O antigo Presidente da República Jorge Sampaio morreu esta sexta-feira, aos 81 anos, disse à Agência Lusa fonte da família.

Jorge Sampaio estava internado desde o dia 27 de agosto no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa. O antigo chefe de Estado estava de férias no Algarve quando teve de ser internado numa unidade hospitalar devido a dificuldades respiratórias, tendo depois sido transferido de helicóptero para Lisboa, onde o estado de saúde foi sendo irregular.

É esperada para esta sexta-feira um comunicado do Hospital de Santa Cruz e da família do ex-Presidente.

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Jorge Sampaio foi Presidente da República em dois mandatos entre 1996 e 2006, numa vida em que teve sempre uma participação política e cívica ativa. Viveu na Faculdade de Direito de Lisboa a crise académica de 1962 — uma das maiores afrontas estudantis ao regime salazarista — e começou por essa altura a sua oposição ao Estado Novo. Quando acabou o curso tornou-se advogado, mas com uma característica que irritava particularmente o regime ditatorial: representou oposicionistas ao regime em tribunal.

Em 1969, em plena primavera marcelista, candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional nas listas da CDE, mas tal como todos os partidos que se opunham ao regime não foi eleito, frustrando as esperanças dos que ainda acreditavam numa democratização do país. Com o controlo da máquina, a União Nacional, partido do regime, elegeu os 130 deputados que compunham o Parlamento naquela altura.

Logo a seguir o 25 de Abril de 1974 Jorge Sampaio é um dos fundadores do MES, o Movimento de Esquerda Socialista. Acaba pro só aderir ao PS em 1978 (antes recusara as abordagens), mas antes disso já integrara, num período que abrangeu o verão quente de 1975, o IV Governo Provisório, liderado pelo comunista Vasco Gonçalves, mas que integrava figuras como Álvaro Cunhal, Mário Soares, Magalhães Mota e Pereira de Moura. Nesse mesmo ano funda a “Intervenção Socialista”, grupo de reflexão constituído por políticos e intelectuais que mais tarde ocupariam cargos relevantes nos órgãos governativos.

Jorge Sampaio foi eleito deputado três vezes e chegou a ser líder parlamentar do PS. Em 1989 é eleito secretário-geral do PS e não tem vida fácil. Nesse ano que chega a líder do PS há autárquicas e Sampaio decide avançar como candidato à capital, vencendo o então favorito candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa. Em 1993, volta é reeleito presidente da câmara de Lisboa, mas não terminaria o mandato. Tem um desafio: vencer o até aí invencível Cavaco Silva.

Em 1996 consegue então vencer Cavaco Silva nas eleições Presidenciais, com 53,8% dos votos. Reforçaria a votação com 55,8% dos votos em 2001, quando foi reeleito. O momento mais marcante da sua presidência foi quando em 2004 se recusou a convocar eleições após a saída de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia. Daria posse a Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro para meses depois dissolver a Assembleia da República, alegando estar em causa o “regular funcionamento das instituições”.

Já após sair de Belém, foi nomeado em 2006 pelo então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, enviado especial para a Luta contra a Tuberculose. A partir de 2007 e até 2013 foi alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Em novembro 2013, Jorge Sampaio fundo a Plataforma Global de Estudantes Sírios, uma organização sem fin lucrativos que tem como parceiros o Conselho da Europa , a Liga Árabe, a Organização Internacional de Migrações (IOM) e o Instituto de Educação Internacional (IIE). O objetivo da plataforma é reunir esforços de várias entidades no apoio a “um mecanismo de emergência para apoiar os estudantes sírios”. O programa entrou na sua fase operacional em março de 2014 quando 45 estudantes sírios poderam retomar os seus estudos ao abrigo um programa de bolsas de emergência. Desde a fundação a plataforma já concedeu mais de 550 bolsas anuais entre outros eventos.

Jorge Sampaio nunca abdicou da sua participação e intervenção cívica. Um dia antes de ter sido internado, o Presidente da República tinha anunciado que a plataforma que dirige estava a preparar um reforço do programa de emergência de bolsas de estudos e oportunidades académicas para jovens afegãs.

Num artigo publicado esta quinta-feira no jornal Público, Jorge Sampaio faz um apelo a todos os parceiros da Plataforma, às entidades oficiais, às instituições do ensino superior, centros de estudos e investigação, bem como empresas, fundações, outras organizações e particulares, para que colaborem mais, disponibilizem apoios, oportunidades académicas e profissionais, estágios e vagas para as jovens afegãs.

Sampaio alertava ainda que não se podia responder a crises humanitárias “ao sabor de modas e ignorá-las por razões de cansaço, enfado ou indiferença”. E acrescentava: “A solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.