Índia, Paquistão, México, Espanha, Brasil, Sri Lanka, Austrália, Panamá e República Checa. Até agora, estes nove países já anunciaram o lançamento de investigações às atividades financeiras de alguns dos seus cidadãos e instituições, reveladas pela investigação jornalística Pandora Papers, segundo o The Guardian. Destes e de outros países, vão chegando reações ao novo escândalo sobre o uso de offshore para guardar fortunas. 

“Alegações infundadas.” Foi assim que o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, descreveu as informações reveladas nos 11,9 milhões de ficheiros confidenciais divulgados. Embora o nome do presidente russo não apareça nesses documentos, o mesmo não se pode dizer quanto ao nome de várias pessoas próximas de si: o seu melhor amigo de infância, Petr Kolbin, que já morreu, mas que era considerado a “carteira” da própria riqueza de Putin; e uma mulher com quem o líder russo terá tido um relacionamento amoroso. Dmitry Peskov defendeu que nenhuma riqueza oculta foi detetada no círculo íntimo do presidente russo.

O rei Abdullah II da Jordânia classificou como “difamatória” esta investigação jornalística que revela que comprou três mansões em Malibu, na Califórnia, avaliadas em 59 milhões de euros, através de offshores nas Ilhas Virgens Britânicas. Numa nota, citada pelo The Guardiam, disse que os ficheiros divulgados “contêm imprecisões”. Além disso, “distorceram e exageraram os factos”.

Nomes de Blair e do rei Abdullah II nos negócios de líderes mundiais expostos pelos Pandora Papers

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Andrej Babiš, o primeiro-ministro checo, reagiu poucas horas depois da divulgação, no debate para as eleições legislativas. “Este assunto é de 2009. Portanto, a escolha do momento é interessante: duas horas antes do início deste debate“, começou por dizer. De acordo com o Pandora Papers, o líder da República Checa não terá tornado pública toda a informação sobre os bens que possuía, quando tomou posse em 2017, nomeadamente a compra de um castelo na Riviera Francesa através de offshores e de outras sete propriedades próximas ao castelo através de uma empresa com sede no Mónaco.

O dinheiro saiu de um banco checo, os impostos devidos foram pagos, o dinheiro era meu e voltou para a República Checa”, afirmou.

Também o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, garantiu que todas as suas atividades foram legais e “devidamente declaradas”. “Todas as atividades privadas de Paulo Guedes, antes de tomar posse como ministro, foram devidamente declaradas ao fisco e a todos os órgãos competentes, incluindo a sua participação na referida empresa [offshore]”, lê-se numa nota divulgada pelos seus assessores, onde é também garantido que o ministro cessou “toda a atividade no setor privado” depois de entrar para o Governo, em 2019, “respeitando integralmente a legislação”.

Embora seja um dos visados, o presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, considerou que os Pandora Papers vão “melhorar a transparência financeira e a abertura necessárias no Quénia e em todo o mundo”. A investigação alega que Kenyatta possui secretamente uma rede de 11 offshore com seis membros da família — uma delas com ativos no valor de 30 milhões de dólares (25,8 milhões de euros). Sobre estas acusações, o presidente do Quénia não falou no comunicado que divulgou. “Os fluxos ilícitos de dinheiro, lucros de crime e a corrupção prosperam num ambiente de segredo e escuridão”, disse apenas.

Pandora Papers. Manuel Pinho, Morais Sarmento e Vitalino Canas mencionados em nova investigação jornalística

Boris Johnson pediu que doações ao Partido Conservador sejam analisadas. Tony Blair Institute afasta ilegalidades

O primeiro-ministro britânico também reagiu, pedindo que todas as doações ao Partido Conservador sejam analisadas. Em causa está o facto de os Pandora Papers terem revelado que Mohammed Amersi, que financiou a campanha de Boris Johnson e doou aos cerca de 750 mil libras ao partido, está envolvido num negócio que envolveu o suborno da filha do antigo Presidente do Uzbequistão, Islam Karimov.

O Tony Blair Institute acusou o jornal britânico The Guardian de “deturpar” deliberadamente a compra de um edifício vitoriano em Londres por um valor de 6,5 milhões de libras (cerca de 7,5 milhões de euros), que viria a servir como sede do escritório de advocacia de Cherie Blair. De acordo com o The Guardian, o Tony Blair Institute garante que os Blairs “sempre pagaram seus impostos integralmente e nunca usaram esquemas de evasão offshore de qualquer tipo”.

O ministro das finanças britânico, Rishi Sunak, considerou que não é nenhuma vergonha que Londres tenha a reputação de ser a capital mundial da evasão fiscal. Mas deixou a promessa de que as autoridades fiscais do Reino Unido iriam ter em conta o que os Pandora Papers lhes podem ensinar.

Pandora Papers. Shakira, Guardiola e Julio Iglesias entre as estrelas internacionais que usaram offshores para negócios

Porta-voz adjunta de Von der Leyen recusa comentar casos individuais, mas critica fuga aos impostos. “Tiremos o chapéu a esta fonte!”, diz Snowden

Edward Snowden, o ex-analista dos serviços de informações norte-americanos, que em 2013 revelou esquemas de espionagem e vigilância, recorreu ao Twitter para elogiar a investigação jornalística. “Tiremos o chapéu para a fonte”, escreveu ele num tweet onde acrescenta: “O lado engraçado desta história muito séria é que, mesmo depois de duas fugas de informação apocalípticos” relacionados com offshores e escritórios de advogados offshore, “estas indústrias ainda estejam a armazenar bancos de dados”, com a informação. E ainda os protegem com um post-it a dizer: ‘Não divulgar'”, ironiza.

Da União Europeia, chegou a reação através de Dana Spinant, porta-voz adjunta da presidente da Comissão Europeira, Von der Leyen. A responsável defendeu que “é uma questão de justiça que todos paguem impostos, sobretudo nestes difíceis momentos orçamentais como aqueles que agora vivemos, onde toda a gente, a todos os níveis, quer a nível individual, quer a nível nacional, têm de assumir os custos de uma riqueza muito espalhada e de uma crise económica pela qual o mundo está a passar”. “Contudo, isto não nos coloca numa posição de expressarmos opiniões sobre casos individuais que foram expostos”, rematou.

“Há quase sempre negócios ou relações obscuras” envolvidas no uso de offshores, diz presidente da Transparência e Integridade