Todoque é o novo epicentro do drama que está a afetar La Palma. Foi aquele o último bairro a que chegou a lava do vulcão Cumbre Vieja, à medida que se derrama lentamente pela ilha fora em direção ao mar. Horas antes, os moradores enfrentaram momentos de desespero, à medida que eram obrigados a retirar as coisas das suas casas em tempo recorde: 15 minutos.
O momento de desespero foi ainda mais agudo para Adelfo Gómez e María Marrero, ambos residentes em Todoque, ambos na casa dos 70 anos. Depois de horas numa fila de carros para se aproximarem da sua vivenda, o seu carro avariou-se mesmo antes de chegar à zona de controlo onde é feita a avaliação pelas autoridades sobre quem pode passar ou não para a zona afetada. “Não vamos poder ficar com nada”, lamentava-se o homem ao La Vanguardia, temendo já o pior.
Mas eis que, no meio da desgraça, surgiu uma surpresa: o vizinho Eleazar e a namorada decidiram ajudá-los. Como tinham conseguido retirar muitas coisas da sua casa na terça-feira, esta quarta decidiram deixar para trás os pertences que reuniram entretanto e dar o espaço do seu carro a Adelfo e María, para que estes pudessem trazer algo consigo. “Eles não têm nada. As nossas coisas não são tão importantes”, resumiu o vizinho ao jornal.
Os bons samaritanos, contudo, não chegam para todos. Que o diga Isidro Manuel, que não só perdeu a sua habitação como o sustento de uma vida: a sua plantação de bananas ficou completamente destruída, como contou ao El País. “A minha vida está a ser toda levada por este vulcão”, desabafou o agricultor. “Nem sequer tinha acabado de pagar a propriedade”. E Isidro não será o único, até porque La Palma é a segunda maior região de produção de bananas em Espanha, apenas atrás de Tenerife.
Enquanto uns se confrontam com as perdas materiais, outros sofrem por atencipação. É o caso de Dévora, que o El Diario encontrou ao pé da barreira imposta pela Proteção Civil junto ao bairro El Paraíso. Não lhe é permitido regressar a sua casa para já, por esta não estar ainda em risco imediato. Dévora conseguiu vê-la pela televisão, ainda de pé. Mas teme que a situação possa mudar em breve: “À noite, quando oiço os estrondos, penso ‘já está, a minha casa já desapareceu’. É uma ansiedade constante”, confessa.
Essa ansiedade é exatamente o que preocupa as equipas de psicólogos da Cruz Vermelha que estão na região. “Decidimos que têm de cortar o tempo de exposição, ou seja, só devem informar-se do que se está a passar num determinado momento e por um único meio, como a televisão”, é o conselho dado pela coordenadora Laura Marrero aos que aguardam notícias sobre as suas casas, segundo conta o ABC. “Não estão a ver, mas estão a sentir”.
São cerca de 200 as pessoas que foram passando pelo quartel de El Fuerte ao longo dos últimos quatro dias, para receber apoio psicológico. Dormem pouco, vivem agarrados às notícias na tentativa de saber como está a sua casa. Para já, ainda vão gerindo a situação, explica Marrero: “O problema chegará quando soltarem toda esta tensão”, avisa a coordenadora. “Por isso é fundamental o trabalho prévio que estamos a fazer com eles”. Eles, como Adelfo, María, Isidro e Dévora, despejados por culpa de uma erupção vulcânica incontrolável. Já há quem lhes chame refugiados climáticos.