A pandemia tem sido particularmente dura para os jovens. Basta olhar para a taxa de desemprego deste grupo (16-24 anos), divulgada pelo INE, que coloca o indicador acima dos 20% (com um pico em junho de 2020 de 27,9%), muito além da taxa global (que tem oscilado algures entre os 6% e 8%). A ajudar a pintar o quadro do desemprego dos mais novos estão dados revelados esta quarta-feira pelo Brighter Future, a plataforma da Fundação José Neves sobre educação e competências em Portugal: o risco de os jovens ficarem desempregados após conclusão de uma licenciatura aumentou 1,6 pontos percentuais em 2020, invertendo uma tendência positiva que existia desde 2014.
Quer isto dizer que em 2020, 5,3% dos estudantes que tinham terminado uma licenciatura nos quatro anos anteriores estavam inscritos como desempregados no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O indicador apenas diz respeito aos jovens que se inscreveram nos centros de emprego, deixando de fora aqueles que, não tendo trabalho, optaram por não se registar. Ainda assim, o facto de quebrar uma tendência de seis anos mostra como nem os mais graduados escaparam aos efeitos da crise no mercado de trabalho.
Aliás, “estes períodos são ainda mais desafiantes entre os jovens que terminam um grau de ensino e pretendem entrar no mercado de trabalho pois, tipicamente, não têm experiência profissional e concorrem com grupos de jovens trabalhadores mais experientes e com mais competências profissionais”, lê-se no estudo do Brigher Future, que lembra que, “tradicionalmente”, os jovens “estão entre os mais vulneráveis nos ciclos económicos recessivos“.
Mas, apesar destes números, a Fundação José Neves sublinha, em comunicado, que a transição da escola para o mercado de trabalho continua a ser “mais bem-sucedida para quem termina o ensino superior”.
O indicador também “não permite avaliar a qualidade do emprego” dos recém-licenciados que encontraram emprego. Isto porque esses novos graduados “podem ter empregos desadequados quer à área de formação como inclusive ao nível de ensino que acabaram de completar“.
Matemática, Saúde e Ciências da Vida de um lado. Serviços sociais, turismo e jornalismo do outro
Todas as áreas de formação viram o risco de desemprego aumentar em 2020, mas há várias e significativas nuances. De um lado, estão áreas em que esse risco é inferior a 2,5%: falamos da matemática e estatística (1,8%), saúde (2,1%), serviços de segurança (2,2%) e ciências da vida (2,4%). O menor aumento neste indicador foi na área da saúde “dada a natureza da crise pandémica”.
No lado oposto, as áreas em que os recém-licenciados estão mais propensos ao desemprego são os serviços sociais (9,8%), serviços pessoais (8,9%) e informação e jornalismo (8,4%). Foram os serviços pessoais que mais viram o risco subir (de 3,8% em 2019 para 8,9% em 2020), “facto ao qual não deverão ser alheias as medidas de restrições de atividade económica e diminuição da interação social que resultaram da pandemia”, já que este grupo agrega cursos nos áreas de desporto e turismo.
Risco é maior no ensino privado e no Algarve
O risco de desemprego aumentou pelo menos 1,3 pontos percentuais para todos os tipos de ensino, mas foi mais significativo no ensino privado (politécnico e universitário). O ensino superior privado universitário é, segundo o Brighter Future, aquele que registou uma maior propensão ao desemprego pós-licenciatura em 2020 (6,3%), seguido pelo ensino superior público politécnico (5,7%). Em menor risco está o ensino superior público universitário (4,6%).
Por regiões, a área metropolitana de Lisboa é aquela em que os recém-licenciados estão menos propensos a ficar desempregados, mas foi também aquela que, a par do Algarve, teve um maior aumento. Aliás, o Algarve estava entre os melhores classificados mas em 2020, com um aumento superior a 3 pontos percentuais, passou a liderar o ranking de risco de desemprego (6,7% dos estudantes que terminaram a licenciatura nesta região estavam inscritos no IEFP). Aquela zona do país, segundo os dados que têm sido divulgados pelo IEFP, tem sido a mais afetada pelo desemprego, devido, nomeadamente, à dependência de áreas muito afetadas como o turismo ou a restauração, que são tendencialmente representadas pelos mais jovens.