Um SUV é, por definição, um veículo versátil, capaz de transportar uma pessoa ou a sua família no dia-a-dia, para depois se revelar o companheiro ideal para incursões pelo campo ao fim-de-semana ou rebocar barcos ou qualquer outro brinquedo durante as férias. Há também os SUV de luxo, como o Bentayga da Bentley e o Cullinan da Rolls-Royce, que colocam a tónica no requinte e refinamento, além dos SUV dinâmicos, como o Lamborghini Urus, que permitem a estes volumosos e espaçosos modelos transmitirem as sensações de um coupé desportivo. E depois há o Aston Martin DBX, que pretende conciliar luxo e espírito desportivo ao oferecer um cocktail de luxo e emoções.

De fita métrica em punho, o DBX está mais próximo do Urus do que do Bentayga. Oferece um comprimento superior a 5 metros, mas os seus 1,68 m de altura colocam-no entre os 1,64 do Lamborghini e os 1,74 m do Bentley, com a vantagem de um peso mais ligeiro, apenas mais 50 kg do que o Urus, mas menos 100 kg do que o Bentayga. Para o conseguir, a Aston Martin concebeu um chassi de raiz, com uma generosa distância entre eixos superior a 3 metros, ao contrário dos seus rivais, que recorreram a chassis de outras marcas do grupo.

Um coupé com cinco metros

O DBX não é o primeiro modelo do construtor britânico capaz de satisfazer as necessidades da família, pois entre 2010 e 2020 a marca inglesa comercializou a berlina de quatro portas Rapide. Mas este é o primeiro SUV da marca, a solução que cativa mais condutores nos dias que correm.

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A frente é relativamente longa, pois se de momento aloja um V8 biturbo, não está posta de lado a possibilidade de ali encaixar o V12 da Aston Martin. O habitáculo é relativamente baixo, perdendo apenas para o Lamborghini, e parece chegado atrás, reforçando a sensação de dinamismo, com a filosofia de coupé a ser dada pelo pilar traseiro muito inclinado. A traseira é maciça e com uma assinatura luminosa característica, mas disto impede o SUV inglês de anunciar um espaço para bagagens de 632 litros, batendo largamente os concorrentes.

Com uma generosa distância entre eixos para o comprimento total que apresenta, o DBX tem as suas quatro rodas praticamente nas extremidades da carroçaria, o que é bom para o comportamento e distribuição de massas, evitando que haja peso “pendurado” atrás do eixo traseiro ou à frente do eixo anterior. A Aston Martin afirma que só 54% dos 2320 kg (já com condutor e depósito cheio) incidem sobre o eixo da frente, para 46% serem suportados pelas rodas posteriores, o que deverá garantir um equilíbrio total em aceleração.

A atenção aos pormenores até chateia

Assim que entramos a bordo, depois de lidar com uns fechos de porta escamoteáveis não muito práticos de utilizar, não foi o espaço que mais nos impressionou, apesar dos dois lugares à frente serem espaçosos. Atrás, a Aston Martin preferiu privilegiar o espaço para apenas dois adultos, em vez de três, que assim têm um volume mais que suficiente não só em largura, como também em altura e espaço para as pernas. Mas o que verdadeiramente surpreende é a qualidade dos materiais e o cuidado colocado nos ínfimos detalhes.

Tudo é revestido a pele, tão agradável à vista como ao toque, com a Aston Martin a fazer justiça ao seu estatuto de marca de luxo. As costuras da pele são irrepreensíveis, inclusivamente na chapeleira que cobre a bagageira. Os bancos acomodam bem o corpo, conferindo bom apoio lateral, fundamental num modelo vincadamente desportivo, mas sem comprometer o conforto.

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Ao painel de instrumentos digital junta-se o ecrã central táctil, sobre o qual estão o botão que coloca o motor em marcha e os outros quatro comandos da caixa (P, R, N e D). Ao centro em baixo, na consola, há vários comandos para controlar os vários sistemas do DBX, dos sistemas de ajuda à condução ao modo de condução, entre o mais suave e o mais desportivo, além da altura ao solo, cortesia da suspensão pneumática.

Um motor V8 biturbo com sotaque germânico

Para animar a única versão de momento disponível do DBX, a Aston Martin recorreu à Mercedes AMG, que lhe forneceu o 4.0 V8 biturbo com 550 cv e uns generosos 700 Nm, uma força impressionante e disponível logo a partir das 2000 rpm. Para reduzir o consumo, o V8 pode desligar uma das bancadas de cilindros, caso o condutor pressione apenas de forma ligeira o acelerador, o que lhe confere vantagens em matéria de economia, mas também de emissões.

Ao V8 está associada uma caixa automática convencional com 9 velocidades, também ela com carimbo Mercedes, que depois transfere a potência às quatro rodas, com a distribuição do binário entre a frente e a traseira a depender do modo de condução escolhido por quem vai ao volante.

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Além das suspensões pneumáticas, o DBX usufrui ainda de barras estabilizadoras activas, para impedir um adornar excessivo da carroçaria sem comprometer tanto o conforto, que se tornam “mais ou menos duras” consoante o modo de condução. Os travões parecem sobredimensionados face ao peso do SUV, como convém a um desportivo, com discos com 410 mm de diâmetro à frente, com maxilas de seis êmbolos, para na traseira surgirem discos com 390 mm, sempre com os centros em alumínio para reduzir o peso não suspenso, para não prejudicar o funcionamento da suspensão.

Ao volante, os 550 cv impressionam em estrada

O DBX responde com um roncar cativante sempre que se pressiona o botão Start, que acorda o V8. Nada que impeça o SUV da Aston Martin de circular em zonas civilizadas durante a noite, mas com uma “voz” rouca que faz as delícias de quem gosta de mecânicas com raça. Já conseguir arrancar com suavidade é outra conversa, porque mesmo tratando o acelerador com o máximo respeito, não é fácil arrancar sem sobressaltos, mesmo no mais calmo dos seis modos de condução, o GT.

Em cidade, o SUV britânico surpreende pela suavidade, digerindo irregularidades sem limitar o conforto, sempre no modo GT ou no Individual, que o condutor pode modular segundo as suas preferências, desde que não altere as regulações da suspensão e gestão do acelerador. E sem consumos muito elevados, sendo fácil circular com médias de 14 litros, se bem que a economia não seja particularmente importante para quem pagou um quarto de milhão de euros por um veículo.

Mas o Aston Martin DBX, que transporta a mais carinhosa das avós sem lhe remexer um cabelo ou entornar o latte macchiato, transforma-se num monstro assim que seleccionamos o modo Sport ou Sport+ e nos preparamos para enfrentar uma estrada sinuosa. A capacidade de ir de 0 a 100 km/h em apenas 4,5 segundos impressiona qualquer um, sobretudo por acontecer sem esforço, mas deixámos a verificação da capacidade de alcançar os 291 km/h para outra ocasião, que não obrigue a um sempre dispendioso confronto com a autoridade.

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Apesar das 2,3 toneladas, o DBX em modo Sport+ age como se tratasse de um coupé desportivo, ligeiro e ágil. Os travões suportam abusos prolongados, sem que o pedal fique esponjoso, para a frente entrar bem nas curvas, sem a tradicional tendência para fugir de frente que caracteriza os SUV, excepção feita para o Urus. Isto é em parte conseguido por o SUV inglês desligar o controlo de tracção e suavizar o de estabilidade neste modo de condução.

Passadeira vermelha em terra, mesmo em mau piso

É natural que a maioria dos proprietários do DBX nunca ouse circular em pisos de terra e até que a coisa mais parecida com um trial seja estacionar em cima do passeio. Mas o SUV da Aston Martin, além de poder circular em estradões de terra civilizados sem mexer na altura ao solo, gestão do motor ou controlo de tracção, tem à disposição dois modos de condução para lidar com condições mais extremas, respectivamente o Terrain e o Terrain+, além de uma suspensão pneumática que faz variar a altura ao solo em 9,5 cm (4,5 cm para cima e 5 cm para baixo, em relação ao ponto normal).

Se juntarmos o potencial da suspensão à própria concepção do DBX, é fácil explicar os 23,5 cm de altura ao solo, bem como os 50 cm de capacidade de passagem a vau, o que em veículos tão luxuosos pode não fazer maravilhas às sofisticadas alcatifas, mas pode sempre ajudar a safar a família de uma enrascadela monumental. Para os fãs do trial, sempre podemos avançar que o SUV tem 25,7º de ângulo de entrada, 18,8º ventral e 27,1º de saída.

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Se atravessar rios de lama não é a sua “praia”, tanto mais que não irá longe com os pneus de origem – uns Pirelli P Zero (285/40 R22 à frente e 325/35 R22 atrás), excelentes no asfalto mas não na lama, neve ou areia –, a Aston Martin pensou nos condutores que gostam de se divertir em estradas de terra escorregadias. Daí que, nestas condições, o DBX se comporte como se tratasse de um carro de ralis, só que mais pesado e… luxuoso.

Proposto por 253 mil euros, na versão normal, o SUV da Aston Martin que testámos usufruía de 47 mil euros de extras, o que atira o preço final para 300 mil euros. Um valor inacessível para a maioria, mas não deixará de constituir – para quem possa – uma excelente prenda para colocar no sapatinho.