Com o início da comercialização dos veículos eléctricos, mais conectados, rapidamente os construtores começaram a explorar a capacidade de vender serviços e sistemas que pudessem ser activados online e a pedido do condutor. Mas a vontade de incrementar a facturação parece não ter limites, com as marcas a venderem soluções que, até aqui, eram gratuitas quando integradas no equipamento do veículo.

Vem isto a propósito da Mercedes, que se prepara para lançar no mercado o seu topo de gama eléctrico, o EQS, em relação ao qual já se conhecem duas versões, a mais acessível EQS 450+ e a mais potente e onerosa EQS 580 4Matic. Sabe-se agora que o topo de gama eléctrico alemão possui de série um sistema de quatro rodas direccionais, em que a baixa velocidade (até 60 km/h) as rodas posteriores podem virar até 4,5º em direcção contrária às da frente para facilitar as manobras em zonas mais apertadas, como as estradas muito sinuosas ou nos estacionamentos subterrâneos mais acanhados.

Para obter a desejada agilidade e conseguir inverter a marcha em cerca de 11 metros, o mesmo de um Renault Mégane RS, o EQS tinha de conseguir virar as rodas traseiras até 10º, o que a marca alemã disponibilizará, mas não de forma gratuita. O EQS possui de série um sistema de quatro rodas direccionais em que as traseiras viram até 4,5º, mas o construtor revelou agora que vai vender por 489€ por ano a possibilidade de as rodas traseiras virarem a 10º. E, para incentivar os clientes menos crentes no sistema, o construtor alemão está até na disposição de fazer um desconto a quem o adquira por períodos de três anos por 1169€, ou seja, menos 298€ do que o preço normal.

Os sistemas de quatro rodas direccionais não são uma novidade, pelo menos na Europa, desde que a Honda o introduziu no Prelude. Mais recentemente, a Renault melhorou a manobrabilidade dos seus Laguna Coupé e Mégane RS recorrendo à direcção também nas rodas traseiras, tudo para que estas virassem 3,5º e 2,7º, respectivamente, de forma a garantir uma inversão de marcha em apenas 10,8 metros, a mesma de um Renault Clio. E sem custos adicionais, muito menos anuais.

A Mercedes, que produz o Classe S e o eléctrico EQS sobre a mesma plataforma e na mesma linha de montagem, vende o S com as quatro rodas direccionais traseiras limitadas a 4,5º e propõe aos clientes a versão com 10º por mais 1550€, de forma a garantir o círculo de viragem de 10,9 metros, ligeiramente menos do que o Classe A (11,0 m). Mas os clientes do EQS só podem usufruir dos 10º se pagarem 489€/ano, ou seja, em três anos gastarão praticamente o mesmo que os clientes do Classe S pagam para beneficiar da mesma agilidade até ao fim da vida do veículo. E, ao fim desses três anos, têm de continuar a custear esse “extra”.  Nem vale a pena alegar que o dinheiro não é importante para este tipo de clientes pois, se assim fosse, a Mercedes não tinha criado o desconto de 298€ para as compras em triénios.

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