A associação de defesa dos direitos digitais portuguesa D3 lançou esta quarta-feira o “Relatório Público Stayaway” no qual aponta várias falhas à app de rastreio de contágios Stayaway Covid. A polémica aplicação, que chegou a ser proposta pelo Governo para uso obrigatório depois de o executivo ter afirmado que essa hipótese não estaria em cima da mesa, foi lançada oficialmente há um ano e depois de alguns atrasos.
“Quando alguns ainda insistem em abanar o cadáver e alegar que está de boa saúde, sentimos que é bem altura de realizar a autópsia”, afirma Ricardo Lafuente, vice-presidente da D3. “Este documento é o resultado de mais de um ano de trabalho a reunir estudos, dados e notas de imprensa, analisá-los e tirar conclusões de toda esta experiência”, diz o responsável da associação.
Os proponentes da app falharam na sua responsabilidade científica e democrática de divulgar as conclusões desta experiência, para que futuros esforços semelhantes possam ser melhor informados”, acusa a D3.
Entre outras críticas no documento, os responsáveis do relatório afirmam “a medida do Governo de tornar a app obrigatória teve um efeito claríssimo no declínio da adoção da aplicação” e que os proponentes da app insistiram em culpar os médicos, uma classe profissional profundamente agastada pela crise pandémica”. Lafuente vai mais longe e afirma sem rodeios: “A experiência Stayaway foi um fracasso total da abordagem tecno-deslumbrada que exalta as apps e as ‘soluções inovadoras’, desprezando as pessoas, a legislação e qualquer contributo por parte de outra área que não a técnica, como as ciências sociais”.
O INESC TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência), foi responsável pela conceção da StayAway Covid. Em abril, Rui Oliveira, administrador e investigador no instituto e coordenador da StayAway Covid, afirmou quanto à app Stayaway Covid: “Falhámos todos”. No entanto, o coordenador do projeto disse numa entrevista ao Expresso que ainda tinha esperança na sua utilização.
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De acordo com as explicações do Governo a 1 de setembro, no lançamento oficial da app — a app já estava disponível desde 28 de agosto –, a Stayaway Covid serviria para apoiar na luta contra a pandemia. “Ontem tive a oportunidade de descarregar a app”, disse António Costa na apresentação oficial, mostrando, no púlpito de um auditório com cerca de 60 pessoas, o ecrã com uma luz verde do seu smartphone — sinal de que não estava infetado nem tinha recebido qualquer alerta de que esteve em contacto com alguém diagnosticado com o novo coronavírus, durante mais de 15 minutos, nas ultimas 48 horas e a menos de dois metros de distância. “Só assim podemos interromper rapidamente a cadeia de contaminação”, sublinhava também.
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