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O Chega irá votar a favor do orçamento para 2022 para “bem da estabilidade do povo açoriano”. A revelação foi feita por José Pacheco, deputado do partido, na declaração final do debate do documento, um dia antes da votação final.

O deputado do Chega que resolveu dar uma “última oportunidade” a Bolieiro depois de André Ventura ter pretendido retirar a confiança e rasgar o acordo nos Açores revelou que o voto do partido será favorável pelo facto de o Governo regional ter “aceitado democraticamente” as propostas do partido e nunca ter “baixado os braços”. Apesar disso, ainda referiu: “Não é um cheque em branco.”

Também na declaração final, a Iniciativa Liberal deixou tudo em aberto, mas mostrou uma inclinação para o voto a favor. Depois de deixar várias críticas ao Governo regional, Nuno Barata, da Iniciativa Liberal, deu a entender que aprovará o documento, tendo em conta que a proposta do partido para reduzir o endividamento foi tida em conta. A IL tinha falado numa “redução entre 15 e 20 milhões de euros” e a proposta do Executivo de Bolieiro conseguiu chegar a uma diminuição de 18 milhões de euros.

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, afirmou o deputado relativamente ao orçamento, num discurso que terminou com uma frase aparentemente esclarecedora: “É assim que fazemos a diferença”. Sem nunca dizer que vai votar a favor, o discurso de Barata sugere que o voto será um ‘sim’.

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Carlos Furtado, deputado independente que foi eleito pelo Chega, também vai votar a favor do orçamento dos Açores, o que deixa o governo de Bolieiro mais perto de sobreviver ao segundo orçamento em apenas um ano. Em declarações ao Observador, o deputado que não tem direito a declaração final por ser não-inscrito anunciou que vai mesmo dar um ‘sim’ ao atual Executivo regional por considerar que o acordo tem sido cumprido.

“Vou votar favoravelmente o orçamento. Sou um homem de palavra e percebi que a outra parte com quem assinei o contrato também estão pessoas de palavra”, começou por esclarecer o representante do Parlamento açoriano.

Carlos Furtado acrescenta que “para não votar favoravelmente este orçamento teria de estar reunido um conjunto de condições que contrariassem o espírito do acordo que foi feito no ano passado”. Assim, perante as negociações das últimas semanas e os avanços do Governo regional, o deputado considera que não haveria razões para votar contra: “Não seria justificação no cenário atual, e com as justificações que foram prestadas no decurso dos últimos dias, não tinha razões que justificassem o voto contra e, imbuído do espírito de responsabilidade, teria de votar.”

Durante o processo de negociação do orçamento, o deputado independente ainda ponderou abster-se — o que poderia complicar a vida a Bolieiro —, mas argumenta que “entre a proposta e a versão final houve algumas alterações” e que o último documento o levou a aumentar a crença no acordo afirmado com o Executivo.

Apesar disso, Furtado admite que foi “importante” Bolieiro ter incluído propostas que o deputado independente fez, tendo em conta que houve uma demonstração de “sensibilidade” relativamente às ideias do deputado. “Essas propostas que quis introduzir fundamentam-se em projetos de resolução que já apresentei e outros que penso apresentar, e parecem salvaguardar que haja enquadramento financeiro para que possam ser postas em prática”, explica.

“Se não houver nenhuma surpresa, o voto é positivo.” Deputado do Chega inclinado para salvar orçamento e Governo de Bolieiro

José Manuel Bolieiro, presidente do Governo regional, assegura que não houve cedências do ponto de vista ideológico, tal como a oposição acusou durante o debate do orçamento.

“Apesar do diálogo, não cedemos nos princípios, não perdemos a coerência do nosso projeto coletivo”, enalteceu, frisando que a “estabilidade” é importante, mas que “não teme o poder soberano do povo” quando for necessário.

O líder do Executivo regional justifica ainda que não é possível agir “como se não [houvesse] uma coligação”. “Não agiremos como se tivéssemos uma maioria absoluta. Sabemos das nossas circunstâncias e temos a certeza que com elas é possível governar bem”, afirmou Bolieiro.

Oposição ataca Governo por aceitar “chantagem” do Chega

Vasco Cordeiro, líder do PS/Açores, considera que a cedência do Governo regional é “o custo de uma dignidade de uma região e de um povo”, mais do que um “custo financeiro ou o custo político”.

“É tempo de separar águas e, se necessário for, dar a palavra ao povo. Da nossa parte, não receamos nem tememos a vontade do povo açoriano. Vamos a isso. Deixe que o povo se manifeste. Prefira a liberdade da vontade dos açorianos aos grilhões da submissão política”, frisou durante a declaração final do debate em que foi discutido o orçamento da região, acusando Bolieiro de ter feito “secretas cedências” durante as negociações com os parceiros parlamentares.

O Bloco de Esquerda atacou o Governo regional ao dizer que José Manuel Bolieiro cedeu ao Chega para ver o orçamento para 2022 aprovado.

“O PSD, partido fundador da autonomia, pela mão do atual presidente do Governo, escreve uma página negra da nossa história ao aceitar a chantagem do Chega, partido que fere a autonomia e os valores centrais da democracia”, criticou António Lima, ao dizer que o Executivo regional não tem projeto e que “quem tem o poder de desligar a máquina é um partido anti-autonomista, xenófobo e que criminaliza a pobreza”.

Pelo PAN, Pedro Neves referiu-se ao deputado do Chega, José Pacheco, como sendo o “Rei Imperador Chegano, que em terras continentais sem jurisdição territorial, esmagou a pequena réstia do orgulho açoriano” na conferência de imprensa onde anunciou que iria dar uma “última oportunidade” a Bolieiro.

“Como pode esta coligação falar de responsabilidade governativa quando falharam para com os açorianos nas Agendas Mobilizadoras e agora neste Orçamento que, na tentativa de agradar a gregos, numa subjugação humilhante, ficou com o papel dos troianos?”, questionou na declaração final do debate orçamental.