Usar o termo “festividades” em vez de “Natal”, evitar o uso de palavras como “chairman” e perguntar os pronomes antes de falar com alguém. Estas eram algumas das diretrizes propostas pela comissária para a Igualdade, Helena Dalli, de maneira a garantir uma comunicação mais “inclusiva” no seio da União Europeia. Contudo, após várias críticas, a maltesa decidiu voltar atrás, admitindo que se tratava de uma ideia “que precisa de mais trabalho”.
Num comunicado publicado na sua conta pessoal do Twitter, Helena Dalli diz que a iniciativa almejava um importante objetivo: “Ilustrar a diversidade da cultura europeia e mostrar a natureza inclusiva da Comissão Europeia”. Contudo, reconheceu que a versão das diretrizes publicadas “não servia adequadamente o propósito” e não “correspondia aos padrões da Comissão”. “Por estes motivos, vou desistir destas diretrizes e vou trabalhar mais diligentemente neste documento.”
Concern was raised with regards to some examples provided in the Guidelines on Inclusive Communication, which as is customary with such guidelines, is work in progress. We are looking into these concerns with the view of addressing them in an updated version of the guidelines. pic.twitter.com/90ZK8rpPb2
— Helena Dalli (@helenadalli) November 30, 2021
Com 30 páginas, o documento que continha as diretrizes nunca foi revelado ao público, mas o The Guardian soube que uma das propostas passava por abolir o termo “Natal” — usando-se, em vez disso, a palavra “festividades”. “Nem toda a gente celebra os feriados cristãos e nem todos os cristãos celebram-nos nas mesmas datas”, lia-se no texto.
Adicionalmente, designações como “senhoras e senhores” (em vez disso devia dizer-se “queridos colegas”), “chairman” ou a utilização da palavra “Homem” enquanto sinónimo de humanidade seriam evitadas. Recomendavam também que se perguntasse os pronomes antes de falar com alguém, utilizando depois aquele que fizesse cada um sentir-se mais à vontade. Seriam ainda de evitar termos como “gay”, “lésbica”, “transgénero” ou “intersexo”. “Deve dizer-se pessoa trans, pessoa gay, para se referir a uma pessoa em específico.”
Em Itália, a publicação desta norma motivou várias críticas. Antonio Tajani, vice-presidente do Partido Popular Europeu e membro do partido Forza Italia, escreveu na sua conta pessoal do Twitter que as diretrizes eram um “absurdo” e “negavam as raízes cristãs da União Europeia”.
Do not refer to the "Christmas period" and do not use Christian names such as "Mary or John" to avoid hurting some people’s feelings. These are the absurd indications of the document released by the @EU_Commission . Inclusion does not mean denying the Christian values of the #EU.
— Antonio Tajani (@Antonio_Tajani) November 29, 2021
Pelo Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin também reagiu, referindo que abolir o termo Natal não seria uma forma de eliminar a discriminação, mas antes “destruir e aniquilar” aquilo que “caracteriza o nosso mundo”. “Infelizmente, a tendência é para homogeneizar tudo, não se sabendo respeitar as devidas diferenças, que naturalmente não deviam tornar-se num conflito ou numa fonte de discriminação”, argumentou.
Em outubro, na altura em que o documento foi publicado, Helena Dalli indicava que o princípio da “igualdade” tinha de espalhar a todas as “dimensões” na Comissão Europeia, incluindo a da comunicação. “Estou orgulhosa de lançar estas diretrizes para uma comunicação mais inclusiva.”
Equality mainstreaming means that all products need to take the equality dimension on board, including communication.
As we aim to lead towards a #UnionOfEquality, I am proud to launch the @EU_Commission guidelines for inclusive communication. pic.twitter.com/yEcQ3EIe7f
— Helena Dalli (@helenadalli) October 26, 2021
Também houve vozes que defenderam a iniciativa da maltesa. A holandesa Sophie in ’t Veld disse que estava preocupada com o facto de Helena Dalli ter voltado atrás. “A comissária merece reconhecimento por ter tido a coragem de abordar o assunto”, admitindo, contudo, que o fez de “maneira um pouco trapalhona”.
“Os ataques concertados de desinformação que lhe são dirigidas da extrema-direita mostram os motivos pelos quais estamos preocupados”, afirmou Sophie in ’t Veld, que defende que as “instituições devem ser neutrais“, além de que “a maioria dos europeus não são religiosos”.