Chegou depois da hora marcada e depois do seu convidado do dia: Miguel Poiares Maduro. Juntos dirigiram-se à entrada do Museu Romântico, um equipamento cultural da cidade que tem estado envolto em polémica nas últimas semanas graças a uma exposição que já mereceu petições públicas e até um pedido de desculpa por parte do atual autarca, Rui Moreira.

“Têm visita marcada?”, questionou um funcionário do museu junto à porta. Perante a resposta negativa de Vladimiro Feliz e a sua comitiva, a equipa do Romântico informou que a visitar teria de ser paga e feita em grupos de até dez pessoas. “Claro que pagamos!”, exclamou imediatamente Miguel Poiares Maduro, sublinhando o interesse em conhecer o interior do museu que tem sido tão criticado ultimamente.

“Mas os jornalistas não pagam, certo?”, questiona Sebastião Feyo de Azevedo, candidato à assembleia municipal e coordenador do plano autárquico do PSD, levando a que alguns jornalistas abrissem a carteira, prontos para mostrar o seu título profissional. Breves segundos depois, já fora da zona da receção do museu, Vladimiro Feliz comunica que, “infelizmente”, não está autorizado a visitar aquele espaço acompanhado por jornalistas.

Junto à Rotunda da Boavista, Maduro e Feliz foram seguidos por duas dezenas de apoiantes pelas ruas

“Hoje a nossa ideia era visitar esta aberração que aconteceu na cidade, tínhamos um museu romântico, uma casa oitocentista, um espaço querido por todos, inclusive do atual presidente de câmara, que há uns anos disse este era um dos espaços mais visitados da cidade, mas anos depois, como é uma pessoa coerente, diz que este espaço tinha janelas entaipadas e precisava de uma nova dinâmica. Hoje não nos permitiam entrar com jornalistas no museu”, explicou.

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Rui Moreira pede desculpa por comunicação “intolerável” sobre ex-Museu Romântico do Porto

Para o candidato social democrata quem conhecer o Museu Romântico ficará “chocado” com a sua atual configuração. “A coleção tem peças interessantes para estarem expostas noutros locais da cidade, espaços culturais que esta câmara tem inviabilizado, percebemos agora que até inviabiliza o acesso público. Percebemos que com os jornalistas não poderíamos entrar. É nesta cidade que vivemos, uma cidade entaipada onde a liberdade está restringida e não é este o Porto que queremos para nós”, declarou, acrescentando ser “vergonhoso” o que aconteceu esta quarta-feira.

E como uma ação de campanha faz-se de imprevistos, mas sobretudo de promessas, Feliz deixa uma. “Um dia agendarei uma visita delineada pelo presidente da câmara e comprometemo-nos a reverter a atrocidade que aqui foi feita e, assim, devolver à cidade aquilo que era o Museu Romântico, caso ganhemos estas eleições.”

Na primeira arruada do PSD no Porto, o candidato falou com miúdos e graúdos, entrou em restaurantes, bancos e agências de viagens

O Museu Romântico reabriu portas a 28 de agosto com o ‘Herbário’ de Júlio Dinis, numa homenagem ao escritor portuense, este ano figura central da Feira do Livro do Porto, tendo desde então estado no centro da polémica. A reconfiguração levou até à criação de petição pela reposição do espólio que conta até ao momento com 3.876 subscritores. A 6 de setembro, numa reunião do executivo municipal, o presidente da Câmara do Porto pediu desculpa pela forma “intolerável” e “soberba” como foi comunicada a abertura do museu, reiterando, perante as críticas da oposição que condena a reformulação e que “nada foi destruído”.

Miguel Poiares Maduro critica política “arrogante” e dá “vários cartões vermelhos”

A acompanhar o segundo dia de campanha de Vladmiro Feliz no Porto, onde além da visita ao museu estava também prevista uma arruada na zona da Boavista – essa sim, aconteceu — Miguel Poiares Maduro, afirmou com ironia que quando o PSD conquistar a autarquia este episódio não se voltará a repetir. “Infelizmente não tivemos oportunidade de visitar aqui o museu, tenho a certeza que quando ele [Vladimiro Feliz] for presidente será muito mais fácil visitar estes e outros museus.”

Sobre a recente polémica em torno da nova coleção apresentada neste equipamento cultural, Poiares Maduro fala de “arrogância” e “distanciamento” de quem comanda os destinos da câmara municipal. “Este é um exemplo de quando se decide e se governa com uma distância excessiva face aos cidadãos. Há questões em que é muito importante envolver as pessoas para elas sentiram que são parte da solução e das decisões.”

Miguel Poiares Maduro espera que os portugueses usem as eleições autárquicas para fazerem uma “avaliação a nível nacional”

Questionado sobre a importância destas eleições autárquicas a nível nacional, o militante do PSD vê o próximo dia 26 de setembro como “uma oportunidade” de o partido “voltar a demonstrar aquilo que historicamente sempre foi: um partido que assenta numa grande presença local”.

O antigo ministro-adjunto no governo de Passos Coelho recorda que este é também o momento certo de os portugueses “exprimirem uma avaliação a título nacional”. “Temos assistido a formas de governação em que a proximidade não existe nem é procurada e se transforma em alguma arrogância governativa. Nestas eleições quem governa com arrogância não deve ser premiado, pelo contrário.”

Poiares Maduro vai mais longe e diz que mais do que pedir um cartão amarelo, pede “vários cartões vermelhos” a quem faz política com arrogância, “achando que tem propriedade sobre o país ou sobre as cidades”, mas também a quem “faz política para o seu partido e não para o país”.