Mónica Quintela, deputada social-democrata e coordenadora do partido na Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, saiu esta segunda-feira em defesa de Rui Rio na sequência da polémica sobre a detenção de João Rendeiro este sábado na África do Sul. Em declarações à Rádio Observador, a advogada disse-se “estupefacta” e assegurou não compreender como “um simples tweet” pôde dar azo “às mais maquiavélicas interpretações” por parte de tantos atores políticos — Marcelo Rebelo de Sousa incluído.

“O que o Rui Rio quis dizer, pura e simplesmente, é que houve um aproveitamento político por parte do Governo, por parte de pessoas que foram nomeadas pelo Governo, para beneficiar o Governo em toda esta questão”, resumiu Mónica Quintela, em análise à publicação que o líder do PSD fez este domingo na rede social Twitter.

“Obviamente que Rui Rio não disse que houve aqui uma conjugação de esforços ou que as autoridades portuguesas estavam mancomunadas para deterem agora João Rendeiro porque era conveniente em termos eleitorais ao Partido Socialista”, exasperou-se Mónica Quintela. “Não foi nada disso que Rui Rio disse. E qualquer pessoa bem formada e de inteligência mediana consegue perceber que o que está escrito naquele tweet é que claramente há um aproveitamento político por parte do Governo relativamente à detenção de João Rendeiro. Ou seja, quis-se branquear todos os problemas que grassam na justiça — que infelizmente são muitos —, e passar, de repente, a dizer, com esta detenção, a dizer que está tudo muito bem”, analisou a social-democrata, para logo depois rematar: “A Justiça não está bem”.

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Fazendo questão de enaltecer o trabalho da PJ, a que garante não retirar mérito, Mónica Quintela acusa o PS de utilizar a detenção do ex-presidente do BPP na África do Sul como uma “ação de marketing”: “Não nos podemos esquecer que o cargo de diretor da Polícia Judiciária é um cargo de nomeação política pelo Governo e que, com todo o mérito, seguramente, não sei, o Dr. Luís Neves foi recentemente conduzido pela ministra da Justiça, de quem de resto é amigo, e por António Costa. O que o Dr. Rui Rio quis dizer com isto é que [houve] efetivamente propaganda; foi feito aproveitamento político de uma detenção, desdobrando-se o diretor da Polícia Judiciária em entrevistas em tudo quanto é sítio; deixou umas gravadas para poder estar ao mesmo tempo em direto em vários meios de comunicação social”.

Rio debaixo de fogo. “O PS está a fazer marketing e o Presidente da República é parcial”

Garantindo não ter falado com o presidente do PSD sobre o assunto, a deputada também não poupou Marcelo Rebelo de Sousa, que acusou de parcialidade relativamente a Rio.

“Não cai bem que o primeiro magistrado da nação, que é o Presidente da República, que deve ser absolutamente imparcial com todo e qualquer cidadão, diga que o líder da oposição e candidato a primeiro-ministro não tem noção do que é uma investigação criminal. Estas coisas não se dizem por quem é Presidente da República”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, reagiu entretanto à publicação de Rio. Explicando que não iria comentar o caso de João Rendeiro por ser “um ministro de Estado”, instou o líder dos sociais-democratas a não se pronunciar: “Julgo que os líderes políticos, incluindo o maior partido da oposição, devem fazer o mesmo. Devemos ser estadistas quando estão em causa questões de Estado”.