Um jogador de futebol com 60 anos? Talvez não seja assim tão estranho mas, ao contrário do que se possa pensar, não se trata de um atleta que esteja a disputar amigavelmente um jogo no nosso INATEL ou uma antiga estrela do desporto mundial num jogo de velhas glórias. Não. Foi mesmo num jogo dos oitavos de final da Liga da CONCACAF, a segunda competição de clubes mais importante desta confederação que abrange a América Central, Caribe e Canadá. Mais relevante apenas a Liga dos Campeões da CONCACAF.

Mas voltando ao, no mínimo, experiente craque, de seu nome Ronnie Brunswijk, que alinhou pelo Inter Moengotapoe, do Suriname, contra CD Olimpia, das Honduras, existem mais particularidades. É que o homem em questão é dono do clube.

E é vice-presidente do Suriname.

E é um antigo guerrilheiro.

Mas por partes. Ronnie Brunswijk tomou a iniciativa de jogar e capitanear o clube que detém, usando a camisola 61, mas as coisas não correram pelo melhor, tirando o recorde de jogador mais velho a disputar um torneio oficial a de clubes daquela confederação. O vice-presidente do Suriname, aliás, até nasceu antes da CONCACAF. Mas o resultado não deverá ter correspondido às expetativas do responsável do clube (e do país), com o Inter a perder por 6-0, com Brunswijk a sair por volta dos 55′ minutos, quando ainda estava 3-0 para o adversário hondurenho.

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A história do vice-presidente (chegou ao cargo em 2020) da antiga colónia dos Países Baixos está bastante ligada a história do país em si. Segundo o Times, Brunswijk é uma das principais figuras do Suriname nas últimas quatro décadas e a chegada ao governo poderá significar uma aproximação ao poder, que neste momento é do presidente Desi Bouterse, de 74 anos, uma figura não menos controversa, mas que sofreu um revés no ano passado depois de perder o controlo parlamentar nas últimas eleições.

Ronnie Brunswijk foi, aliás, guarda costas do atual presidente no anos 80, antes de “desertar” e criar uma guerrilhas conhecida como Jungle Commando, que liderou na guerra civil entre 1986-1992. Para muitos, o conflito deveu-se a quezílias entre os dois homens que se aproximaram novamente nos últimos anos.

Depois da guerra, Brunswijk voltou às notícias em 1999, por ter sido acusado pelo governo neerlandês de tráfico de cocaína. Foi então condenado, apesar da sua ausência dos trabalhos judiciais, a oito anos de prisão, pelo que sair do Suriname não é uma opção. Foi então que comprou o Inter Moengotapoe e construiu o estádio, que batizou com o seu próprio nome.

Membro do parlamento há 15 anos, foi em 2005 suspenso pela Federação de Futebol do Suriname e, entre demais polémicas, em 2018 foi divulgado um vídeo em que mandava notas de um helicóptero para civis. “Sei o que é ser pobre e não ter nada”, disse então, defendendo-se das acusações de suborno. Reza ainda a história que tem 50 filhos de 24 mulheres diferentes, que assaltou bancos em jovem e que tem uma mina de ouro.

Segundo a Marca, Brunswijk é procurado pela Interpol, pelo que a sua participação como capitão de equipa do Inter nesta eliminatória, que estará resolvida a favor do CD Olimpia, das Honduras, estará mesmo diminuída ao jogo que já disputou. Além da vitória, os atletas hondurenhos terão ainda ficado satisfeitos com o pós-jogo, depois de ter sido divulgado um vídeo em que o vice-presidente do Suriname parece oferecer dinheiro aos jogadores adversários.