15 milhões de dólares (cerca de 13 milhões de euros). Este é o montante da ronda que a sociedade de capital de risco norte-americana Casa Verde, especializada em investimentos na indústria da canábis medicinal e cofundada por Calvin Broadus, também conhecido como Snoop Dog, cedeu à empresa portuguesa Ace Cann para criar uma unidade de produção de produção da planta em Vendas Novas. Ao Observador, Pedro Gomes, fundador da Ace Cann, diz que o fundo olha para esta aposta em Portugal como “uma plataforma para a entrada na Europa”.
Vamos, sem dúvida, ser um hub para a Europa. Não só em termos de produção, em também termos de know-how“, refere Pedro Gomes.
Esta ronda de angariação de capital, que é a primeira no continente europeu da Casa Verde — que, no final de 2019, angariou 100 milhões de dólares para o investimento em negócios da indústria da canábis, como avançou o TechCrunch —, contou ainda com a participação do fundo português Lince Capital e de outros investidores privados. Deste montante, a Casa Verde entrou com 2,3 milhões de dólares (dois milhões de euros, aproximadamente), adianta Pedro Gomes.
Como adianta a empresa, este montante vai ser utilizado para continuar a construção da fábrica de Vendas Novas (arrancou em setembro), que, além do cultivo, processamento e extração de canábis, vai também estudar os efeitos da planta para o tratamento de doenças.
A partir de abril começará a ser vendida canábis medicinal nas farmácias
“Sabemos que a canábis tem efeito benéfico em muitas patologias, mas não sabemos como”, assume Pedro Gomes. O empreendedor de 41 anos afirma que “o mercado recreativo” não é o foco da empresa e assume que apesar de já se saberem os “efeitos benéficos em muitas patologias” da canábis medicinal, que ainda “falta informação”. “Queremos avançar para isso também”, refere sobre a aposta em investigação que esta unidade de produção também vai desenvolver.
O nosso objetivo é criar o padrão ouro em canábis medicinal — do cultivo à comercialização, com proteção da propriedade intelectual em cada etapa da cadeia de valor”, refere a AceCann.
Pedro Gomes explica que a empresa, fundada em 2019, vai criar os produtos da mesma forma que se produz outros remédios. “Vai ser tudo equivalente a uma fábrica da indústria farmacêutico”, explica. Apesar de também criar produtos que podem ser inalados, o foco será em óleos — que são aplicados debaixo da língua —, “porque têm menos efeitos secundários”.
Para já, a empresa ainda não tem clientes. No entanto, e não avançando números quanto a Portugal, a AceCann e os investidores esperam que a indústria europeia de canábis valha 3,4 mil milhões de dólares (aproximadamente 2,9 mil milhões de euros) já em 2024. “À medida que a legalização espalha-se pela Europa, prevemos um aumento rápido e exponencial na demanda por flores e extratos de canábis de alta qualidade”, refere Yonatan Meyer, sócio na Casa Verde
Com uma equipe experiente, técnicas únicas de cultivo e extração e vasta rede, a AceCann pode tornar-se um fornecedor premium para a crescente indústria de canábis medicinal da Europa”, frisa a Casa Verde.
A unidade de produção terá cerca de 3,5 mil metros quadrados de cultivo de canábis. Até 2024, a empresa espera produzir entre 15 a 20 milhões de euros em vendas anuais, disse Pedro Gomes numa entrevista ao Sifted. Ao Observador, o empreendedor explica que, atualmente, o maior constrangimento no acesso a este tipo de terapia em Portugal é a falta de comparticipação pelo Sistema Nacional de Saúde (SNS), algo que “já acontece, por exemplo, na Alemanha”.
“A 10 euros por grama não é qualquer pessoa que consegue continuar” um tratamento receitado, adianta Pedro Gomes, defendo a implementação deste apoio no país. Na Alemanha, segundo dados disponibilizados da German National Association of Statutory Health Insurance Funds disponibilizados pela empresa, no primeiro semestre de 2021 foram reembolsados 90 milhões de euros neste tipo de medicamentos.
A Ace é a primeira empresa portuguesa a receber um certificado para a prática de atividades de investigação e desenvolvimento para Agência Nacional de Inovação (ANI). Um dos seus principais concorrentes em Portugal é a Tilray, que, desde 2017, cultiva canábis medicinal em solo nacional, numa fábrica em Cantanhede.
Como explica o Infarmed, “a Lei n.º 33/2018, de 18 de julho, estabeleceu o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins medicinais, nomeadamente a sua prescrição e a sua dispensa em farmácia”. O primeiro produto à base desta planta a ser aprovado para venda em Portugal é da Tilray. Desde este ano que começou a estar à venda nas farmácia mediante receita médica.
*Artigo alterado às 19h36 com a clarificação que a Casa Verde contribui com 2,3 milhões dos 15 milhões de dólares investidos.