Assim que Cristiano Ronaldo regressou ao Manchester United, a hora da refeição no plantel de Solskjaer alterou-se. Não que o jogador português tenha exigido alguma coisa, forçado alguma coisa e implementado alguma coisa. Mas simplesmente porque tudo o que Ronaldo escolhe, come e faz é um exemplo e um conselho para os colegas.
Na primeira sexta-feira em que Ronaldo integrou a equipa, como o guarda-redes Lee Grant acabou por contar, ninguém teve sequer o atrevimento de tirar uma sobremesa. Agora, de forma natural e como faz com todos os jogadores, a equipa de chefs que trabalha com o Manchester United perguntou ao português quais são os seus pratos favoritos para os integrar no menu semanal. E se o Bacalhau à Brás, que é o prato preferido de Ronaldo, agradou a praticamente toda a gente, o mesmo não aconteceu com as restantes opções: o Polvo à Lagareiro não convenceu o plantel e os abacates que o capitão da Seleção quer ter em todos os pequenos-almoços também não são unânimes.
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Ora, comida à parte, a verdade é que Cristiano Ronaldo era este sábado poupado por Solskjaer. Depois de ter jogado 90 minutos a meio da semana contra o Villarreal, num jogo da Liga dos Campeões onde marcou o golo que deu a vitória já nos descontos, o avançado português começava no banco contra o Everton. “Na quarta-feira foi um grande esforço, foi uma grande descarga emocional e física. Por isso, precisávamos de refrescar. Continuamos a ter bons jogadores no onze. Acho que é uma equipa que vai tomar conta do jogo”, explicou o treinador dos red devils mesmo antes do apito inicial. Até porque, para além de Ronaldo, também Pogba era suplente, com Martial e Cavani a saltarem para a titularidade. Nas alas, Wan-Bissaka voltava à equipa depois de ter cumprido castigo na Europa e Luke Shaw regressava de lesão, com Fred a substituir Jadon Sancho e Lindelöf a render novamente o lesionado Harry Maguire.
Em Old Trafford e depois desse jogo complexo contra o Villarreal, o Manchester United tinha a possibilidade de saltar para a liderança provisória da Premier League, com mais dois pontos do que um Liverpool que só joga este domingo, e ainda abrir distância para o Everton, que partia para o encontro com os mesmos pontos que os red devils. Mais do que isso, a equipa de Solskjaer — e o próprio Solskjaer, a título muito individual — pretendia ultrapassar definitivamente o capítulo da eliminação da Taça da Liga e da derrota contra o Aston Villa e relançar-se na luta pelos lugares cimeiros da liga inglesa.
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Na primeira parte, o Manchester United criou as primeiras situações de perigo com um cabeceamento ao lado de Martial (6′) e um cruzamento sem consequências de Greenwood (9′). Os red devils tinham mais bola, maior presença no meio-campo adversário e pareciam implementar um ligeiro ascendente na partida mas a verdade é que a organização defensiva do Everton não permitia grandes aventuras aos elementos ofensivos lançados por Solskjaer. Com o avançar dos minutos, o conjunto de Rafa Benítez começou a soltar-se e a procurar terrenos mais adiantados, aproveitando quase sempre as transições rápidas e as recuperações de bola em zona elevada. Varane impediu um remate de Rondón com um grande corte (11′) e De Gea respondeu da melhor maneira a um pontapé de Gray (33′) — sendo que, pelo meio, Cavani teve a melhor oportunidade até então com um cabeceamento que Pickford defendeu (21′).
Já perto do intervalo e numa primeira parte que foi perdendo alguma intensidade à medida que o relógio foi avançando, o Manchester United acabou por conseguir chegar à vantagem. Bruno Fernandes desequilibrou na zona central, levou dois adversários consigo e soltou em Martial na esquerda, com o avançado francês a aproveitar a ausência de pressão para rematar de primeira e em jeito (43′). Martial, que até aí estava a fazer uma exibição discreta e com poucas ocasiões para se mostrar ao jogo, abriu o marcador e levou a equipa de Solskjaer a ganhar para o intervalo.
O jogo foi algo incaracterístico no início da segunda parte, já que o Manchester United estava naturalmente confortável com a vantagem que tinha e o Everton não arriscava muito para não desorganizar a transição defensiva. Ainda antes da hora de jogo, Solskjaer decidiu agitar as águas e tirou Martial e Cavani para lançar Jadon Sancho e Cristiano Ronaldo, refrescando grande parte do setor ofensivo e transmitindo à equipa que o objetivo era chegar ao segundo golo para não correr riscos. O resultado, porém, foi exatamente o oposto.
Na sequência de um pontapé de canto no meio-campo do Everton, um contra-ataque letal dos toffees acabou por deixar claro aquilo que era visível desde o início do jogo e que já tinha ficado visível contra o Villarreal: a defesa do Manchester United é demasiado macia, demasiado passiva e demasiado lenta, três características que se tornam ainda mais gritantes quando Harry Maguire está lesionado. Gray ganhou a bola de forma inacreditável no corredor esquerdo, soltou Doucouré no meio e o francês assistiu Townsend, que atirou cruzado para bater De Gea e até festejou como Ronaldo (65′), num lance em que a transição defensiva da equipa de Solskjaer tinha superioridade numérica mas nunca conseguiu controlar a jogada. Depois do golo, lá à frente, Ronaldo pedia o óbvio — tinha de ter existido uma falta sobre Gray no início da arrancada.
Com o resultado empatado, Solskjaer voltou a mexer e lançou Pogba no lugar de Fred, com Benítez a responder ao trocar Anthony Gordon por Tom Davies. Nesta fase, Ronaldo teve uma grande oportunidade para marcar, ao atirar ao lado quase já sem ângulo depois de uma combinação com Sancho (74′), e o Everton baixou as linhas para encurtar espaços ao Manchester United, atacando apenas com recurso à velocidade de Gray. Até ao fim, os red devils nunca tiveram a velocidade e a dinâmica necessária para desbloquear a igualdade e Yerry Mina ainda bateu De Gea (86′) mas o lance foi anulado por fora de jogo, com a equipa de Solskjaer a ser salva pelo VAR depois de uma jogada em que voltou a ser muito irresponsável a defender.
O Manchester United empatou em casa com o Everton e somou a segunda jornada consecutiva sem vencer, somando também o terceiro encontro consecutivo sem ganhar a nível interno se contarmos com a eliminação da Taça da Liga. A equipa de Solskjaer continua a ser pouco eficaz no ataque e pouco competente na defesa e pode ficar a três pontos do Liverpool se os reds baterem o Manchester City este domingo.
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