Os mercados financeiros já estavam a apostar que o Banco Central Europeu (BCE) acabará por subir as taxas de juro antes do final do próximo ano, em dezembro de 2022, mas a negociação nas últimas horas reflete uma aposta de que esse momento irá chegar ainda mais rapidamente do que isso: em outubro de 2022. Os investidores que participam nos mercados de instrumentos financeiros complexos (indexados às taxas de juro do euro) estão, no fundo, a desafiar as garantias que ainda nesta quinta-feira foram dadas pela presidente do BCE, Christine Lagarde.

Na conferência de imprensa desta quinta-feira, além de garantir que os estímulos monetários vão continuar enquanto forem necessários, Christine Lagarde comentou que aquilo que os mercados estão a dizer sobre as perspetivas de subida de taxas de juro “não é coincidente” com a orientação futura que tem sido dada pelo BCE. A francesa não acrescentou muito mais, porém, e chegou a considerar que não é o seu papel fazer comentários sobre se os mercados financeiros estão ou não a precipitar-se nas apostas que estão a fazer.

Lagarde foi mais branda do que alguns poderiam esperar nessa garantia de que os juros não irão subir mais cedo do que o previsto, num processo em que a zona euro arrisca ser arrastada pelos EUA, que estão mais avançados nesse caminho de normalização da política monetária. Além disso, esta manhã o Eurostat revelou que a inflação da zona euro atingiu os 4,1% em outubro, uma aceleração face aos 3,4% de setembro.

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Com estes dois fatores, a reação nos mercados financeiros está a ser no sentido de aproximar ainda mais a data provável de aumento das taxas de juro. Segundo os dados da Bloomberg, as cotações de mercado apontam para um aumento de 20 pontos-base na taxa de juro dos depósitos já em outubro, elevando-a para -0,30% (face aos atuais -0,50%).

Esta é uma taxa de juro diferente da taxa de juro diretora, que permanece em zero, mas quando houver essa primeira subida é inevitável que haja um contágio, por exemplo, à taxa Euribor, que é uma taxa interbancária que, embora tenha as suas próprias flutuações, segue de perto a taxa de juro definida pelo banco central.

É à taxa Euribor que está indexada a maioria dos créditos em Portugal, designadamente os créditos à habitação com taxa variável – e pequenas variações no indexante podem refletir-se em agravamentos significativos das prestações a pagar.

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Por outro lado, o nervosismo dos investidores também se está a refletir na subida das taxas de juro dos países do sul da Europa. Embora se mantenham abaixo dos níveis registados em maio, os juros de Portugal a 10 anos estão hoje a aumentar 16 pontos-base para 0,57%. Também as taxas a 10 anos de Espanha estão a subir numa medida semelhante, para 0,64%.

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Os riscos da inflação dominaram a reunião do BCE e a conferência de imprensa de Christine Lagarde na quinta-feira, com a presidente do BCE a fazer uma longa “reflexão introspectiva” sobre essa matéria, nas palavras do Capital Economics. Essa reflexão fez com que “os investidores ficassem ainda menos convencidos de que o BCE vai contrariar a tendência de subida dos juros que existe noutros locais”, afirma a consultora económica em nota partilhada com o Observador.

Ainda assim, a opinião do Capital Economics é de que “os investidores estão a precipitar-se e, embora seja certo que se tornaram mais incertos os próximos tempos, continuamos a acreditar que as taxas de juro não vão subir no futuro próximo”.

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