A coordenadora do BE defende que, sem maioria absoluta nas próximas eleições, o PS deve repensar-se e reposicionar-se para um acordo à esquerda, apontando cansaço ao Governo e críticas à atuação do Presidente da República nesta crise política.
Em entrevista ao Expresso depois do chumbo do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), a líder bloquista afirma que o partido votou contra, “em coerência com o seu mandato”, porque percebeu que o orçamento como estava “não ia impedir a degradação das condições de vida e de serviços como o SNS”.
“Agora, continuo a achar que existe em Portugal uma maioria política que pode e deve entender-se para as questões fundamentais do emprego e da saúde”, defende.
Questionada sobre o que irá mudar com eleições legislativas antecipadas, Catarina Martins responde: “se o PS tiver maioria absoluta, não quererá negociar nada. Se não tiver, terá seguramente de se repensar e reposicionar para fazer um acordo à esquerda que permita avanços pelo emprego e pela saúde”.
Apesar de perceber “a frustração de quem preferia uma solução forte à esquerda para o país”, uma vez que partilha dela, para a coordenadora do BE “o que não é possível explicar é que a esquerda conviva com um país que não está a ter uma estratégia no horizonte”.
Interrogada sobre os riscos de uma campanha eleitoral a trocar críticas sobre o chumbo do orçamento poder dispersar a esquerda, Catarina Martins rejeita “fazer autópsias do que não se conseguiu”.
“É preciso é apresentar um projeto para que as pessoas saibam para que serve o seu voto. E isso significa programas claros e clareza sobre a vontade negocial”, afirma.
Na análise da bloquista, “o Governo está muito cansado”.
“António Costa decidiu resolver o cansaço criando uma crise política e lançando-se para eleições. Acho que devia ter sido possível lançar plataformas de entendimento mais exigentes”, critica.
Catarina Martins deixa claro que tem “muitas dúvidas se o Presidente da República atuou da melhor forma” porque considera que “foi um erro ter colocado a decisão de eleições antecipadas sobre a aprovação do orçamento.
“Constitucionalmente não é preciso, há várias soluções que não essa. Criou uma situação de crise política que não tinha de criar, eventualmente achando que uma pressão adicional levaria a uma solução. Julgo que acabou por ter o efeito contrário. Por outro lado, no meio da tensão que o país sentiu, o Presidente da República começou a fazer contactos com o seu próprio partido, o que acaba por criar ruído”, explica.
Sobre a possibilidade de uma nova geringonça depois das eleições, a líder bloquista considera que “a prisão em determinados clichés pode ser perigosa”.
“Acho que neste momento a definição deve ser outra, de uma estratégia para o país que consiga recuperar os rendimentos do trabalho e o equilíbrio da economia portuguesa. Logo veremos a força de cada partido”, enfatiza.