O Ministério da Economia disse na segunda-feira que as dificuldades da Dielmar são anteriores à Covid-19 e que os apoios de milhões de euros recebidos pela empresa têxtil pressupunham medidas de restruturação que a administração não completou.

A Dielmar debate-se, “há vários anos, com graves problemas financeiros, apresentando muitas dificuldades a nível comercial e registando quebras significativas do seu volume de vendas. Esta situação é anterior à crise provocada pela pandemia da doença covid-19, tendo-se prolongado pelos últimos 10 anos”, refere o Ministério da Economia em comunicado enviado à Lusa.

De acordo com a tutela, durante uma década, várias entidades públicas injetaram cerca de cinco milhões de euros na empresa, tendo ainda garantido mais três milhões de euros de dívida, que pressupunham “a realização de um conjunto de medidas necessárias à reestruturação, sendo que a maioria destas medidas não foram aplicadas pela administração da Dielmar“.

Dielmar “não tem salvação”, mas Estado quer encontrar uma solução para os trabalhadores

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Acompanhando a situação da empresa há vários anos, o Governo lembra que a Dielmar regista uma dívida à banca de cerca de 6,142 milhões de euros, tendo registado, em novembro do ano passado, uma dívida a fornecedores de cerca de 2,5 milhões de euros e à Segurança Social, em mais de 1,7 milhões de euros.

“O Estado, através do Fundo Autónomo de Apoio à Concentração e Consolidação Empresarial (FACCE) e o Fundo Imobiliário Especial de Apoio às Empresas (FIEAE) […] já aportaram à Dielmar, sob a forma de capital, suprimentos e ‘leasing’ imobiliário, um montante de 2.700.000,00 euros através do FACCE, entre 2011 e 2013, e outro de 2.500.000,00 euros através do FIEAE, em 2017. Além dos apoios referidos, a Dielmar tem garantias da Garval – Sociedade de Garantia Mútua, S. A., que integra o grupo do Banco Português de Fomento, no valor de 1.775.000,00 euros”, pode ler-se.

O Ministério da Economia explica que, a partir de 2016, foi decidida a restruturação do passivo financeiro com os bancos e o acionista FACCE, e pelo aporte de outros apoios através do FIEAE, numa operação de sale and lease back das instalações, em 2.500.000 euros.

“Estes fundos tiveram como aplicação a amortização de empréstimos bancários e a regularização de saldos de fornecedores. Uma vez que grande parte das medidas identificadas como necessárias à restruturação da Dielmar não foram aplicadas pela administração da empresa, o FACCE, no âmbito da reestruturação dos suprimentos realizados, voltou a solicitar contratualmente a alienação de ativos imobiliários, que a administração da empresa nunca concretizou“, é referido.

Em 2018, segundo o Governo, foi nomeado um consultor para apoiar a administração e as direções na implementação de medidas tendentes ao turnaround e eliminação de situação de cash burn, embora várias divergências tenham levado à saída de quadros superiores.

“Em 2020, e tendo por base a avaliação da administração da Dielmar realizada pelo consultor dos fundos públicos, foram consideradas esgotadas todas as possibilidades de reestruturar a empresa – ou até mesmo assegurar a sua transição, total ou parcial – e o FACCE deliberou, e exerceu em abril de 2020, a opção de venda tendente ao desinvestimento na Dielmar, ao abrigo do Acordo Parassocial, pelo montante de 3.280.603,84 euros (valor calculado em função da regra estabelecida no Acordo Parassocial)”, acrescenta.

O Governo realça que, desde a entrada do FACCE no capital da empresa, a Dielmar nunca apresentou resultados líquidos positivos, recordando que foi equacionada a entrada de um novo investidor privado.

A grave situação financeira da empresa e o elevado montante de investimento que seria necessário afastaram esses investidores. A Dielmar, recorde-se, apresenta resultados negativos desde há vários anos”, sustenta.

Na segunda-feira, o Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, disse que a Dielmar “não tem salvação” e indicou que o Estado não tenciona investir mais dinheiro na empresa de vestuário, mas está empenhado em assegurar “novos destinos” para os trabalhadores.

“Mais de oito milhões de euros públicos já estão a apoiar a empresa e, portanto, não vale a pena meter dinheiro bom, dinheiro fresco, em cima de uma empresa que, neste momento, não tem salvação”, declarou o governante, em conferência de imprensa no Aeroporto da Madeira, pouco antes de deixar a região. Siza Vieira realçou que o executivo está empenhado em assegurar “novos destinos” para os ativos da empresa, nomeadamente para os cerca de 300 trabalhadores.