O diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, admite que o antigo banqueiro João Rendeiro ponha entraves ao processo de extradição que agora vai correr na África do Sul onde foi detido esta madrugada de sábado. “Admito que possam ser suscitadas algumas dificuldades de entrave”, disse em entrevista ao CNN, lembrando no entanto que isso significa ficar detido num país terceiro.

Na terceira entrevista que deu ao longo do dia, depois de uma conferência de imprensa às 9h30, na sede da PJ, a anunciar a detenção do antigo banqueiro, Luís Neves explicou que o processo agora terá que passar por três crivos: “um inicial, um judicial e um político-judicial” e só depois se saberá se o arguido – que enfrenta três processos-crime em Portugal – será entregue à Judiciária. “É a nós que nos compete fazer a extradição”, explicou, como sendo um ato que a PJ faz diariamente: ir buscar portugueses a outros países para cumprirem pena em Portugal. “Todos os dias deslocam-se para o fazer, será apenas mais um caso daquilo que sabemos fazer”.

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Luís Neves não conseguiu explicar bem à CNN em que situação Rendeiro se encontra na África do Sul, avançando que tem uma autorização de residência, mas que será idêntica à de qualquer português que esteja fora do Espaço Schengen por um longo período de tempo. Mais tarde à SIC acabaria por afirmar mesmo que Rendeiro não tem “dupla nacionalidade”. Recorde-se que João Rendeiro disse, em entrevista à CNN e ao Tal&Qual, que até tinha conseguido um contrato no sítio onde estava a viver, pelo que poderá ter uma autorização de residência para trabalhar. No entanto, disse também Luís Neves, Rendeiro comunicou às autoridades sul africanas que estava “numa situação ilegal e que podia ser detido a qualquer momento”.

O líder da PJ recordou que os contactos com os sul africanos começaram há já dois meses, ainda antes de a sua mulher, Maria de Jesus Rendeiro, ser detida e revelar que aquele seria o país onde se encontrava o marido. Luís Neves explicou que nesses contactos as autoridades sul africanas explicaram que “a dupla nacionalidade não era obstáculo à detenção de João Rendeiro”. Foi por isso que o mandado de detenção provisória foi emitido pela própria mão da procuradora-geral da República, Lucília Gago. Nesse documento constam todos os requisitos para deter o antigo banqueiro  condenado pelos crimes de burla, fraude e falsificação.

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Sem pormenorizar as metodologias usadas para deter o arguido, Luís Neves lembrou que a certa altura perceberam “que ele podia circular entre estados mais a sul do continente africano”, o que podia significar uma nova fuga. Neste momento, “trocámos contactos diretos” com a polícia daquele país, admitiu Luís Neves. O que permitiu monitorizar mais de perto o arguido. A PJ acredita que Rendeiro pôde viver numa zona luxuosa graças aos “valores com que burlou as milhares de vítimas que são conhecidas”. E deu a entender que nas unidades hoteleiras por onde passou, dadas as características, pode nem ter sido obrigado a mostrara identificação, não sendo necessário para isso falsificar identidades.

A PJ tem sido elogiada por todos os partidos políticos pela sua investigação, excepto pelo CDS que considerou que a Justiça devia ser mais contida. Confrontado com esta posição, Rendeiro disse que nos últimos meses a PJ viveu “amargurada” com este caso, mas que o CDS “exprimiu a sua opinião e é uma opinião respeitada”.

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