A lista liderada por Ricardo Baptista Leite à Câmara Municipal de Sintra só foi aprovada pelas estruturas à terceira tentativa. A reunião aconteceu no passado domingo, um dia antes da data limite para a entrega das listas para as eleições autárquicas, e fez tremer a concelhia de Sintra, que tinha as listas fechadas e que teria de alterá-las caso a aprovação da distrital não acabasse por acontecer.
Oficialmente batizada como “Vamos Curar Sintra”, uma coligação entre PSD, CDS, Aliança, MPT, PDR, PPM e RIR, tem Baptista Leite como candidato à presidência de autarquia e António Capucho como cabeça de lista à Assembleia Municipal.
No entanto, a candidatura de Baptista Leite não convenceu uma parte da estrutura do partido, há muito tomada por guerras fratricidas e jogos de poder. Este foi apenas mais um sinal: a lista de Baptista Leite acabou por ser aprovada apenas à terceira tentativa e com muita tensão à mistura.
Em declarações ao Observador, Baptista Leite desvaloriza. “A transversalidade da candidatura, por si só, pode causar desconforto em alguns elementos das estruturas partidárias dos partidos políticos”.
Mesmo garantido que este tropeção “não tem qualquer impacto no processo da candidatura”, uma vez que as listas acabaram por ser aprovadas, o candidato social-democrata deixa um aviso: não hesitará em fazer frente aos “interesses” instalados.
“Se o momento chegar, entre escolher os interesses dos partidos políticos, ou os interesses das pessoas de Sintra, optarei sempre por defender os interesses das pessoas de Sintra”, assegura numa resposta por escrito.
“Situação ridícula”
Ana Sofia Bettencourt, presidente da concelhia do PSD em Sintra, considera que a aprovação apenas acontecer à terceira é “ridículo” a atira-se à estrutura da capital, liderada por Ângelo Pereira.
“Isto revela bem o nível político que a distrital de Lisboa tem e a falta de visão do que é a importância para o PSD das candidaturas autárquicas num momento muito importante para a afirmação dos seus territórios”, diz.
Apesar de admitir estar “triste” com o sucedido, Ana Sofia Bettencourt justifica que estavam apenas 15 pessoas na reunião, “não estava a distrital toda” e “nem sequer havia uma representatividade por aí além” para se aprovarem as listas em causa.
Recorde-se que Baptista Leite não foi a primeira escolha da direção do partido, nem tão pouco das estruturas locais do PSD. O plano inicial da direção de Rui Rio era lançar Pedro Santana Lopes para a corrida e escolher Marco Almeida como número dois.
O primeiro rejeitou por não se querer meter na luta de gatos que é o PSD em Sintra e o segundo não perdoou a Rio a desfeita — candidato em 2013 e 2017, tinha a garantia de que teria a bênção para avançar; assim não aconteceu.
As estruturas do partido também tentaram condicionar o processo desde o início. A concelhia de Sintra, há muito em rota de colisão com Marco Almeida e insatisfeita com a teórica solução “Santana Lopes”, chegou a aprovar o nome de António Pinto Pereira, professor no ISCSP, como candidato à Câmara. A sugestão caiu em saco roto.
Baptista Leite, que foi apontando com insistência como candidato à Câmara de Lisboa caso Carlos Moedas roesse a corda, surge como candidato neste contexto. Além de uma candidatura difícil — em teoria, Basílio Horta conseguirá a reeleição sem grande dificuldade –, o deputado e médico infecciologista terá ainda de tentar colar os cacos do que resta do aparelho do partido. Resta saber se consegue.