O líder da oposição britânica, o trabalhista Keir Starmer, acusou esta segunda-feira o primeiro-ministro, Boris Johnson, de exagerar os resultados da conferência do clima COP26 e de ter prejudicado as negociações com demasiada “propaganda”.
“As negociações internacionais são complexas e difíceis, e aqueles que resistiram são quem deve ser mais responsabilizado, mas a conferência foi limitada pela propaganda ingénua do primeiro-ministro, que só serviu para encorajar os grandes emissores”, disse no Parlamento, após uma intervenção de Boris Johnson.
Starmer criticou o primeiro-ministro britânico por elogiar os planos da Austrália, país cujas metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa estão abaixo do necessário para conter o aquecimento global, e a forma como Johnson “exagerou” o impacto de um compromisso sobre o uso do carvão para produzir energia.
“O Governo afirmou que 190 países e organizações concordaram em acabar com o carvão. Mas após uma análise mais detalhada, apenas 46 deles eram países. Destes, apenas 23 são novos signatários e, desses 23, 10 nem sequer utilizam carvão. E os 13 restantes não incluem os maiores utilizadores de carvão: China, Estados Unidos, Índia e Austrália”, vincou.
O líder do Partido Trabalhista entende que, “sem pressão pública, os grandes emissores ganharam confiança, juntaram-se na COP para esvaziar o texto sobre o carvão no acordo”.
“Somente alguém que pensa que as promessas não são para cumprir poderia agora argumentar que um acordo para reduzir o carvão é o mesmo que um acordo para eliminá-lo”, ironizou, numa referência velada às divergências com a União Europeia na questão da Irlanda do Norte no acordo do Brexit.
Antes, Boris Johnson tinha descrito a COP26 como um “sucesso” por manter a possibilidade de manter o aquecimento global em 1,5 graus celsius no final do século, e por ter incluído pela primeira vez na declaração final uma referência ao fim da energia a carvão.
COP26: Ambientalistas consideram que cimeira “soube a pouco”
Asseguramos um compromisso global para reduzir o carvão, e como [o enviado especial dos EUA para o Ambiente] John Kerry comentou, não se pode eliminar o carvão sem antes reduzi-lo conforme fazemos a transição para outras fontes de energia mais limpas”, argumentou.
A 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) adotou formalmente, no sábado, uma declaração final com uma alteração de última hora proposta pela Índia que suaviza o apelo ao fim do uso de carvão.
A alteração foi proposta pelo ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, que no plenário de encerramento da COP26 pediu para mudar a formulação de um parágrafo em que se defendia o fim progressivo do uso de carvão para produção de energia sem medidas de redução de emissões.
A proposta acabou por ser aprovada pelo presidente da cimeira, Alok Sharma, que afirmou de voz embargada “lamentar profundamente a forma com este processo decorreu”.
O documento final aprovado, que ficará conhecido como Pacto Climático de Glasgow, preserva a ambição do Acordo de Paris, alcançado em 2015, de conter o aumento da temperatura global em 1,5ºC (graus celsius) acima dos níveis médios da era pré-industrial.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, comentou o acordo alcançado em Glasgow alertando que apesar de “passos em frente que são bem vindos, a catástrofe climática continua a bater à porta”.