abril ao lado de Otelo Saraiva de Carvalho, lembrou em declarações à RTP3 a capacidade de liderança do estratega da revolução.

“Conheci o Otelo ainda nos tempos da Escola do Exército. Ele era de uma arma diferente da minha, foi num período em que existiria pouco tempo depois a Guerra Colonial. Tivemos uma grande proximidade em termos profissionais durante esse período”, disse Garcia dos Santos, que mais tarde viria a integrar o Movimento das Forças Armadas.

A certa altura, quando se dá a decisão de que a ação do MFA tinha de ser o derrube do regime, sou contactado pelo Otelo pessoalmente no sentido de preparar em conjunto com ele a ordem das operações dessa operação. Assim foi. Ele contactou-me, na sequência daquilo que já tínhamos combinado, que já tinha sido tratado nas reuniões do MFA, e entrega-me um exemplar da ordem de operações, no sentido de eu preparar a parte de comunicações”, recordou o general.

“O Otelo Saraiva de Carvalho tinha uma grande capacidade de liderança. Tinha alguns defeitos, como é óbvio, nenhum de nós é perfeito, mas tinha uma capacidade de liderança muito grande. Essa terá sido a razão principal da escolha do MFA para líder da operação.”

Coronel Rodrigo de Sousa e Castro assinala “bom coração” de Otelo que permitiu revolução sem vítimas

Na SIC Notícias, o coronel Rodrigo de Sousa e Castro, o também capitão de Abril que foi porta-voz do Conselho da Revolução depois de 1974, lembrou o “bom coração” de Otelo Saraiva de Carvalho.

“Todos nós que lidámos com o Otelo estamos chocados, estamos tristes, de vermos desaparecer um camarada que muito para além de ter sido o comandante das operações militares, portanto o primeiro de entre todos nós, foi ele que efetivamente dinamizou e elaborou a ordem de operações. Ele foi a cabeça, o principal, que nos trouxe no fundo a liberdade a todos nós, incluindo a nós que participamos nas operações”, disse.

“Queria realçar a personalidade de Otelo. Era um homem bom. Nas reuniões conspirativas, ele sempre nos disse: ‘Façam tudo, mas evitem qualquer tipo de violência.’ Foi assim que o 25 de Abril chegou ao fim sem uma única vítima. Deve-se isso ao Otelo, àquele bom coração que partiu hoje. Que era nosso amigo, mesmo quando estivemos em trincheiras diferentes, até opostas, como no caso do 25 de Novembro, nunca nos desconsiderou, sempre foi amigo. É um dia muito triste para todos os capitães de Abril.”

Isabel do Carmo. Morte de Otelo “acaba com uma época e uma utopia”

A ativista política e médica Isabel do Carmo lamentou a morte de Otelo Saraiva de Carvalho, considerando que, com o desaparecimento do militar e estratego do 25 de Abril de 1974, “acaba também uma época e uma utopia”

“Esta manhã [ao saber da notícia da morte] senti uma coisa, senti que acabou, que, com [a morte de] este homem, acaba também uma época, uma utopia. Senti isso, emocionalmente. Senti a perda, o desaparecimento. Já não vai ser possível falar com ele”, afirmou Isabel do Carmo a agência Lusa.

Para a antiga dirigente do extinto do Partido Revolucionário do Proletariado (PRP), movimento que exerceu actividade clandestina através das suas Brigadas Revolucionárias (no PRP-BR), Otelo é, juntamente com Vasco Lourenço, “o dirigente do 25 de abril [de 1974], do Movimento dos Capitães e do derrube da ditadura”.

“Esse é o Otelo, que depois foi general. Na altura do 25 de Abril [de 1974] era capitão, que dirigiu o movimento militar — não foi um golpe militar – com Vasco Lourenço [que, na altura, estava preso nos Açores]”, sustentou.

“Tivemos mais de 40 anos de ditadura, tivemos uma resistência continuada contra a ditadura e contra o fascismo, repetida, desgastante, com muita repressão, mas foi preciso um movimento que fizesse mesmo uma rotura e que derrubasse a ditadura pela força. Tinha de ser pela força”, acrescentou.

Isabel do Carmo, médica de Endocrinologia, Diabetes e Nutrição e professora na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se licenciou e doutorou, lembrou a liderança de Otelo no Comando Operacional do Continente (COPCON) durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC).

“É, depois, aquele que afastou as chefias mais tradicionais e foi o chefe do COPCON e o COPCON, como movimento, foi quem apoiou os que estavam em baixo: os trabalhadores, as pessoas que estavam sem casa, as pessoas que estavam a ser exploradas nos campos. Esse é o Otelo. E é essa figura que preservo e que acho que o país deve preservar”, argumentou.

Para a História, prosseguiu, Otelo ficará como “o homem, entre outros”, do ’25 de abril’.

“Ficará para a História como o chefe, entre outros, que criaram um movimento que veio de baixo, não veio de cima, que derrubou a ditadura, que derrubou o fascismo em Portugal. Para mim, é esse que fica para a História. É o homem do 25 de Abril de 1974, entre outros.

Carlos Zorrinho: “A história julgará a sua coragem, o seu arrebatamento e os seus erros”

O eurodeputado socialista Carlos Zorrinho recordou, através do Twitter, Otelo Saraiva de Carvalho como “um forte símbolo de Abril”, sublinhndo que “a história julgará a sua coragem, o seu arrebatamento e os seus erros”.

José Gusmão diz que revolução “chega e sobra” para agradecer a Otelo

O eurodeputado José Gusmão, do Bloco de Esquerda, recordou Otelo de Saraiva de Carvalho sem mencionar as polémicas do pós-revolução. “Acordou o país para o ‘dia inicial’. Chega e sobre para o nosso mais profundo agradecimento”, escreveu Gusmão no Twitter.

Associação José Afonso vinca “grandes afinidades” entre Otelo e José Afonso

A Associação José Afonso (AJA) também já reagiu à morte de Otelo Saraiva de Carvalho, vincando que este tinha “grandes afinidades” com o músico e cantor de intervenção.

“Ambos partilharam valores onde primavam a liberdade e a solidariedade universais, como emanação da vontade e luta popular”, escreve a associação, na sua página na internet, em homenagem ao coronel que “colaborou com a AJA sempre que era solicitado, em conferências, debates e, especialmente, em escolas”, para “explicar como um grupo de homens arriscou tudo num só dia e derrotou o regime fascista”.

“Sem Otelo nada teria sido igual, nada teria sido possível”, assinala a Associação José Afonso, descrevendo-o como “grande estratega, corajoso, solidário e sonhador”.

https://www.facebook.com/AssociacaoJoseAfonso/photos/a.115115348503490/4878228482192129/

A AJA recorda ainda que Zeca Afonso apoiou a candidatura de Otelo à Presidência da República, em 1976 e 1980, e que, por sua vez, Otelo foi o sócio fundador nº2 da Associação.

“Morreu hoje, Otelo, também dia 25, como foi 25 o dia que o projetou no futuro e na história, como obreiro de um dos dias mais felizes das nossas vidas. Obrigada, Otelo!”, agradece a Associação José Afonso, partilhando uma fotografia que junta o músico e o coronel.