Sem o habitual camuflado – mas nem por isso distante das cores a que os portugueses já se habituaram – o anterior coordenador da task Force para a vacinação foi a Évora falar sobre a experiência que liderou. O vice-almirante Gouveia e Melo sublinhou que, num processo como esse, “muitas vezes as decisões têm que ser feitas contra vontade de grupos ou de interesses”.

No final do evento em declarações aos jornalistas, Gouveia e Melo referiu que os portugueses podem encarar a quinta vaga com “otimismo”, mas deixou um alerta: “Não a podemos encarar de forma leve ou descontraída” e que há que “ter todos os cuidados”. Sinalizou também que a população “está mais protegida” por estar “vacinada”, ressalvando, porém, que ainda há um milhão e meio da não vacinados em Portugal. “É uma piscina muito grande”, caracteriza, acrescentando que as pessoas encarregues da campanha de vacinação têm de “perceber como é que tudo está a correr”.

O vice-almirante considera também que, em termos de um país, é necessário olhar não só para o número relativo, como também para o número absoluto, explicando que 1% de não vacinados na China não é a mesma coisa que em Portugal.

Vacinação obrigatória pode criar “um certo antagonismo”

Questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de Portugal implementar a vacinação obrigatória — como acontece na Áustria —, Gouveia e Melo considera que “não vai ajudar alguma coisa” na campanha de inoculação, podendo mesmo criar um “certo antagonismo” na população portuguesa.

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“Nós decidimos não vacinar as crianças com menos 12 de anos, foi uma decisão das autoridades competentes. Não é por obrigar que se vai vacinar pessoas existentes”, diz.

“Muitas vezes as decisões têm de ser feitas contra a vontade de grupos ou de interesses”

Puxando atrás a fita do tempo e recuando ao dia em que Portugal vacinou 160 mil pessoas em 24 horas, Gouveia e Melo colocou a assistência a pensar em países de maior dimensão (como os Estados Unidos ou a Alemanha) para mostrar que Portugal foi capaz de ir além.

“Chegámos a vacinar, no pico, 160 mil pessoas por dia, isto é é 1,6% da população. Estivemos vários dias a vacinar acima de 1% da população. Nem os Estados Unidos ou a Alemanha, por exemplo, à escala conseguiram vacinar 1,6% do total da população”, apontou Gouveia e Melo antes de falar nos desafios de enfrentar a “vontade de grupos ou interesses”.

Num processo como este, “muitas vezes as decisões têm de ser feitas contra a vontade de grupos ou de interesses. Tem de haver coragem para tomar essa decisão. Quando há incerteza é preciso decidir com a boa informação que temos nesse momento”, apontou Gouveia e Melo.

Não decidir ou adiar uma decisão poderia significar a paragem no processo de vacinação e isso, aponta, era sinónimo de mais mortes em Portugal: “Esperar pela informação perfeita significa parar com a vacinação e atrasar o processo. Estavam pessoas a morrer por não terem acesso à vacina”.

“Tínhamos uma urgência muito grande de vacinar a população portuguesa. Era necessário criar empatia com os diversos atores do sistema. Sem empatia é muito difícil conseguir agregar as pessoas a um processo desta dimensão”, apontou o Vice-almirante que se retirou do processo há algumas semanas.

Artigo atualizado às 16h35