Era dos narcotraficantes mais procurados na Colômbia — recaía sobre ele 128 ordens de detenção por vários crimes, desde homicídio à captura de menores. Dario Antonio Usaga, também conhecido por ‘Otoniel’, tinha a fama de ser um homem desconfiado. Não gostava de dispositivos eletrónicos, preferindo enviar um mensageiro para transmitir informações, e estava, no máximo, dois dias em cada localidade em que passava.

Era também cruel. O Presidente colombiano, Iván Duque Márquez, relatou que procurava raparigas de 12, 13 anos para lhes tirar a virgindade.

A própria família conhecia a personalidade de ‘Otoniel’ — a mãe chegou a rezar para que a polícia o detivesse: “Eu queria que ele estivesse na cadeia”. Numa entrevista ao El Mundo há seis anos, Ana Celsa David confidenciava que se o filho estivesse na prisão isso podia ser “mais seguro”. Lá, conta ainda, “podia ser que se arrependesse” de tudo o que fez. Se assim fosse, a mãe pensava que ‘Otoniel’ ainda “podia ir para o Céu”.

A vida de Ana Celsa David era muito diferente da do filho. Trabalhava na área da pecuária, juntamente com o marido, vendendo porcos e galinhas em Antioquia, no noroeste da Colômbia, próximo da fronteira com o Panamá. ‘Otoniel’ vinha de origens humildes e a mãe recorda, na mesma entrevista, que era um jovem tímido na escola.

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Foi só aos 18 anos que “se perdeu”, relata a mãe. Com essa idade, juntou-se ao Exército Popular de Libertação, que, no final dos anos 80, controlava a região de Antioquia. Era um grupo formado essencialmente por dissidentes maoistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). “Ele [‘Otoniel’] não era revolucionário, era o que havia na altura e um dia partiu com eles”, lembra Ana Celsa David.

Fruto de pressões internas, ‘Otoniel’ abandonou o EPL. Entre 1993 e 1994, integrou as Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU) — inimigos das FARC e num espetro ideológico completamente oposto, sendo uma organização paramilitar que tendia para a extrema-direita com ligações ao narcotráfico.

Foi nas ACCU que ‘Otoniel’ começou a construir o seu império. Numa tentativa de reconciliação, o governo colombiano chefiado por Álvaro Uribe, no início dos anos 2000, tentou desmobilizar as organizações paramilitares no país. As ACCU entregaram as armas e renderam-se, mas Dario Antonio Usaga recusou entregar-se à justiça, preferindo continuar na clandestinidade.

Em 2012, o irmão Juan de Dios, mais conhecido por ‘Giovanni’, morre na sequência de uma troca de tiros com a polícia. Depois disso, ‘Otoniel’ passou a liderar o Clã do Golfo, montando uma rede criminosa com presença em praticamente todo o território colombiano, com ligações ao narcotráfico, ao tráfico de imigrantes e à mineração ilegal.

A Justiça norte-americana acusou ‘Otoniel’ de chefiar uma organização “fortemente armada”, “extremamente violenta” e que usava a intimidação para conseguir deter o controlo das rotas de tráfico de droga. As autoridades de Washington chegaram a oferecer cinco milhões de dólares (cerca de 4,3 milhões de euros) de recompensa para quem encontrasse Dario Antonio Usaga.

Capturado “Otoniel”, o narcotraficante mais procurado na Colômbia

Para combater o grupo de ‘Otoniel’, o governo colombiano criou mesmo uma operação especial — chamada de Agamenón — que chegou a ser composta por três mil homens. Foi esta que conseguiu deter talvez o homem mais procurado de toda a Colômbia, que estava escondido numa selva no noroeste do país até este sábado.