“Que estes dias possam ficar na nossa memória como um encontro estimulante entre leitores de Pessoa. Uma série de boas conversas.”
O desejo, evocado pela diretora da Casa Fernando Pessoa, ecoou pelo auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, que durante três dias recebe uma nova edição do Congresso Internacional Fernando Pessoa, um encontro de especialistas e leitores em torno da obra de um dos mais importantes e singulares autores da língua portuguesa. Serão 14 mesas de apresentação de investigações terminadas ou em curso, sobre textos conhecidos e outros menos conhecidos, por investigadores sediados em Portugal e no estrangeiro.
Este ano, excecionalmente, apenas os primeiros, “cuja vinda foi possível antever” quando o programa do congresso começou a ser preparado há um ano, explicou Clara Riso, estarão presencialmente na Gulbenkian, em Lisboa. Os restantes especialistas apresentarão as suas investigações à distância, a partir dos seus países de residência.
“Novas propostas que o estudo de Pessoa não para de suscitar, quer seja pela quantidade e qualidade dos textos que deixou”, por muitos não terem sido acabados, pela controvérsia e contrariedade de outros, ou, e talvez sobretudo “por ter sido um escritor e pensador tão singular”, apontou Riso, durante a abertura, pelas 10h desta quarta-feira, lembrando que o congresso, que decorre até sexta-feira, surge no seguimento de outros “anteriores que são seus percursores”.
[O congresso decorre presencialmente na Fundação Calouste Gulbenkian, mas pode ser acompanhado online, aqui:]
O programa deste Congresso Internacional Fernando Pessoa, extenso e variado, inclui homenagens a três importantes estudiosos da obra de Pessoa, entretanto desaparecidos: Eduardo Lourenço, Maria Ariete Galhoz e Ana Maria de Freitas. A primeira aconteceu já esta quarta-feira de manhã, pelas 10h30, com a participação de Osvaldo Manuel Silvestre, que admitiu dever a Lourenço “parte significativa” da sua formação”, e Carlos Manuel Sousa. A homenagem a Maria Aliete Galhoz e Ana Maria Freitas ocorrerá esta quinta-feira, pelas 15h.
Estas iniciativas foram destacadas por Guilherme d’Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, a quem coube abrir o evento, que classificou “de maior relevância na diversidade de temáticas que envolve em torno da edição, arquivo, filosofia e posteridade de Fernando Pessoa, bem como a apresentação de novas leituras de poemas, textos em prosa e teatro”.
“Estão presentes aqui através das suas obras, do seu contributo”, apontou o responsável, referindo-se em especial à contribuição de Lourenço para “o esclarecimento do mecanismo criador de Pessoa, através dos seus textos”, exposto mais pormenorizadamente por Osvaldo Manuel Silvestre e Carlos Manuel Sousa na sessão que se seguiu. “Ouvindo os ecos de Eduardo Lourenço, abrem-se horizontes de reflexão a partir dos textos, do testemunho, do contributo inigualável de Fernando Pessoa”, defendeu.
“Este não é um congresso qualquer”, apontou Oliveira Martins, “mas há momentos especiais em que podemos aproveitar as circunstancias para, com Fernando Pessoa, podermos valorizar aquilo que constitui indiscutivelmente um marco fundamental para a compreensão de uma cultura portuguesa aberta, cosmopolita e que cada vez mais é considerada internacionalmente um contributo relevante”.
“Como este congresso demonstra, Pessoa terá a maior companhia”
Nuno Artur Silva, secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, que também participou na abertura do congresso internacional, que contou ainda com a presença de Joana Gomes Cardoso, presidente do Conselho de Administração da EGEAC, destacou o papel dos pessoanos na divulgação da obra de um autor que se encontrava maioritariamente inédito no momento da sua morte.
“O papel de quem trabalhou o espólio foi essencial para o seu conhecimento e divulgação”, apontou. “Sem os pessoanos, dificilmente teríamos o Pessoa que hoje está acessível a quem o quiser ler e estudar. Quero por isso juntar-me também à homenagem a três grandes pessoanos, Eduardo Lourenço, Maria Ariete Galhoz e Ana Maria de Freitas, que abriram novos caminhos no conhecimento da obra de Pessoa.”
O secretário de Estado prestou ainda homenagem a “todos aqueles que dedicaram e dedicam a estuda a obra de Pessoa e a aumentar os leitores”. “Como Pessoa escreveu em ‘Sá-Carneiro’, ‘há em nós (…) um desejo de termos companhia. Como este congresso demonstra, Pessoa terá a maior companhia”.