Enviado especial do Observador, em Tóquio

Os gigantes não se medem aos palmos. Podem ter até 1,42 metros. Porque só mesmo um gigante com um corpo tão delicado e franzino conseguia mostrar a força de terminar uma era quando podia ser sua para dar início a uma era que será garantidamente de todos e todas. Simone Biles anunciou esta quarta-feira a desistência da final do concurso de all-around, onde era de longe a grande favorita à vitória, deixando em aberto a possibilidade de ir ainda a alguma das decisões nos aparelhos. Mais do que isso, fez ecoar de forma mais latente o que as palavras marcantes que teve na véspera queriam dizer. Tudo tem um limite e quando o limite da maior campeã de sempre é abdicar do seu título pela sua saúde física e mental, há limites que começam a ter de ser discutidos.

Simone Biles e a saúde mental dos atletas. É possível sobreviver à pressão de ser a “melhor de todos os tempos”?

“Depois de uma avaliação média mais exaustiva, Simone Biles foi colocada de fora da final individual do all-around. Apoiamos de coração cheio a decisão da Simone e aplaudimos a sua coragem em colocar a prioridade no seu bem estar. A sua coragem mostra, mais uma vez, o porquê de ser um modelo para tantos”, anunciou através de um comunicado oficial a USA Gymnastics, dando início a um sem número de reações que nesta altura estão apenas circunscritas ao apoio manifestado à atleta, como tinha acontecido na véspera com grandes nomes do desporto dos EUA como Michael Phelps, também ele um campeão que se debateu com os mesmos problemas.

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“Os Jogos Olímpicos são avassaladores, existem demasiadas emoções envolvidas. Isto partiu-me o coração. Mas, se virmos bem, a questão da saúde mental é algo que toda a gente fala nos últimos 18 meses. Nós todos somos humanos, certo? Nós somos seres humanos. Ninguém é perfeito e por isso sim, é OK alguém não estar OK. É OK passar por autênticas montanhas russas de emoções. Mas continuo a achar que o aspeto principal aqui é que às vezes temos de pedir ajuda a alguém quando atravessamos essas fases. Para mim, posso dizer pessoalmente que foi um grande desafio. É difícil pedir ajuda. Senti, como disse a Simone, que estava a carregar o peso do mundo nos meus ombros. É uma situação complicada”, comentou o antigo nadador em declarações à NBC.

“Todos nós precisamos de alguém em quem confiar. Alguém que nos deixe ser nós mesmos e nos ouça, que nos permita ser vulneráveis. Alguém que não nos está apenas a testar ou tentar arranjar. Nós carregamos uma série de coisas, um peso enorme nos nossos ombros, e é um desafio, especialmente quando temos as luzes em cima de nós e quando todas as expetativas nos são atiradas para cima. Espero que seja uma oportunidade para irmos para essa discussão da saúde mental de forma mais aberta. É muito maior do que se possa imaginar. Se não estivermos a tomar conta da nossa saúde física ou mental, como poderemos estar a 100% para corresponder a todas as expetativas que nos criam à nossa volta”, acrescentou ainda o atleta com mais medalhas olímpicas.

Em atualização