A Galp Energia garante que o abastecimento de gás natural a Portugal não está em risco apesar das falhas nas entregas por parte de alguns fornecedores de longo prazo. O presidente executivo Andy Brown reafirma o que disse há uma semana numa conferência com analistas a propósito dos resultados do terceiro trimestre sobre a existência de falhas nas entregas contratualizadas com a Galp por parte de produtores de gás natural.

Numa conversa com jornalistas esta quarta-feira, o gestor justifica estas falhas com a falta de capacidade de alguns fornecedores em cumprir com as quantidades contratadas, sobretudo porque durante as restrições criadas pela pandemia os produtores cortaram nos gastos com a manutenção e com nova produção. “Alguns fornecedores não estão fortes como deviam. Há redução na capacidade de produção prevista quando os contratos de venda foram negociados”.

O CEO da Galp não confirma que as falhas têm ocorrido por parte do maior fornecedor gás natural liquefeito (GNL) a Portugal — a Nigéria — nem especifica se as quantidades em falta são significativas.

Mas explica que a situação cria um problema para a empresa que é ao mesmo tempo comercial e financeiro. Para se proteger do risco da diferença de preços entre o gás natural e o petróleo (que serve de indexante a alguns contratos de longo prazo), a Galp vende antecipadamente o gás natural e quando o fornecedor não cumpre os prazos de entrega, a empresa tem de ir comprar ao mercado spot o gás para o entregar aos clientes. E como o gás está muito caro isso traduz-se em prejuízo nessas transações.

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“Estamos a discutir neste momento sobre quando dinheiro vamos perder para abastecer de gás e eletricidade os nossos clientes. Toda a gente acha que este tempo é maravilhoso para as empresas de energia, mas isto está a ser muito duro para nós. Temos de fazer escolhas sobre como definir os preços de forma a limitar a perda que vamos sofrer”.

O presidente executivo da Galp assegura que estas falhas não representam uma preocupação sobre a segurança do abastecimento de gás a Portugal, mas sim uma situação comercial a gerir pela empresa que é a maior fornecedora de gás no mercado doméstico e industrial.

Quando questionado sobre o tempo que poderá demorar a estabilizar entregas e preços do gás, deixa um aviso. “Ninguém sabe o que vai acontecer no próximo ano”. A manutenção de problemas no preço do gás e do petróleo vai depender de quão frio vai ser o inverno, lembrando que o armazenamento de gás na Europa está 75% abaixo do que é normal para esta época do ano. “Se o inverno for frio, isso trará problemas de abastecimento. Se for moderado, não”.

Nigéria é o maior fornecedor. Argélia perde peso

A Nigéria vendeu 46% do gás comprado pela Galp no ano passado. Argélia e Nigéria são os dois fornecedores de longo prazo a Portugal através de contratos feitos com a empresa de gás e petróleo. Ainda na semana passada, a Argélia anunciou que deixaria de usar o pipeline de Marrocos para abastecer a Península Ibérica. O Ministério do Ambiente e Ação Climática desvalorizou, em resposta ao Observador, o impacto, indicando que o gás argelino representa apenas 0,1% do volume total  importado por Portugal em 2021 (período de janeiro a agosto deste ano). As restantes importações, através de gasoduto, vindas de Espanha correspondem a 8%.

“O abastecimento de GN é feito, desde há vários meses, quase na totalidade através do terminal de GNL de Sines (92% do volume total de gás importado entre janeiro e agosto deste ano) pelo que, no caso de existirem perturbações de fornecimento de GN por gasoduto, esta infraestrutura poderá funcionar como alternativa de entrada do GN em Portugal. Por outro lado, existem reservas de segurança de GN nas infraestruturas de armazenagem (Armazenamento Subterrâneo do Carriço e Terminal de GNL de Sines) cujas quantidades armazenadas permitem fazer face a eventuais disrupções no abastecimento”.