“A CNE proibiu a arruada porque o Bloco fez queixa.” A informação curta e incompleta chegou (como uma bomba) quando já toda a comitiva de Rui Moreira estava na Rua de Santa Catarina para a tradicional arruada no último dia de campanha. Marcada para as 17h30 em frente ao Via Catarina, a última ação de campanha de Moreira ia sair exatamente à mesma hora que a arruada do Bloco de Esquerda e a Comissão Nacional de Eleições (CNE) deu razão ao partido por ter marcado antes do movimento.
O aviso, insistiu a direção de campanha e o próprio Rui Moreira, chegou à Câmara Municipal do Porto às 16h37 — menos de uma hora antes da arruada — e notificava o presidente-candidato a “tomar de imediato as medidas necessárias à salvaguarda do direito do BE, impedindo, pela deslocalização ou pelo adequado desfasamento de horário, que subsista qualquer possibilidade do exercício daquele direito ser perturbado por terceiros”. O não cumprimento da notificação levaria a um “crime de desobediência”. Por outras palavras: a CNE impediu a realização da arruada, a menos que Moreira usasse outro horário ou rota.
Perante os factos, Rui Moreira esperou meiahora que a comitiva de Sérgio Aires arrancasse, passasse pelos apoiantes do independente e se afastasse vários metros. O líder do “Aqui há Porto” só deu o primeiro passo às 18h00. Mas o desencontro na secretaria não teve repercussões no terreno: no momento em que Sérgio Aires passou por Rui Moreira, o recandidato fez questão de se aproximar para abraçar o adversário na corrida à câmara do Porto.
“Iria [abraçar] em qualquer condição, sempre que encontro um adversário, seja o Sérgio, seja a Ilda, seja o Tiago, é norma abraçarmo-nos. Aliás, ele olhou para mim e fomos um para o outro, não fui eu que o fui abraçar, ele também me veio abraçar”, justificou Rui Moreira no final da arruada.
Ao Observador, o Bloco de Esquerda esclareceu que a comunicação à CNE foi feita depois de o movimento de Rui Moreira “ter recusado” concertação prévia do horário da arruada, ao contrário do que aconteceu com o Partido Socialista, que esteve na Rua de Santa Catarina às 18h00.
Apesar de dizer “não estar zangado”, o recandidato independente atribui as culpas do incidente à CNE ao dizer que “o que se verificou foi um ato de profundo centralismo”. “A CNE em Lisboa não fazia nem ideia o que é a rua do Porto. Às 16h37 manda uma lei para o presidente da câmara poder cumprir às 17h30″, explicou, questionando ainda “que competência tem a CNE para proibir” o movimento de estar nas ruas,
“Do Bloco de Esquerda eu compreendo porque na Venezuela com certeza que não há isto, aqui em Portugal faz-me confusão que tantos anos depois do 25 de Abril se continue nesta forma de fazer política através de instrumentos que não são democrático. [Por parte da CNE] é uma atitude autoritária, não escrutinada, antidemocrática“, atirou Rui Moreira.
Na nota enviada pela CNE à Câmara Municipal do Porto, à qual o Observador teve acesso, a entidade esclarece que “muito embora não se conhecendo as datas exatas das comunicações previstas na lei pelas candidaturas do PS e do GCE “Rui Moreira. Aqui há Porto” decidiu dar “por provado, por se ter recebido cópia da respetiva comunicação, que o BE a fez em tempo e antes de qualquer outro, tanto mais que não lhe foi deduzida qualquer oposição ou fixado qualquer constrangimento pelo Presidente da Câmara do Porto, tendo-se consolidado o seu direito”.