Kyle Rittenhouse, o adolescente que enfrentava prisão perpétua por ter matado duas pessoas com uma metralhadora semiautomática numa manifestação contra o racismo nos Estados Unidos em 2020, foi ilibado de todas as acusações de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e conduta imprudente. O veredito chegou depois de três dias e meio de deliberação do júri, que considerou que Kyle Rittenhouse tinha agido em legítima defesa.
Após a absolvição do adolescente, o Presidente norte-americano, Joe Biden, apelou à “calma” e contra a “violência e a destruição de propriedade”. “A decisão deixou muitos norte-americanos com raiva e preocupação, inclusivamente eu”, salientou o democrata em comunicado.
Fiz a promessa de unir os norte-americanos, porque acredito que o que nos une é muito maior do que o que nos divide. Sei que não vamos curar as feridas do nosso país da noite para o dia, mas continuo firme no meu compromisso de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que todos os norte-americanos sejam tratados com igualdade, com justiça e dignidade, de acordo com a lei”, pode ler-se.
Joe Biden apelou, no entanto, para que “todos expressem as suas opiniões pacificamente e com respeito pela lei”: “A violência e a destruição de propriedade não têm lugar na nossa democracia. A Casa Branca e as autoridades federais estiveram em contacto com o gabinete do governador [Tony] Evers [do Estado do Wisconsin] para se antecipar para qualquer consequência” neste julgamento, salientou.
O chefe de Estado destacou também que falou com o governador na tarde de sexta-feira e ofereceu “apoio e qualquer assistência necessária para garantir a segurança pública”.
Adolescente alegou “legítima defesa” e júri concordou
O indivíduo, atualmente com 18 anos (tinha 17 no dia do ataque) entrou numa manifestação em Kenosha (estado de Illinois) contra a violência policial — organizada após o caso de Jacob Blake, um negro alvejado sete vezes nas costas por um agente branco — e disparou uma metralhadora semiautomática. O caso reacendeu o debate sobre o acesso de crianças e jovens a armas nos Estados Unidos.
Alegado autor da morte a tiro de dois homens em Kenosha, nos EUA, acusado de cinco crimes
O adolescente argumentou que matou Joseph Rosenbaum, 36 anos, porque este o começou a seguir e fez um gesto para tentar alcançar a metralhadora que trazia nas mãos. Com receio de ser morto por Joseph Rosenbaum com a própria arma, decidiu tirar-lhe a vida primeiro.
O adolescente também argumentou que matou um segundo indivíduo, Anthony Huber, 26 anos, porque o manifestante o tinha agredido com um skate no pescoço e cabeça. Uma terceira pessoa, Gaige Grosskreutz, de 28 anos, ficou ferida, atingida por um tiro que, na versão de Kyle Rittenhouse,também aconteceu em legítima defensa por o homem lhe ter apontado com outra arma.
Ao saber que tinha sido ilibado de crimes que lhe podiam ter valido perpétua, Kyle Rittenhouse começou a soluçar, à beira do choro, caiu no chão e abraçou um dos advogados. A mãe, sentada num banco, desfez-se em lágrimas, gritou de alegria e abraçou quem estava ao seu lado quando a decisão foi anunciada pelo juiz Bruce Schroeder.
Segundo a descrição da Associated Press, o júri era “esmagadormente branco” e todas as vítimas também o eram. Após ter anunciado a decisão dos seus membros, Bruce Schroeder prometeu-lhes que instituiria “todas as medidas” necessárias para garantir a segurança deles. Kyle Rittenhouse foi imediatamente retirado da sala, conduzido por um agente da polícia por uma porta na câmara do juiz.