A retirada de pessoas no aeroporto de Cabul, no Afeganistão, por parte das forças militares britânicas pode chegar ao fim nas próximas “24 a 36 horas”, avança o The Guardian, que cita fontes ligadas ao Ministério da Defesa sob anonimato. No mesmo sentido, também a França admite que as operações para retirar as pessoas que pretendem fugir ao regime talibã podem terminar já na quinta-feira, o que vai ao encontro das exigências feitas pelos Estados Unidos, que querem as operações terminadas até final desta semana.

A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou esta quarta-feira que a Alemanha pretende continuar a retirar pessoas do Afeganistão no “tempo que for necessário”, embora o prazo se esteja a esgotar.“O final da ponte área em alguns dias não significa o final dos nossos esforços para proteger os afegãos que nos ajudaram e os afegãos que ficaram numa situação de emergência com a tomada do poder pelos talibãs”, afirmou Merkel perante o parlamento alemão.

Merkel revelou ainda que as forças militares alemãs já retiraram mais de 4,500 pessoas do Afeganistão. A chanceler não disse quando é que as operações vão terminar, mas os Estados Unidos, que não quiseram prolongar a presença militar para lá de 31 de agosto, querem que as mesmas estejam concluídas até sexta-feira.

Depois de os líderes do G7 — e particularmente o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson — não terem conseguido convencer Joe Biden a prolongar a presença militar norte-americana no Afeganistão para lá de 31 de agosto, os países ocidentais estão a acelerar ao máximo as operações nos poucos dias que ainda lhes restam em território afegão. Clement Beaune, secretário de Estado francês para os assuntos europeus, m entrevista à C News TV, disse que é “muito provável” que França termine já na quinta-feira, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Dominic Raab, não se comprometeu com um dia, mas sublinhou que “serão dias e não semanas”.

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“O sistema está a operar a toda a velocidade, em plena capacidade, e utilizaremos cada hora e dia restantes para retirar todos os que pudermos — os cidadãos britânicos, os afegãos que trabalharam de forma tão leal para nós, os estudantes, os defensores dos direitos das mulheres e jornalistas”, garantiu Raab em entrevista à Sky News na manhã desta quarta-feira.

Questionado pela BBC sobre a notícia avançada pelo The Guardian que as tropas britânicos podem parar as operações de evacuação nas próximas “24 a 36 horas”, Dominic Raab não se comprometeu com uma data, mas sublinhou que “é claro que as tropas vão ser retiradas até final do mês [de agosto]”. “Vamos utilizar cada hora e cada dia que nos resta. Mas serão dias, não semanas, claramente”, reforçou o ministro britânico.

Na sua ronda pelos media do Reino Unido na manhã desta quarta-feira, Dominic Raab revelou ainda que foram retiradas, pelas forças britânicas, mais de nove mil pessoas desde 15 de agosto, um dia depois de os talibã assumirem o controlo de Cabul. Raab acrescentou ainda que “praticamente todos” os cidadãos britânicos já saíram do Afeganistão.

No entanto, Dominic Raab admitiu que é incerto o número de pessoas que podem ficar para trás quando as tropas internacionais abandonarem Cabul, e a hipótese de os países ocidentais não conseguirem retirar toda a gente — não só ocidentais, mas como afegãos que temem represálias dos talibã — ganha força.

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Esse foi um dos argumentos utilizados pelos líderes do G7 durante a cimeira desta terça-feira, mas Joe Biden foi assertivo em manter a data de 31 de agosto como o dia para a retirada das tropas norte-americanas, justificando a decisão com a necessidade de concluir as operações o “mais rapidamente possível”, uma vez que “cada dia de operações traz mais riscos para as nossas tropas”. Entre esses riscos, alertou o Presidente norte-americano, está o ISIS-K, um braço do Daesh, inimigo dos talibãs.

No entanto, Biden também advertiu que existe um plano de contingência caso as tropas norte-americanas tenham de ficar mais tempo no Afeganistão. Tudo dependerá da cooperação dos talibãs, que querem impedir os afegãos de rumarem ao aeroporto de Cabul, uma ameaça que contradiz a posição do G7, que exige que os islamistas garantam “passagem segura” a quem quiser abandonar o país.

Apesar das condições, o plano é mesmo para sair a 31 de agosto e, de acordo com a ministra da Defesa belga, Ludivine Dedonder, os Estados Unidos pediram aos restantes países para terminarem as operações até sexta-feira. “O objetivo é tirar as pessoas o mais rápido possível”, disse a ministra ao jornal belga L’Echo.

Terminar as operações alguns dias antes do prazo final deve-se à necessidade de reservar alguns dias para retirar todos os militares que ainda estão no país, conforme explicou ao The Telegraph o antigo chefe do estado maior general das forças armadas do Reino Unido, Lorde David Richards, que considera que é inevitável a saída britânica nos termos impostos pelos Estados Unidos.