Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais (CMC), revelou hoje que este concelho será o primeiro do país a apostar decididamente em veículos pesados eléctricos, capazes de produzir a bordo a electricidade de que necessitam através de células de combustível a hidrogénio. Este ano será a vez dos autocarros, para em 2022 surgir um projecto-piloto para camiões do lixo, sendo que para os abastecer será necessário um posto de abastecimento, a construir na Abuxarda, cujo concurso público já foi lançado e que terá um custo próximo dos 4,5 milhões de euros. Um valor elevado, mas que os técnicos da autarquia acreditam que se poderá tornar vantajoso para o orçamento e para o ambiente.

Os autocarros chegaram primeiro, com duas unidades inicialmente, a que se juntarão depois outras oito, veículos que serão fabricados pela Caetano Bus, uma empresa da Salvador Caetano, o representante da Toyota em Portugal. Estes autocarros, alimentados por uma fuel cell a hidrogénio com 66 kW (cerca de 90 cv), recorrendo a uma bateria com uma capacidade de 44 kWh para assegurar os picos de potência, são em tudo idênticos aos que a Caetano Bus já forneceu a países como a Alemanha, França e Arábia Saudita. Portugal estava até agora fora desta lista por o Governo não ter assegurado a construção de qualquer posto de abastecimento de hidrogénio.

Estes autocarros a fuel cell que Cascais está a adquirir diferem pouco das versões 100% eléctricas que a Caetano Bus também fabrica e das quais já há algumas unidades a circular em Portugal. Só que em vez de armazenar a energia de que necessitam para se deslocar em grandes baterias, com 420 kWh de capacidade – que garantem 300 km de autonomia, mas necessitam de várias horas para recarregar -, os autocarros a fuel cell abastecem em 10 minutos os 37,5 kg de hidrogénio de que precisam (cerca de 1600 litros) para percorrer até 600 km. De caminho pesam menos uma tonelada, devido às baterias, com o preço do autocarro eléctrico a rondar 420.000€ e o mesmo modelo a fuel cell a atingir 580.000€.

4,5 milhões de euros é muito. Mas pode ser pouco

Um posto de abastecimento de hidrogénio é consideravelmente mais dispendioso do que os habituais a gasolina, sobretudo porque inclui a produção do gás no local a partir de energia verde, sendo depois necessário comprimi-lo (a 350 bar para os veículos pesados e 700 bar para os ligeiros) e refrigerá-lo, para garantir abastecimentos mais rápidos, de 3 minutos para automóveis e 10 minutos para autocarros.

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O posto que Cascais tem projectado para a Abuxarda (com acesso à A5 e à A16) e para o qual abriu um concurso público internacional (há empresas portuguesas a concorrer, segundo responsáveis da autarquia), tem uma capacidade de um megawatt, o que deverá garantir a produção de um pouco menos de 20 kg de hidrogénio puro (a 99,99%) por hora. Estes 480 kg/dia de H2 podem assegurar a circulação à frota esperada de 10 autocarros e até aos camiões de lixo que deverão chegar em 2022, além de automóveis privados, como os Toyota Mirai e Hyundai Nexo.

O projecto do camião de lixo vai ter como base um camião eléctrico, adaptado para trocar uma fatia importante das baterias por uma fuel cell a hidrogénio. De acordo com os responsáveis da CMC, é impossível recolher os resíduos urbanos com um veículo exclusivamente a bateria, uma vez que os hidráulicos que são necessários consomem demasiada energia. A produção de electricidade a bordo a partir de hidrogénio surge como uma boa opção, não só por ser viável tecnicamente, como por permitir reduzir a factura em combustível dos 50 camiões de lixo que servem os 214.000 habitantes do concelho. Anualmente, essa recolha custa 1 milhão de euros à autarquia, só em gasóleo.

O município assegura que os custos com a implementação do hidrogénio em Cascais serão suportados por concessão de activos imobiliários da empresa que detém o posto – Cascais Próxima – passando pela eventual concessão do próprio posto, pelo que não serão suportados pelos munícipes. Com o hidrogénio a ser comercializado entre 8 e 10 euros o quilograma por essa Europa fora, esta é uma via em que a CMC aposta para contribuir para a descarbonização dos transportes, mas também para baixar, no futuro, parte dos custos em combustível com a frota de veículos pesados camarários.

A futura estação da Abuxarda vai poder abastecer também automóveis ligeiros e veículos comerciais de distribuição que operem na região. De recordar que a Stellantis e a Renault já anunciaram furgões comerciais a fuel cell.