A pré-campanha socialista arranca este sábado, no Congresso da Associação Nacional de Autarcas Socialistas, com o líder do partido ao lado dos autarcas eleitos em setembro para um primeiro momento de mobilização das tropas. E daqui a uma semana, António Costa vai promover um encontro nacional, no Porto, numa iniciativa que pretende ser “um processo participativo de envolvimento da sociedade no programa e na candidatura“, explica o diretor de campanha Duarte Cordeiro. Mas, por agora, não há muitos mais grandes momentos previstos com Costa, cuja intervenção como primeiro-ministro é “a prioridade número um”.
A lista de participantes do evento marcado para 12 de dezembro ainda não é conhecida, mas a formula é antiga e repetida agora por Costa que volta a puxar da carta da sociedade civil — o país além PS — para engrossar o leque de apoios para esta corrida eleitoral fora de época. Já foi assim que o próprio António Costa fez quando se candidato às legislativas de 2015 e no ano antes envolveu socialistas e não só na criação da Agenda para a Década, criando também um grupo de peritos na área da economia que elaborou o quadro macroeconómico do seu programa eleitoral e de onde saiu não só o seu primeiro ministro das Finanças, Mário Centeno, como também o segundo, João Leão.
Ao Observador, o diretor da campanha do PS explica que a ideia é ter neste debate “personalidades públicas e simpatizantes” que vão concentrar-se sobretudo em três temas de intervenção, a que o socialista chama de “prioridades políticas” para esta campanha: a criação de riqueza e a melhoria dos rendimentos das pessoas; a “continuação do combate às desigualdades e o reforço do Estado Social” e o “reforço do SNS”.
Este será o maior evento do partido na preparação das legislativas antecipadas e do programa eleitoral — que ainda não tem um modelo fechado, sendo que até agora tanto o líder como os socialistas do seu núcleo duro têm mostrado interesse, em reuniões internas, em fazer um manifesto eleitoral alargado, aproveitando o programa apresentado em 2019, cujo horizonte era o período até 2023. Este processo está a ser dirigido pelo diretor do Gabinete de Estudos do PS, Porfírio Silva.
O encontro nacional do Porto também será um dos poucos grandes eventos de pré-campanha com a participação de António Costa, que se mantém em plenas funções de primeiro-ministro — afinal o Governo não se demitiu –, Duarte Cordeiro refere que a ideia é que exista “um equilíbrio” entre Costa líder do Governo e Costa líder do PS. Com gravata e sem gravata, marca que o próprio António costa deixou nestas autárquicas quando disse que as suas participações em campanha e em eventos do Governo se diferenciavam logo pelo uso deste acessório.
Mas o PS não parece ter pressa em tirar Costa do cargo de primeiro-ministro para o ter em campanha em modo todo-o-terreno. Questionado pelo Observador sobre como vai ser feita esta gestão, o seu diretor de campanha afirmou que “neste momento, António Costa é primeiro-ministro e está em funções e muito por causa da Covid-19 é fundamental que tenha nessa intervenção a prioridade número um”.
Depois do primeiro grande evento do Porto, Costa vai ter também agenda forte no fim de semana do congresso do PSD, o de 18-19 de dezembro. E isto porque no sábado vai ter um encontro com jovens e será também nessa altura que deverá anunciar o nomes dos cabeças de lista de candidatos a deputados do PS nas eleições legislativas (os primeiros nomes de cada uma das listas do partido). O limite para a entrega das listas para as eleições de 30 de janeiro no Tribunal Constitucional termina a 20 de dezembro.
As reuniões das comissões políticas distritais do PS vão decidir sobre dois terços dos candidatos a deputados em reuniões que vão acontecer durante a próxima semana e, o restante terço será indicado pelo líder do partido. É esse processo que ficará a faltar e que terá de ficar concluído até 20 de dezembro.
Esta sexta-feira o PS enfrentou um tombo político de peso nesta fase, com a demissão de Eduardo Cabrita do cargo de ministro da Administração Interna na sequência de um processo sensível. É um caso bicudo mesmo à porta de campanha eleitoral que foi mesmo o argumento usado para Cabrita para se afastar nesta altura. Mas Duarte Cordeiro não fala sobre o assunto. A tentativa vai ser colocar este assunto para trás das costas, com o PS a apostar, nesta campanha, em “reforçar as marcas da governação e com base nisso reforçar a dimensão da credibilidade do Governo, de António Costa, do PS e no caminho que estamos a seguir”, assume o diretor de campanha.