É uma espécie de último aviso. Nuno Magalhães, antigo líder parlamentar do CDS, não gostou de ser colocado em causa na última reunião da Comissão Política Nacional (CPN) — órgão do partido onde não tem sequer assento — e decidiu quebrar o silêncio: numa altura em que o partido devia estar concentrado na luta pelas autárquicas, a direção está mais interessada em “insultar ex-dirigentes que não se podem defender”, queixa-se. O desfecho, antecipa Magalhães, será inevitavelmente desastroso.

Em declarações ao Observador, Nuno Magalhães contesta o rumo escolhido pela atual direção e critica, sobretudo, o que considera ser o despudor que a equipa de Francisco Rodrigues dos Santos revela quando não hesita em atacar antigos dirigentes do partido ausentes e, por isso, impossibilitados de fazerem a sua defesa.

“Perante o beneplácito da direção do partido, um dirigente da CPN teve o despautério de insinuar que um ex-dirigente do CDS como eu, que deu o seu melhor durante 20 anos, não estava empenhado nas autárquicas. Um partido que usa órgãos internos para insultar ex-dirigentes dificilmente terá futuro. Por muito jovem e moderninho que possa crer parecer ou ser”, critica o democrata-cristão.

Melo ‘chumba’ acordo em Lisboa e denuncia “saneamento” de Cristas e Gonçalves Pereira

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A última reunião da CPN do CDS, esta terça-feira, ficou marcada pela dura troca de acusações entre a linha oficial do partido e dirigentes que são críticos de Francisco Rodrigues dos Santos, como Nuno Melo e Telmo Correia. O motivo foi a exclusão de João Gonçalves Pereira, líder da distrital e vereador em Lisboa, da coligação que vai tentar derrotar Fernando Medina. Pelo meio, dirigentes houve que questionaram o empenho de Nuno Magalhães nos próximos desafios autárquicos. E foi isso que levou o democrata-cristão a vir a público fazer esta defesa da honra.

Estarei empenhado naquilo que posso e naquilo que me foi pedido“, assegura Nuno Magalhães, queixando-se, precisamente, de não estar mais envolvido por manifesta vontade da direção do partido e, sobretudo, das estruturas locais do CDS em Setúbal.

“Fui convidado para estar presente na apresentação do candidato a Almada, mas não pude estar presentar. Estarei presente na apresentação do candidato de Alcochete. E serei um candidato discreto no concelho de Alcácer do Sal”, faz questão de sublinhar o antigo líder parlamentar.

Magalhães abençoa Melo

Num momento em que começa a ganhar força uma eventual candidatura de Nuno Melo à liderança do CDS, Magalhães não esconde a simpatia que tem pelo eurodeputado democrata-cristão.

Nuno Melo dará um bom presidente do partido, caso queira, caso os militantes assim o desejem, e caso assim aconteça depois das eleições autárquicas”, argumenta o antigo líder parlamentar do partido.

De resto, esta quinta-feira ficou marcada pelo conflito (ainda mais) aberto entre as duas linhas do partido. Adolfo Mesquita Nunes, João Almeida e Pedro Mota Soares, por exemplo, aproveitaram a exclusão de João Gonçalves Pereira das listas a Lisboa para acusar a atual direção de empobrecer deliberadamente o partido, de “sanear” críticos e de conduzir uma “vingança cobarde“.

Mesquita Nunes, João Almeida e Mota Soares atacam direção do CDS. “Saneamento” e “vingança cobarde”