A comercialização do Toyota Mirai já tem barbas. Trata-se do primeiro veículo eléctrico vendido em números significativos em que a energia não é armazenada em bateria, mas sim produzida a bordo por um conjunto de células de combustível, ou fuel cells, a hidrogénio. Esta é uma tecnologia complexa, muito delicada e dispendiosa, em que só a Toyota e a Hyundai investiram seriamente. Ambos os construtores (japonês e sul-coreano, respectivamente) são, curiosamente, representados no nosso país pela Salvador Caetano.

O primeiro Mirai, que chegou em 2016 à Europa, foi uma lufada de ar fresco. Tinha um motor eléctrico de 154 cv que era capaz de atingir 178 km/h (e 0-100 km/h em 9,6 segundos) e que, graças ao depósito com 4,6 kg de hidrogénio, anunciava um consumo homologado de 0,760 kg/100 km, o que deixava antever uma autonomia teórica de 605 km. Uma vantagem notável face aos modelos a bateria, uma vez que os 4,6 kg de hidrogénio necessitam de somente 5 minutos para passar da bomba para os depósitos do carro japonês, como se estivéssemos a abastecer de gasolina ou gasóleo.

Hidrogénio: prepare-se para ser surpreendido

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Em 2021, a Toyota introduziu no mercado a segunda geração do Mirai, mais atraente e com aspecto mais imponente, fruto de ser 8,5 cm mais comprido, 7 cm mais largo, 14 cm maior entre eixos e 5,5 cm mais baixo. 125 kg mais pesado, o novo Mirai monta a 3ª geração das fuel cells japonesas, mais eficientes e mais baratas. Com um motor de 182 cv e tanques capazes de armazenar 5,6 kg de hidrogénio, reivindica consumos de homologação europeia de 0,790 kg/100 km, o que aponta, teoricamente, para uma autonomia entre recargas superior a 708 km.

Toyota não espera mais e avança com Mirai a fuel cell de hidrogénio

Em Portugal, a primeira geração do Mirai nunca esteve disponível, tanto mais que não há possibilidade de recarregar os tanques com hidrogénio. Mas, nesta segunda geração, eis que finalmente a Salvador Caetano se impôs e trouxe as primeiras unidades para o nosso país. Ainda não há postos de carga, mas as directrizes europeias a isso obrigam o Governo português – por decisão de Bruxelas, todos os países membros da União Europeia têm de incrementar drasticamente a rede de postos de carga para veículos eléctricos a bateria, bem como para modelos alimentados a fuel cell. Sendo que a Toyota já fabrica em Portugal autocarros eléctricos a célula de combustível a hidrogénio (em Gaia, pela Caetano Bus), veículos que têm de ser recarregados a partir de garrafas pressurizadas, como se estivéssemos num país do terceiro mundo.

4,5 milhões para abastecer de hidrogénio em Cascais? E é barato

Além dos autocarros equipados com as mesmas fuel cells do Mirai, há uma série de veículos comerciais que rapidamente chegarão a Portugal com esta tecnologia, pelo que é urgente que os postos de fornecimento de hidrogénio estejam disponíveis. Cascais está a desenvolver a sua própria estação para abastecer os autocarros eléctricos a hidrogénio que vão circular em breve na vila.

Para já, são apenas duas as unidades do Mirai matriculadas e vendidas no nosso país, com Portugal a juntar-se assim a 12 outros países europeus que comercializam o modelo. Resta agora aguardar que surjam os primeiros postos para abastecimento, tendo presente que até há fornecedores nacionais que produzem o equipamento (de fabrico de hidrogénio verde e com 100% de pureza, como é necessário para as fuel cells) e o exportam para outros países.