O Ami surgiu como uma proposta para revolucionar a mobilidade e impõe-se basicamente por três razões: por ser barato, por ser personalizável e por satisfazer com facilidade as necessidades diárias de quem se desloca na cidade. Para cúmulo, pode ser conduzido por maiores de 16 anos, sem carta de condução. Basta ter a licença B1, ou seja, a mesma que é exigida para conduzir motos de 50 cc, pelo que qualquer um pode guiar esta “máquina” que não vai além dos 45 km/h, porque a isso obriga a sua homologação enquanto quadriciclo.
Não contente por apresentar esta alternativa aos “papa-reformas” ou “papa-mesadas” a combustão, com a vantagem de ser mais acessível e não poluente enquanto circula (no máximo, 75 km entre recargas), a Citroën decidiu ir mais longe e elevar o seu espírito inventivo para um patamar superior, propondo o My Ami Buggy Concept. Trata-se, simplesmente, de fazer o impensável: pegar num quadriciclo que foi projectado para a cidade e levá-lo para outras paragens bem mais aventureiras, das praias ao campo, convertendo-o num veículo para uso recreativo. Seria esta a peça que faltava, quando o Ami já se declina em sete versões, incluindo uma para uso profissional? Por mais surpreendente que possa ser a resposta, acreditamos que sim.
Senhor de um visual mais robusto, cortesia de pneus “cardados”, jantes em dourado mate, barras de protecção atrás e à frente, grelhas nos faróis, bem como pára-choques e painéis distintos, o Ami Buggy é um protótipo que facilmente poderia passar à realidade. Mais não fosse, como uma variante mais musculada e radical das versões que estão disponíveis de momento. E mesmo que isso não se traduzisse num amplo volume de vendas, daria um forte contributo para reforçar a imagem do modelo, como uma proposta mais cool e tão apta para a cidade como para o lazer.
Na “roupagem” Buggy, o Ami parece mais vitaminado, exibindo pára-lamas redesenhados, protecções tubulares na zona inferior das portas, uma barra de luz LED na parte frontal do tejadilho com altifalante incorporado e, sobre este, a roda sobressalente e uma grelha de transporte. Mas a maior diferença do Buggy face aos restantes Ami reside no facto de dispensar as portas que, em todas as outras versões, abrem em sentido contrário. O concept prescinde deste singular efeito para propor uma maior irreverência e, simultaneamente, a sensação de um contacto mais próximo com a natureza. Está claro que isso resulta bem nas fotos e melhor ainda num dia de sol, mas até os aventureiros são surpreendidos por mudanças bruscas do tempo. A Citroën teve isso em conta e, como tal, substitui as portas por uma lona transparente e impermeável, resgatando neste aspecto uma solução do Méhari. E já que estava a tentar prever todas as variáveis, não se esqueceu de conferir maior protecção do sol, se for caso disso. Como o tejadilho é panorâmico, a marca do double chévron optou por montar uma cobertura por cima do pára-brisas, que se pode estender e assegurar a desejada sombra.
O fabricante gaulês não ficou por aqui e dotou este concept com uma série de detalhes que, certamente, estarão bem presentes na memória dos fãs da marca. Com estrias e autocolantes, porque este quadriciclo radical não deve querer “estourar” orçamentos, os estilistas conseguiram evocar a grelha do Traction, ao mesmo tempo que aludem às corridas com a inscrição “pilot” e “copilot” no tejadilho, enquanto no interior as posições a ocupar por condutor e passageiro são identificadas no respectivo banco, devidamente numerado com “01” e “02”.
Aproveitando o facto de estarmos perante um veículo de dimensões ultracompactas, os designers deram-se ao luxo de ir até ao mais ínfimo detalhe. No interior, os bancos são o primeiro exemplo disso, ao duplicarem a espessura da espuma de 35 para 70 mm, o que deverá garantir deslocações mais confortáveis do que no Ami convencional. Depois, como companheiro de aventura que é, este Ami permite que os bancos sejam removidos, trocados e lavados. Acresce a tudo isto que as soluções de arrumação a bordo também podem ser retiradas e, assim, colmatar uma eventual falha na mala do piquenique. Como se isso não bastasse, há ainda uma série de acessórios (úteis) cuja fixação padronizada permite o reposicionamento em função do humor do condutor ou das necessidades do momento.
Resta esperar que a Citroën não siga o exemplo da Volkswagen que, depois de apresentar um Buggy sobre a MEB, atirou a sua eventual passagem à produção em série para muito mais tarde, sendo que parece depender de terceiros o regresso do Dune Buggy de 1960, mas agora eléctrico. É evidente que o Ami Buggy, a avançar, não estará preparado para atravessar dunas, dar grandes saltos ou lidar sem problemas com passagens a vau, mas qual é o quadriciclo que faz isso? Nenhum. Este, pelo menos, cativa pela estética ousada e pelos pormenores funcionais.
Está claro que toda esta “loucura” seria para ser levada nas calmas, pois não foram referidas quaisquer alterações de ordem técnica, o que é sinónimo de apenas 6 kW de potência (8 cv), alimentados por uma bateria de 5,5 kWh que demora 3 horas a carregar numa tomada standard de 220V. E corcéis dão-se bem a descer mas, nas subidas, a conversa entre eles requer algum embalo – ou contenção por parte dos mais impacientes.