Enviado especial do Observador, em Tóquio
Foi preciso chegar Henrik von Eckermann e o seu King Edward para se assistir ao primeiro percurso livre de penalizações na final da prova de obstáculos. Era o sétimo da prova decisiva e, até aí, apenas o irlandês Cian O’Connor com Kilkenny (que terminou a prova a sangrar de forma visível) não tinha derrubado nenhum obstáculo, sofrendo apenas uma penalização por ter excedido o tempo máximo definido. No entanto, vendo as penalizações averbadas, nem uma foi no obstáculo 3. Outro pormenor: na sua zona, apenas o obstáculo 5 chegou a ser derrubado em duas ocasiões a esse momento. Estava desfeito o caso do lutador de sumo.
6 things you need to know about today’s Olympic showjumping individual qualifier: Killer Queens, sumo wrestlers and shock results https://t.co/d0NPVfKVrD pic.twitter.com/VHshGoOmmU
— Horse & Hound (@horseandhound) August 3, 2021
Como tinha sido contado numa reportagem da Associated Press, alguns cavalos pareciam assustar-se com a estátua de um lutador de sumo que se encontrava no obstáculo 10 do percurso. Expliquemos: ao longo do campo de saltos, os vários obstáculos estão decorados com várias alusões à cultura japonesa. Há paisagens de campo, flores, a imagem de uma gueixa, templos antigos, o inevitável saké, uns vasos. Até aqui, tudo certo. O problema mesmo era a tal imagem que ainda por cima não era tão pequena como isso e que, de acordo com alguns dos atletas, teve capacidade para deixar os cavalos mais agitados no decorrer das provas.
Esta quarta-feira à noite, na final realizada no mesmo Equestrian Park onde Portugal já tinha ganho um diploma pelo oitavo lugar no concurso de dressage, o tal lutador de sumo foi colocado no obstáculo número 3 e meio de lado, para não chatear ninguém, e não houve qualquer derrube dessa barreira. O mais próximo de haver alguma relação causa-efeito foi mesmo a passagem do belga Niels Bruynseels com Deliux Van T, que a seguir essa terceira barreira evitou ir à quarta por duas vezes e acabou mesmo por desistir.
It's another equestrian gold for @TeamGB!
Ben Maher wins the #gold in the individual #EquestrianJumping event!#StrongerTogether | @Tokyo2020 | @FEI_Global pic.twitter.com/oEnzX3wpSv
— The Olympic Games (@Olympics) August 4, 2021
“Conforme se dá a volta, vê-se um tipo grande”, referiu Harry Charles à Associated Press. “Há muito para onde olhar…”, referiu Cian O’Connor. “A estátua é… muito realista”, lamentou o eliminado Teddy Vlock. Os pedidos foram ouvidos, o lutador de sumo mudou de posição e de obstáculo e a final decorreu sem esse tipo de problemas, com aquela sorte e azar que em competições tão disputadas acaba sempre por pesar. Neste caso, para os mais supersticiosos, foi o número 13 e as flores de cerejeira que impediram Luciana Diniz, que participou pela quarta vez nos Jogos (terceira por Portugal), de lutar por uma medalha de ouro.
Luciana Diniz 10.ª classificada na final olímpica de Saltos de obstáculos. Saiba mais na app da #EquipaPortugal #LetsGoPortugal pic.twitter.com/Fw3h5UDo21
— Comité Olímpico de Portugal (COP) (@COPPORTUGAL) August 4, 2021
Entrando como a 23.ª entre 30 finalistas, a luso-brasileira teve um percurso praticamente imaculado até que, no penúltimo obstáculo, acabou por derrubar o obstáculo que lhe valeu os quatro pontos de penalização e o fim do sonho da conquista de uma medalha, sendo que nessa fase acabou o percurso com o melhor tempo de todos (84,69). Entre os seis cavaleiros que não tiveram penalizações, dois que excederam o tempo e Gregory Wathelet que foi mais rápido, Luciana Diniz, com Vertigo du Desert, terminou na 10.ª posição, depois de ser 25.ª em Atenas pelo Brasil, 17.ª em Londres-2012 e nona no Rio de Janeiro-2016.
Com a mudança das regras, a final seria depois decidida num jump-off entre os seis sem penalizações (aqui não interessava o tempo), acabando a vitória por sorrir ao britânico Ben Maher, com Explosion W, que tinha sido o terceiro melhor tempo entre os não penalizados na primeira fase. A medalha de prata ficou para o sueco Peter Fredricson, com All In, e o bronze foi para o holandês Maikel van der Vleuten, com Beauville Z.