A Grécia e a Turquia continuavam esta quinta-feira assolados por numerosos incêndios em várias regiões dos respetivos países, agravados por uma vaga de calor sem precedentes e com a União Europeia (UE) a anunciar o envio de mais apoio.
Nos dois países vizinhos, dezenas de incêndios florestais implicaram a evacuação de centenas de localidades ameaçadas pelas chamas.
Ao som dos alarmes de evacuação, os habitantes de muitas localidades do sul e leste da Turquia têm empilhado os seus poucos pertences e retirados por mar em embarcações dos guardas-costeiros turcos mobilizados no porto de Oren, sul do país. Outros foram conduzidos por via terrestre.
Nas proximidades, a central térmica de Milas, que armazena milhares de toneladas de carvão, tem suscitado apreensões, ao permanecer ameaçada por um fogo virulento atiçado pelo vento.
Esta quinta-feira, a autoridade regional indicou que “todas os produtos químicos explosivos” foram retirados deste complexo estratégico.
Uma inspeção inicial revelou que o fogo, que se aproximou da central durante a noite, não provocou “danos sérios nas unidades principais” indicou o gabinete do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan.
Dou outro lado do mar Egeu, a Grécia também permanece confrontada com incêndios que os peritos relacionam sem equívoco ao aquecimento do planeta, com temperaturas que têm oscilado entre os 40 e os 50 graus.
“Se alguns ainda questionam sobre a realidade do aquecimento global, que venham ver aqui a intensidade desse fenómeno“, declarou o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis na cidade de Olímpia, no oeste do Peloponeso, e onde deflagrou um preocupante incêndio.
Os bombeiros esforçavam-se esta quinta-feira de proteger a zona arqueológica envolvente, onde decorreram os primeiros jogos olímpicos da antiguidade.
A cidade da Antiga Olímpia, habitualmente repleta de turistas nesta estação, e outras sete localidades das imediações foram evacuadas na quarta-feira.
“Efetuamos um esforço titânico em diversas frentes“, declarou na quarta-feira o ministro-adjunto grego da Proteção civil, Nikos Hardalias, citado pela agência noticiosa AFP.
A capital Atenas também permanecia envolta por espessos fumos devido a um incêndio que se reativou, enquanto era determinado um inquérito para detetar a sua origem.
A 200 quilómetros da capital, um outro fogo incontrolado continua a consumir floresta e vegetação na ilha de Eubeia, onde diversas povoações e um mosteiro estavam cercados pelas chamas, e já com as populações retiradas para locais mais seguros.
Pelo menos oito pessoas morreram e dezenas foram hospitalizadas nos incêndios que têm flagelado o sul da Turquia. Na Grécia, apenas têm sido registados feridos ligeiros.
Nas últimas 24 horas, mais de 110 incêndios assolaram as florestas da Grécia e 180 na Turquia desde o final de julho.
Segundo o Copernicus, o Observatório da Terra da UE, o mês de julho foi o segundo mais quente jamais registado na Europa.
“Estamos numa fase de desregulação climática absoluta“, lamentou esta semana o vice-ministro da Proteção civil, Nikos Hardalias. Nesta situação, “já não falamos de alteração climática, mas de ameaça climática”, acrescentou o membro do Governo conservador grego.
Por sua vez, o ministro turco da Agricultura, Bekir Pakdemirli, optou por alertar para uma situação “de guerra”.
Nos dois países, as autoridades locais têm enfrentado a pressão das populações locais, que consideram insuficientes os meios de combate aos incêndios.
“Apelamos às autoridades para reforçarem as forças aéreas e terrestres para que não se ponha em risco vidas humanas”, declarou o responsável municipal de Limni, na iha de Eubeia.
Na Turquia, a opinião pública criticou o Presidente Erdogan por não ter mantido a frota de aviões cisterna e por ter prolongado a aceitação de ajuda internacional.
Erdogan acusou por sua vez a oposição de tentar extrair um benefício político da situação. “Os fogos florestais são uma ameaça internacional semelhante à pandemia de Covid-19“, argumentou.
No sul da Turquia, a minoria curda também tem sido alvo de uma série de ataques racistas, alimentados pelos rumores sobre o seu envolvimento nos incêndios, sugeridos pelo próprio Erdogan. O Partido Democrático dos Povos (HDP, um partido de esquerda pró-curdo), está inclusive ameaçado de ilegalização.
Perante a prevalência dos fogos, a Comissão Europeia anunciou esta quinta-feira que a Suécia, França Áustria e Bulgária vão aumentar o apoio da UE para ajudar a extinguir os fogos na Grécia, e ainda da vizinha Macedónia do Norte.
“A UE está a enviar meios de extinção de incêndios adicionais para a Grécia e Macedónia do Norte para apoiar a resposta local”, indicou na rede social Twitter o comissário europeu da Gestão de crises, Janez Lenarcic.
Na quarta-feira, Bruxelas anunciou que aviões de Chipre estavam a prestar apoio à Grécia, para além de uma equipa de bombeiros. Indicou igualmente que a Eslovénia iria enviar uma equipa de 45 bombeiros para a Macedónia do Norte.
O Mecanismo de proteção civil da UE está destinado a reforçar a cooperação entre os Estados-membros da União e outros seis países participantes, no âmbito da proteção civil com o objetivo de melhorar a prevenção, preparação e resposta perante catástrofes.