Enviado especial do Observador, em Tóquio

Foi preciso chegar Henrik von Eckermann e o seu King Edward para se assistir ao primeiro percurso livre de penalizações na final da prova de obstáculos. Era o sétimo da prova decisiva e, até aí, apenas o irlandês Cian O’Connor com Kilkenny (que terminou a prova a sangrar de forma visível) não tinha derrubado nenhum obstáculo, sofrendo apenas uma penalização por ter excedido o tempo máximo definido. No entanto, vendo as penalizações averbadas, nem uma foi no obstáculo 3. Outro pormenor: na sua zona, apenas o obstáculo 5 chegou a ser derrubado em duas ocasiões a esse momento. Estava desfeito o caso do lutador de sumo.

Como tinha sido contado numa reportagem da Associated Press, alguns cavalos pareciam assustar-se com a estátua de um lutador de sumo que se encontrava no obstáculo 10 do percurso. Expliquemos: ao longo do campo de saltos, os vários obstáculos estão decorados com várias alusões à cultura japonesa. Há paisagens de campo, flores, a imagem de uma gueixa, templos antigos, o inevitável saké, uns vasos. Até aqui, tudo certo. O problema mesmo era a tal imagem que ainda por cima não era tão pequena como isso e que, de acordo com alguns dos atletas, teve capacidade para deixar os cavalos mais agitados no decorrer das provas.

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Esta quarta-feira à noite, na final realizada no mesmo Equestrian Park onde Portugal já tinha ganho um diploma pelo oitavo lugar no concurso de dressage, o tal lutador de sumo foi colocado no obstáculo número 3 e meio de lado, para não chatear ninguém, e não houve qualquer derrube dessa barreira. O mais próximo de haver alguma relação causa-efeito foi mesmo a passagem do belga Niels Bruynseels com Deliux Van T, que a seguir essa terceira barreira evitou ir à quarta por duas vezes e acabou mesmo por desistir.

“Conforme se dá a volta, vê-se um tipo grande”, referiu Harry Charles à Associated Press. “Há muito para onde olhar…”, referiu Cian O’Connor. “A estátua é… muito realista”, lamentou o eliminado Teddy Vlock. Os pedidos foram ouvidos, o lutador de sumo mudou de posição e de obstáculo e a final decorreu sem esse tipo de problemas, com aquela sorte e azar que em competições tão disputadas acaba sempre por pesar. Neste caso, para os mais supersticiosos, foi o número 13 e as flores de cerejeira que impediram Luciana Diniz, que participou pela quarta vez nos Jogos (terceira por Portugal), de lutar por uma medalha de ouro.

Entrando como a 23.ª entre 30 finalistas, a luso-brasileira teve um percurso praticamente imaculado até que, no penúltimo obstáculo, acabou por derrubar o obstáculo que lhe valeu os quatro pontos de penalização e o fim do sonho da conquista de uma medalha, sendo que nessa fase acabou o percurso com o melhor tempo de todos (84,69). Entre os seis cavaleiros que não tiveram penalizações, dois que excederam o tempo e Gregory Wathelet que foi mais rápido, Luciana Diniz, com Vertigo du Desert, terminou na 10.ª posição, depois de ser 25.ª em Atenas pelo Brasil, 17.ª em Londres-2012 e nona no Rio de Janeiro-2016.

Com a mudança das regras, a final seria depois decidida num jump-off entre os seis sem penalizações (aqui não interessava o tempo), acabando a vitória por sorrir ao britânico Ben Maher, com Explosion W, que tinha sido o terceiro melhor tempo entre os não penalizados na primeira fase. A medalha de prata ficou para o sueco Peter Fredricson, com All In, e o bronze foi para o holandês Maikel van der Vleuten, com Beauville Z.