A diretora clínica do hospital de Castelo Branco critica o que classifica de “alertas empolgados” por parte do Sindicato Independente dos Médicos. Na última semana, o SIM divulgou um comunicado, onde era pedida uma “salvação urgente” para o Hospital de Castelo Branco. Na nota, o sindicato pedia responsabilidades sobre as “insuficiências nos diversos serviços de saúde” e avançava que muitas áreas da unidade “têm funcionado à custa de prestadores externos”.
Também a Ordem dos Médicos veio esta quarta-feira salientar que o Hospital de Castelo Branco precisa de mais 44 médicos para “funcionar adequadamente” e atualmente tem cerca de 36 médicos tarefeiros no serviço de urgência.
“Nós percebemos nesta reunião que, efetivamente, havia grandes dificuldades, que têm sobretudo a ver com os recursos humanos médicos. E foi-nos dado aqui um número que é preocupante. Para o hospital seriam necessários 44 médicos para funcionar adequadamente, para suprir algumas das suas dificuldades, não todas as suas dificuldades. Este é um número mínimo para o funcionamento deste hospital”, afirmou o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM).
Carlos Cortes falava aos jornalistas, depois de uma reunião com o Conselho de Administração (CA) da Unidade Local de Saúde (ULSCB) de Castelo Branco, direção clínica e diretores dos serviços de Urgência, Pediatria e Medicina Interna.
Este responsável disse que esta é uma primeira visita, porque a Ordem dos Médicos conta ir mais vezes a Castelo Branco para tentar perceber quais são as dificuldades que outros serviços, além do serviço de Urgência, têm neste hospital e também nos centros de saúde” da ULSCB.
“Detetámos aqui algumas dificuldades em alguns serviços: na medicina interna, pediatria, dificuldades em recursos humanos volto a salientar, na ginecologia obstetrícia e serão todos serviços que serão objeto de uma visita mais aprofundada da Ordem dos Médicos, inclusivamente com a presença dos colégios da especialidade”, frisou.
O objetivo das futuras visitas passa por avaliar o aspeto assistencial, quais as condições da prestação dos cuidados de saúde à população, além do aspeto formativo, para saber a capacidade que este hospital tem para formar especialistas.
“Devo dizer que este hospital é paradigmático daquilo que o Ministério da Saúde está a fazer de errado no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, acusou o presidente da SRCOM.
Adiantou ainda que o HAL tem 12 assistentes graduados seniores (topo da carreira médica), que são “muito importantes” para a organização dos serviços e para estabilizar as equipas nos hospitais.
“Num diploma recente do Ministério da Saúde, em que abriram 250 vagas de assistente graduado sénior para todo o país, este hospital solicitou a abertura de 12 vagas. Destas 12, o Ministério da Saúde atribuiu zero. Isto diz muito, infelizmente, das intenções em resolver os problemas dos hospitais que têm dificuldades. O hospital de Castelo Branco tem imensas dificuldades”, sustentou.
Carlos Cortes avançou ainda com os números referentes ao serviço de Urgência que atualmente, “tem à volta de 36 prestadores de serviço”.
“E o que é que isso significa? Não é uma opção do CA, em primeira mão, os prestadores de serviço. O CA quer e bem, e é isso que é necessário para o SNS, para este hospital e para o seu serviço de Urgência, contratar médicos para o quadro. Infelizmente, o Ministério da Saúde não tem dado condições para os médicos se estabelecerem aqui em Castelo Branco”, disse.
O responsável da SRCOM sublinhou que basta ver o histórico: “Basta ver, por exemplo, as vagas que têm sido abertas para este hospital, à volta de 06% de todas as vagas que foram abertas, nos melhores anos, na região Centro. Isso é muito insuficiente. E nós percebemos que, para o Ministério da Saúde, as dificuldades do hospital de Castelo Branco não são prioritárias, não são importantes. O hospital de Castelo Branco é um hospital esquecido do Ministério da Saúde”.
Carlos Cortes concluiu que, somando ao hospital de Castelo Branco todos os hospitais da região Centro, existe “um SNS a definhar, por grande responsabilidade e falta de capacidade de resposta do Ministério da Saúde”.
À Rádio Observador, a diretora clínica do hospital, Maria Eugénia André, esclarece que “o quadro do Hospital Amato Lusitano sempre foi envelhecido e que desde 2009, pelo menos, as falhas nas escalas são compensadas pela contratação de prestadores de serviço”. A diretora clínica do Hospital de Castelo Branco rejeita, por isso, que a unidade esteja a passar por dificuldades e fala numa “situação que já tem vários anos”.
Maria Eugénia André considera que os alertas do Sindicato Independente dos Médicos sobre o hospital têm sido “empolgados e sem benefícios”. De acordo com a diretora clínica, “depois de avançadas as primeiras denúncias sobre a contratação de médicos tarefeiros, os prestadores de serviços optaram por deixar de colaborar com o hospital, por não quererem estar envolvidos em polémicas”.
Castelo Branco. “Alertas negativos muito empolgados sem benefício para o hospital”
Desde 2015 que a contratação de médicos tarefeiros no Hospital de Castelo Branco tem subido. Maria Eugénia André confessa que uma das maiores dificuldades da unidade é reter os médicos mais novos que “não querem ficar a trabalhar no interior do país”.
Durante a pandemia, no Hospital Amato Lusitano, foram registadas apenas duas aposentações,”situações que foram de imediato resolvidas pela administração”. A diretora clínica explica que as escalas do Hospital de Castelo Branco têm cada vez mais profissionais e já está em avaliação a abertura de mais vagas para as especialidades de cardiologia e neurologia.
Apesar de Maria Eugénia André considerar que “não há nada de novo que justifique os alertas do sindicato”, reconhece que o cansaço provocado pela pandemia de Covid-19 nos médicos pode ter motivado as denúncias sobre um problema que já tem mais de dez anos. A responsável pela unidade de saúde de Castelo Branco afasta, ainda assim, a possibilidade de ocorrer uma demissão em bloco de médicos, explicando que a proximidade da administração do hospital com os profissionais de saúde pode “evitar saídas”.
Os pedidos de demissão em bloco nos hospitais e a falta de recursos humanos são dois dos problemas que o Serviço Nacional de Saúde tem enfrentado nas últimas semanas. Esta segunda feira, mais de metade dos chefes de urgência do Hospital de Braga pediram a demissão, em causa está a falta de recursos humanos e o recurso constante a médicos tarefeiros.
Mais de metade dos chefes de equipa dos serviços de urgência do Hospital de Braga demite-se em bloco
Já no início do mês, no Hospital de Setúbal, 87 médicos apresentaram a demissão. Neste hospital, os problemas levantados estão relacionados com a falta de obstetras e a “rutura iminente do hospital”.
Demitiram-se em bloco 87 médicos do Hospital de Setúbal. Apenas três não assinaram carta de demissão