A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou esta terça-feira para as dificuldades em abastecer o Afeganistão de material médico e avisou que só tem recursos para uma semana, num momento em que as necessidades médicas aumentam no país.

“Neste momento, a OMS só tem recursos suficientes no país para uma semana”, afirmou o diretor regional da organização para a zona do Mediterrâneo Oriental, Ahmed al Mandhari, numa conferência de imprensa em formato virtual dedicada ao Afeganistão, país controlado atualmente pelos talibãs.

Ahmed al Mandhari referiu que mais de 500 toneladas de material médico que tinham como destino o território afegão estão bloqueadas no Dubai, devido à impossibilidade de efetuar o respetivo transporte por via aérea na sequência da situação caótica atualmente vivida no aeroporto internacional de Cabul.

Desde que os talibãs entraram na capital afegã, há cerca de uma semana, milhares de pessoas têm convergido para a zona do aeroporto internacional de Cabul para tentar sair do país antes de 31 de agosto, data fixada pelo governo dos Estados Unidos da América (EUA) para a retirada final das suas forças no Afeganistão.

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A escassez de material médico, segundo frisou Ahmed al Mandhari, coincide com um aumento das necessidades médicas do país por causa dos recentes acontecimentos.

A OMS receia que possa ocorrer um novo pico de infeções pelo novo coronavírus no país, explicando que a circulação de milhares de deslocados internos pode levar a uma maior transmissão do vírus.

Os últimos dados atualizados do Afeganistão, relativos à semana passada, davam conta que o país da Ásia Central registava um total de 158.600 casos de infeção desde o início da pandemia de Covid-19.

Apesar de ter só 5% da população vacinada contra a Covid-19, o que corresponde a cerca de dois milhões de pessoas numa população na ordem dos 36 milhões de habitantes, o número de novas infeções diárias estava a diminuir.

Por outro lado, a agência das Nações Unidas indicou estar a receber informações sobre o aumento de casos de diarreia, hipertensão, complicações na saúde reprodutiva, subnutrição, traumas e de situações de emergências médicas.

O diretor de emergências regionais da OMS, Richard Brennan, avançou, por sua vez, que a OMS está a receber ofertas de voos para transportar o material médico retido para o Afeganistão, afirmando esperar ter “notícias encorajadoras” sobre este assunto “nos próximos dois dias”.

Já o representante da OMS no Afeganistão, Dapeng Luo, assegurou que os talibãs estão atualmente a apoiar o trabalho da organização e que não estão a pressionar os funcionários da agência.

Dapeng Luo relatou, no entanto, que algumas funcionárias da estrutura local da OMS deixaram de comparecer ao trabalho e que algumas até apresentaram a demissão “devido à situação de insegurança”.

A estrutura da OMS no Afeganistão conta com 684 funcionários distribuídos pelas 34 províncias do país.

Antes mesmo da tomada do poder pelos talibãs, o Afeganistão já era palco da terceira maior operação humanitária do mundo por causa “da guerra, dos deslocados internos, da seca, da fome e, é claro, da pandemia de Covid-19 “, apontou Dapeng Luo.

O responsável admitiu ainda que alguns dos doentes (homens e mulheres) que recorriam aos serviços da OMS temem agora sair de casa e só admitem deslocar-se “se estiverem em risco de vida”.

O diretor de emergências regionais da OMS, Richard Brennan, destacou ainda que os talibãs “deixaram claro que querem que as Nações Unidas fiquem e (querem) a continuação dos serviços de saúde”.

Richard Brennan acrescentou que o responsável para o setor da saúde dos radicais islâmicos reuniu-se na segunda-feira com as agências internacionais que operam nesta área e encorajou-as a permanecer no país.

Após uma ofensiva relâmpago, os talibãs tomaram Cabul no passado dia 15 de agosto, o que assinalou o seu regresso ao poder no Afeganistão, 20 anos depois de terem sido expulsos pelas forças militares estrangeiras (EUA e NATO).

Foi o culminar de uma ofensiva que ganhou intensidade a partir de maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e dos seus aliados da NATO, incluindo Portugal.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista, que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.