Nos países da Europa tanto podemos encontrar 20 pessoas totalmente vacinadas em cada 100 habitantes, como 40, 50 ou até quase 90 em cada 100. Já a ordenação crescente da taxa de vacinação entre os países europeus, corresponde quase à ordenação decrescente das novas mortes por milhão de habitantes.
Os quatro países com menos pessoas totalmente vacinadas por cada 100 habitantes — de 19,4 a 23,2 — estão também entre aqueles que apresentam o maior número de novos óbitos por milhão de habitantes — com 28,4 mortes por milhão na Bulgária (ainda que nem sequer esteja entre os países com maior número de novos casos por milhão).
No extremo oposto, a maior parte dos países que vacinou mais de 60% da população — Portugal incluído — regista menos de uma morte por milhão de habitantes — tal como acontece no nosso país.
Estes resultados parecem confirmar aquilo que sabe sobre a eficácia da vacina contra a Covid-19 na diminuição do risco de morte. Mas no primeiro gráfico também se destacam as exceções: a Letónia com 58,3% das pessoas vacinas, mas 25,7 mortes por milhão de habitantes ou os 13,8 óbitos por milhão na Lituânia com 64,9 pessoas em cada 100 totalmente vacinadas.
Além disso, o esquema invertido que se verifica entre vacinação e morte não encontra paralelo quando se tenta comparar com os novos casos de infeção. Por exemplo, a Eslovénia e a Croácia estão entre os países com mais novos casos por milhão (mais de 1.700 em ambos os casos), mas têm 54,3% e 45% da população vacinada. Por outro lado, a Eslovénia regista 4,8 mortes por milhão de habitantes e a Croácia 16,2.
O médico de Saúde Pública Ricardo Mexia indica que a variação nas mortes não é só causa da vacinação, “é multifatorial”. “Há uma série de outras medidas que influenciam, nomeadamente medidas não farmacológicas, testagem, estrutura etária da população, etc.”, diz o médico ao Observador.
É certo que a vacinação contra a Covid-19 é muito mais eficaz a reduzir o risco de morte do que a evitar a transmissão ou a infeção com o SARS-CoV-2, diz Manuel do Carmo Gomes ao Observador. Mas o epidemiologista explica que quando se avaliam os novos casos é preciso ter em conta o momento em que os países iniciaram a campanha de vacinação e a perda de proteção, assim como o nível de abertura da economia e quando ela aconteceu.
ECDC. Quatro países europeus têm menos de 50% das pessoas totalmente vacinadas
Olhar para o aumento do número de casos sem perceber em que faixas etárias aconteceram é perder uma parte da informação, visto que os mais jovens têm tendência a socializar mais, os adultos em idade ativa têm mais contactos porque regressaram ao trabalho, mas são os mais idosos que têm doença mais grave e acabam por morrer.
Olhar para os países onde as novas mortes por milhão de habitantes são mais elevadas também revela outro pormenor: são sobretudo países dos Balcãs e Europa de Leste, onde os sistemas de saúde não estão ao nível da Europa Central ou Ocidental.
Quarta vaga de Covid-19 atinge com força leste e centro da Europa
Manuel do Carmo Gomes dá o exemplo da Alemanha e Reino Unido, que continuam com uma baixa mortalidade (menos de três novas mortes por milhão), apesar de uma taxa de vacinação abaixo do que seria esperado (cerca de 67%).