O documento final da COP26 tem dividido opiniões e tem motivado críticas dos ambientalistas.

O próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu que o acordo final é um documento de compromisso que “reflete os interesses, contradições e vontades políticas do mundo atual”. “É um passo importante, mas não é suficiente. É altura de entrar em modo de emergência. A batalha pelo clima é a luta das nossas vidas e temos de a ganhar”, disse.

Do lado dos ambientalistas, há grande descontentamento com o facto de grande parte da ambição inicial se ter perdido nas negociações.

As organizações Zero, Oikos e a Fundação Fé e Cooperação (FEC) consideraram “lamentável” a emenda na declaração final da Cimeira do Clima (COP26) proposta pela Índia de considerar a redução do uso de carvão, ao contrário da sua eliminação.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Está aprovado o “Pacto do Clima de Glasgow”, com o carvão e o petróleo na mira e promessas de mais dinheiro para países pobres

Para as organizações Zero, Oikos e a FEC, esta emenda “mostra a enorme dependência de muitos países deste combustível fóssil em particular, que é um elemento fundamental da descarbonização global”.

Sobre o evento, afirmam que “as medidas adequadas no combate à crise climática exigiam uma resposta satisfatória em todos as frentes: mitigação, adaptação, financiamento e justiça climática”.

“Em nenhuma delas esta COP cumpriu inteiramente. Ficámos bem aquém de assegurar uma trajetória que garantisse um aquecimento não superior a 1,5°C em relação à era pré-industrial. Trata-se de um ‘status quo’ iníquo, para a resolução do qual a 26.ª Cimeira do Clima não deu os contributos necessários. Contudo, se o texto final não agrada inteiramente a ninguém, não deixa de ser uma base para progressos futuros”.

As três organizações, que estiveram presentes na 26.ª Cimeira do Clima, consideram que “a confirmação da ausência na cimeira do presidente Chinês, Xi Jinping, e a falta de novos compromissos significativos da parte da China na redução das emissões, nomeadamente já a partir de 2025, como a ciência indica ser imprescindível, foi uma desilusão”.

“Os presidentes da Rússia e do Brasil também decidiram não comparecer, o que não ajudou em termos do sinal que os líderes devem passar sobre a importância deste problema e destas negociações decisivas”, prosseguem as organizações.

E adiantam: “Na frente da ambição, eram precisas medidas de mitigação para conter o aquecimento do planeta em 1,5°C, o limite máximo de segurança para evitar um aumento dramático de fenómenos climáticos extremos”.

“A Índia apresentou um conjunto de metas, as quais, sem serem particularmente ambiciosas, tal como a da neutralidade climática apenas em 2070 ou a da incorporação de mais energias renováveis até 2030, representaram um sinal importante em termos de comprometimento futuro daquele que é o terceiro maior país em termos de emissões no mundo”.

Também o acordo alcançado de redução até 2030 das emissões de metano, o segundo gás mais importante em termos de emissões e responsável por cerca de 30% do aquecimento global, foi “um passo muito significativo, pois este gás é uma peça chave para reduzir as emissões até 2030”.

As organizações acreditam que a COP26 vai “a prolongamento” na Cimeira do Clima no Egito, em 2022.

Para a associação ambientalista Amigos da Terra, a COP26 foi a cimeira “mais excluidora da História”, tendo a responsável Cristina Alonso, assinalado uma “falta de ambição no acordo”, que irá conduzir a “um aumento da temperatura global muito superior ao que a ciência determina, e ao que a sociedade civil de todo o mundo reclama”. “Estamos a ficar sem tempo para atuar”, alertou.

David Howell, da SEO/BirdLife, assinalou, no encontro, que, globalmente, o resultado da cimeira é “totalmente insuficiente” porque, apesar de figurarem no acordo o abandono dos combustíveis fósseis e os subsídios associados, “ficou expresso em termos demasiado tímidos para impulsionar a transformação colossal necessária”.

Na opinião do ambientalista, o limite de aquecimento global de 1,5 graus “está ainda longe”, e este ano deram-se “passos modestos”, quando “deveriam ter sido dados passos de gigante”, pelo que nos próximos anos “terão de ser dados passos muito maiores e com custos mais elevados”.

Howell criticou ainda os “atrasos no financiamento” dos países mais vulneráveis perante a emergência climática, com a vida e o sustento de milhões de pessoas “em grave risco permanente”

Por seu turno, a associação ambientalista Greenpeace advertiu que a decisão saída da COP26 “é débil”, e criticou o facto de a Índia ter introduzido, no último momento, uma modificação em que se fala de “redução progressiva”, em vez da eliminação do carvão.

A diretora da Greenpeace Internacional, Jennifer Morgan, assinalou que “apesar do acordo reconhecer a necessidade de reduzir as emissões nesta década, esses compromissos foram adiados para o ano que vem”.

Já a jovem sueca que se tornou nos últimos anos numa das principais vozes do ativismo pelo clima, Greta Thunberg, resumiu o documento final como “blá, blá, blá” e garantiu que o “trabalho real continua” fora da cimeira.