A startup portuguesa UpHill, que desenvolve software e conteúdos médicos para apoio à decisão clínica nos hospitais, fechou uma ronda de investimento seed (primeira fase de investimento) no valor de 3,5 milhões de euros. O investimento foi liderado pela Bright Eye Ventures e pela Mustard Seed MAZE e vai servir para desenvolver o produto, acelerar o processo de internacionalização e recrutar mais pessoas para a equipa.

“Este investimento tem como objetivo consolidar o nosso papel enquanto plataforma de jornadas clínicas para apoiar as equipas de saúde a prestarem os melhores cuidados. Ou seja, tornar a evidência clínica e científica e a sua utilização numa rotina para o apoio nas tarefas aos profissionais de saúde”, explica ao Observador Eduardo Freire Rodrigues, presidente executivo e cofundador da UpHill. O financiamento vai ser aplicado no desenvolvimento do projeto do AddPath, uma tecnologia que funcionará como um GPS inteligente que pretende facilitar e uniformizar as várias fases no percurso nos cuidados de saúde, ajudando os profissionais a tomar decisões clínicas assentes em evidência científica atualizada e aplicável a cada caso.

Isto tem cada vez mais relevância no contexto em que vivemos. Primeiro, é um contexto de grande fragmentação dos cuidados, onde, por todos os motivos derivados da pandemia, há uma multiplicidade de serviços que agora são prestados — uns presenciais, outros online — muito pouco organizados entre si. Há uma enorme variabilidade dos cuidados porque as equipas estão completamente em esforço e há uma necessidade de obviar as tarefas repetitivas associadas à prestação de cuidados médicos”, explica Eduardo Freire Rodrigues.

No mês passado, a startup anunciou também a aprovação de um incentivo de um milhão de euros para o projeto de investigação que utiliza Inteligência de Artificial. O investimento de 3,5 milhões de euros anunciado esta segunda-feira contou com um reforço de investidores anteriores como a Caixa Capital, a Luz Saúde e a Bynd e vai também ser utilizado para reforçar a equipa, com a intenção de “a curto prazo, chegar às 30 pessoas e duplicar a equipa nos próximos 18 meses”. O recrutamento será feito maioritariamente para Portugal, em três áreas: área de negócio, área tecnológica e a área dos conteúdos clínicos.

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Este é o primeiro investimento que a UpHill recebe com a participação de um investidor estrangeiro. A startup quer continuar a apostar no processo de internacionalização, não só para se consolidar em alguns mercados onde já está presente (Portugal, Suíça, Grécia, Noruega, Países Baixos, Suécia e Espanha), mas também para iniciar caminho noutros territórios europeus, como o Reino Unido e a Alemanha.

“É uma ronda de financiamento que queríamos que tivesse capital estrangeiro por força do foco na internacionalização, mas também para que haja um aumento daquilo que é a nossa maturidade enquanto empresa”, acrescenta Eduardo Freire Rodrigues. O peso do mercado estrangeiro já é significativo na UpHill: quase um terço das receitas são estrangeiras, numa altura em que as receitas recorrentes mensais do semestre anterior à ronda duplicaram.

E a evolução nos mercados onde a startup está, sublinha Eduardo Freire Rodrigues, também tem sido positiva: “Desde o momento em que começamos o nosso processo de internacionalização, depois da ronda de 2019, havia claramente muitas dúvidas sobre se o problema que estamos a atacar era comum a vários territórios. Será que, de facto, o apoio à decisão clínica baseado na melhor evidência científica é uma necessidade noutros países? E, muito rapidamente, percebemos que sim, é. Independentemente do próprio sistema de saúde, a visibilidade sobre a jornada dos melhores cuidados baseados na melhor evidência é um problema para a saúde hoje”.

Atualmente, a startup tem quase 150 médicos a trabalhar na equipa e já ultrapassou os 100 algoritmos clínicos, para mais de 100 doenças. No desenvolvimento do GPS inteligente para a prestação de cuidados, que deverá ser feito em dois anos e meio, o desafio é “distinguir o trigo do joio com alguma automatização, ou seja, conseguir identificar a evidência científica mais sólida, de uma forma semi-automática, para conseguir atualizar continuamente as jornadas de cuidados”.

Acreditamos que os métodos de Inteligência Artificial conseguem ser muito úteis na aprendizagem da análise inicial das evidências clínicas que surgem e que, de forma assistida com os profissionais de saúde, vão conseguir atualizar o conhecimento muito mais rapidamente do que nas guidelines e nos hospitais as guidelines são habitualmente revistas de três em três anos e os protocolos hospitalares de cinco em cinco anos. Quanto mais processualizado e automatizado for, maior é a nossa capacidade de entregar o conhecimento o mais atual possível”, acrescenta o responsável.

Fundada em 2015, a UpHill nasceu para superar o desafio da demora das atualizações no campo da saúde e apresentar as melhores práticas clínicas, baseadas na evidência científica mais sólida. O software da empresa assemelha-se ao programa normalmente utilizado pelos hospitais, onde o médico pode introduzir todos os dados sobre o doente e fazer a sua consulta normalmente.

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