É uma doença que já acompanha os humanos há milhares de anos, mas que agora foi transmitida, pela primeira vez desde que há registos, a outra espécie — os chimpanzés. Recentemente, foram detetados dois grupos de animais na Guiné-Bissau com lepra. A origem dos surtos ainda é desconhecida.

“É a primeira confirmação de lepra num animal em África”, anunciou em comunicado uma equipa de cientistas liderada por Kimberley Hockings, investigadora do Centro de Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter, que diz ainda que é “impressionante” que aconteça ao nosso “parente” animal “mais próximo”.

Sobre os sintomas, os cientistas revelam que são “muito semelhantes” àqueles que os humanas sentem e consistem em lesões no corpo e dificuldades de locomoção. Adicionalmente, referem que as linhagens da doença detetadas em cadáveres de chimpanzés são sempre “diferentes” e também são “raras” em humanos.

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A equipa de investigação considera que existe uma “transmissão da doença” em países em que a lepra ainda é uma doença endémica — como na Guiné-Bissau. “É possível que os chimpanzés consigam ficar contagiados com lepra transmitida pelos humanos, ainda que as pessoas não matem ou comam esta espécie”, sublinham os especialistas, acrescentando que a doença passou a ser transmitida de animal para animal.

Sendo uma espécie de risco de extinção, os cientistas temem que a doença possa ter um impacto nestes mamíferos. “Os chimpanzés da África Ocidental estão em risco crítico de extinção, o que significa que a perda de alguns poderia já ser significativo”, dizem os cientistas, que consideram ser necessário monitorizar os efeitos da doença “a longo prazo” para perceber quais são os efeitos da lepra nos animais.

Causada pela bactéria Mycobacterium leprae, a lepra invade as células e acaba por as danificar. Apesar de ser uma doença que pode levar à cegueira ou mesmo à morte, a transmissão entre humanos é difícil, sendo que é necessário que haja um contacto com um infetado durante meses, para além de 95% das pessoas serem naturalmente imunes. Outro pormenor importante é ainda a melhoria na higiene urbana e nas condições sanitárias, que criou ainda mais entraves para a doença se propagar.