Há jogadores infetados com a variante Ómicron no plantel do Belenenses SAD que já tinham tido Covid-19 no passado. Entre os 12 atletas infetados no surto detetado naquele clube, que contabiliza neste momento 20 casos positivos (incluindo duas pessoas do departamento médico, três da equipa técnica do plantel principal, uma da equipa técnica dos sub-23 e duas do staff do clube), todos os que pertenciam à equipa na época desportiva passada, e muitos dos que entraram entretanto, já tinham estado infetados antes de a nova variante ter sido sinalizada pelas autoridades de saúde.
Até agora, apenas era conhecido o caso de Cafú Phete, defesa central do Belenenses SAD que já testou positivo três vezes — uma vez em outubro de 2020, outra em setembro deste ano e novamente agora. Mas fonte oficial do clube confirmou ao Observador que a maioria dos jogadores positivos neste momento já esteve infetada no passado e voltou a testar positivo. Mais: os jogadores que agora voltam a testar positivo para a presença do novo coronavírus também já tinham sido vacinados contra a Covid-19.
Mesmo fora da equipa de futebolistas, há casos de reinfeção: o próprio assessor do Belenenses SAD, Miguel Luís, está neste momento infetado com a Ómicron, apesar de já ter estado infetado no ano passado. Os inquéritos epidemiológicos determinaram que Miguel Luís foi infetado pelo treinador do clube, Filipe Cândido, com quem o assessor contactou diretamente na conferência de antevisão do jogo contra o Benfica, durante cinco minutos, respeitando o distanciamento físico aconselhado pelas autoridades de saúde, na sexta-feira anterior à partida.
Fonte oficial do Belenenses SAD assegurou que nenhum dos jogadores infetados desenvolveu quadros clínicos severos de Covid-19, mas que a maioria exibiu sintomas como congestionamento nasal e febre, alguns também febre e mialgias.
20 positivos, 100 em isolamento — e a perspetiva de que números ainda podem subir
De acordo com as atuais normas da Direção-Geral da Saúde, um contacto cara-a-cara em ambiente fechado durante menos de 15 minutos a uma distância entre as duas pessoas entre um e dois metros é considerado uma exposição de baixo risco. À margem dos casos particulares dos profissionais de saúde e do pessoal técnico nos laboratórios de testagem, só se consideram uma exposição de alto risco os contactos cara-a-cara a uma distância de menos de um metro (independentemente do tempo), os contactos cara-a-cara superiores a 15 minutos respeitando o distanciamento físico e os contactos em ambiente fechado também durante mais de 15 minutos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) já avançou esta quinta-feira que tudo indica que “a infeção anterior não protege contra a Ómicron”. Anne von Gottberg, especialista em doenças infecciosas do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul (a mesma que detetou originalmente a nova variante), disse na conferência de imprensa da OMS África que, de acordo com as observações iniciais, as pessoas anteriormente infetadas podem ser reinfetadas pela nova variante, embora muitas exibam sintomas menos graves de Covid-19.
O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) considera como caso suspeito de reinfeção pelo novo coronavírus aquele em que os dois contágios tenham sido provocados por estirpes diferentes, tipicamente com um intervalo temporal de 90 dias entre eles — o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC) utiliza um período inferior, de 60 dias, e também analisa como possíveis casos de reinfeção aqueles que tenham sido contagiados pela mesma variante.
Até maio deste ano, apenas tinha sido confirmado um caso de reinfeção em Portugal — embora, por essa altura, já se ressalvasse que o número podia ser superior porque os casos deviam estar a ser subnotificados pelas autoridades de saúde nacionais e internacionais. Para se confirmar essa reinfeção, é preciso recuperar a amostra referente ao primeiro ataque do vírus, fazer a sequenciação genómica dessa amostra e compará-la com a recolhida para a segunda infeção.
Mas não há capacidade logística para guardar todas as amostras positivas recolhidas desde o início da epidemia nem para realizar a sequenciação de todas elas. Mesmo entre as amostras que estão armazenadas, e garantindo a capacidade para fazer essa leitura do material genético do vírus, é preciso que ainda se detete carga viral suficiente para viabilizar o processo, o que nem sempre é possível.
O Observador contactou o INSA para confirmar se os atletas infetados do Belenenses SAD estão a ser analisados como possíveis casos de reinfeção pelas autoridades de saúde, mas ainda aguarda resposta. Fonte do clube adianta, no entanto, que as autoridades de saúde continuam a acompanhar de perto os elementos do clube que testaram positivo, assim como os contactos que esses elementos tiveram com outras pessoas — elevando para mais de 100 o total de pessoas em isolamento. Face a este cenário, a mesma fonte da B. SAD admitiu que o número de casos positivos possa vir a subir nas próximas horas ou dias.
Jogo contra o Vizela não foi adiado, apesar do surto no Belenenses SAD
Neste momento, todo o plantel da equipa profissional e da equipa de sub-23 da Belenenses SAD (com exceção de um jogador que se encontra na África do Sul), os elementos da equipa técnica e os elementos do departamento clínico estão em isolamento por indicação das autoridades de saúde. Será assim até 10 de dezembro. Mas há um jogo contra o Vizela na próxima segunda-feira, dia 6, que ainda não foi adiado.
Em comunicado enviado à imprensa, o departamento de comunicação do Belenenses SAD estranha que a Liga ainda não se tenha pronunciado sobre o jogo da próxima semana: “É urgente que a Liga, como lhe compete segundo os princípios a que está estatutariamente adstrita, e enquanto organizadora da competição, adie o jogo entre o Vizela e a Belenenses SAD”.
Fonte oficial do clube considera que só o adiamento do jogo pode “assegurar a salvaguarda da integridade da competição e da verdade desportiva, bem como em salvaguarda do superior interesse da proteção da saúde pública”: “A incerteza médica que rodeia a nova variante Ómicron, e que mobiliza o mundo no seu todo, torna vital que todas as decisões tomadas pela Liga se rejam obrigatoriamente pelo superior interesse da máxima proteção da saúde pública“.