Quatro lojas Fnac (em Lisboa, nas Amoreiras) e 27 dos 29 concessionários da rede Citroën em Portugal já podem mostrar aos clientes o novo Ami, o Citroën eléctrico que é homologado como quadriciclo e que, como tal, pode ser conduzido por maiores de 16 anos, habilitados com a licença de condução B1.

O pequeno veículo rompe por completo com o modelo tradicional de vendas, pois é comercializado exclusivamente online e pode ser entregue em casa. Rompe, também, com a ideia de que a mobilidade eléctrica – mais segura, razoavelmente confortável e ágil – é cara. Neste caso, não é mesmo: o Ami é proposto por valores que arrancam um pouco acima dos 7000€ e, no limite, atinge os 8710€. Trata-se de um preço realmente atractivo, sobretudo estabelecendo a comparação com os “mata-velhos” a combustão que por aí andam – também eles limitados a uma velocidade máxima de 45 km/h, porque a homologação assim o obriga, mas a custar… o dobro. Basta ver que um Aixam básico custa, no mínimo, 12.000€, mas chega a ter versões para cima dos 16.000€, como é o caso do Coupé GTI, por exemplo.

Como é que consegue ser baratinho? É o smart(design) e não só

Já aqui detalhámos como é que a oferta do Ami se compõe, sendo que os preços vão crescendo à medida que o pequeno veículo incrementa a personalização possível. Ao todo existem sete versões, incluindo uma comercial, mas “tudo” é construído com base no modelo de entrada de gama, o que naturalmente simplifica e agiliza a produção.

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A versão básica e o caixote com o “kit” de personalização

Depois, como se isso não bastasse, o Ami tira partido da simetria, o que leva a que o painel da frente seja igual ao traseiro e as portas também – o que explica o facto destas abrirem em sentidos opostos. Ou seja, esta opção sai mais barata à marca e ao mesmo tempo é uma solução diferenciadora, que não passa despercebida.

Estes e outros truques permitem à Citroën sublinhar que o quadriciclo eléctrico tem menos de 250 peças e desafiar o comprador a testar os seus dotes na arte do “aplique você mesmo” os autocolantes (sem fazer bolhas). Isto porque, conforme referimos, o modelo pode ser entregue em casa do cliente, juntamente com o caixote que contém o kit de personalização, sendo que esta modalidade implica o pagamento de mais 200€, mas dá direito a uma explicação de meia hora. A mesma explicação, mas num concessionário da marca e prestada por um “conselheiro comercial”, custa metade se a entrega da viatura ocorrer num stand da Citroën. Ou pode mesmo ficar à borla, o que só acontece no caso em que o Ami (que só é vendido online) for adquirido através da ligação à Internet de um stand da marca…

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À semelhança do que acontece lá fora, embora a venda possa ser feita nas lojas Fnac aderentes, os test-drives estão limitados aos concessionários e são agendados online.

Nesta primeira fase de introdução no mercado português, a única forma de aceder ao Ami é o pronto pagamento, mas dentro em breve (sensivelmente dois meses), surgirão soluções de financiamento e de leasing, o que potencialmente alargará o leque de potenciais interessados. Os responsáveis da marca não arriscam uma estimativa de vendas, por se tratar de um modelo que pode aliciar desde os que até agora têm nas trotinetas ou nas bicicletas eléctricas a solução para se movimentarem na cidade, aos que vivem em meios rurais e para os quais os 75 km de autonomia do Ami e os seus 6 kW de potência chegam. Isso juntamente com a facilidade de carregar e o custo muito mais baixo da deslocação, comparativamente com um “mata-velhos” com motor térmico, está a atrair bastantes compradores, mesmo fora das cidades, em países como França e Itália, apontou o brand manager da Citroën em Portugal, João Catalão Mano. O mesmo avançou ao Observador que “este produto tem gerado uma forte curiosidade e manifestações de interesse, antes mesmo de chegar ao mercado”. Isso explicará a forte adesão da rede de concessionários – “a mais alta da Europa” –, os quais estarão interessados em capitalizar a imagem disruptiva do Ami e atrair novos (literalmente) clientes para a marca, na expectativa de fidelizá-los.

Sorrisos, desdém e algumas buzinadelas. Ami faz o trio

Tivemos um breve contacto, cerca de uma hora, com um Ami em Lisboa e aproveitámos para ver como é que o pequeno carro se desenvencilha na cidade. O facto de pesar apenas 470 kg – 60 dos quais a cargo do acumulador – pode não inspirar grande confiança, em matéria de segurança, mas lá está bem à vista no habitáculo a estrutura tubular em aço que protege os ocupantes em caso de acidente.

Depois, o facto de ter medidas muito compactas (2,41 m de comprimento, 1,39 m de largura e 1,52 m de altura) é uma bênção nas ruas estreitinhas e facilita o desafio de encontrar um mini-lugar para estacionar, o que para quem se movimenta eminentemente em meio urbano é sinónimo de menos uma dor de cabeça. Nesta situação, o diâmetro de viragem de 7,20 m é outro dos seus pontos fortes, enquanto os retrovisores exteriores circulares dão-lhe um ar catita. Mas sempre que é necessário proceder a alguns ajustes, há que esticar o braço e pôr a mão fora do vidro (que abre ao meio) para ajeitar o espelho, não podendo este detalhe ser apontado como um defeito, pois a curta largura leva a que isso não constitua uma dificuldade acrescida.

A bordo, o condutor pode ajustar longitudinalmente o seu banco e tem, à sua esquerda, os três principais comandos da máquina: Drive, Neutral e Reverse.  O outro ocupante viaja ao lado, em posição mais recuada, tendo mais espaço para esticar as pernas ou permitindo até o transporte de uma mala de viagem, num espaço que está previsto para tal.

Soluções de arrumação em divisórias há diversas, todas simples e privilegiando a funcionalidade à pretensão. Componentes em plástico também há bastantes, inclusivamente os tapetes, pois o Ami presta-se a ser poupadinho nos materiais e no equipamento para conseguir ser proposto por um valor competitivo. E tanto assim é que o único “ecrã” a bordo é um visor onde podemos controlar a velocidade e a autonomia, dados cuja legibilidade nem sempre é fácil, pois o habitáculo é extremamente luminoso, o que se por um lado facilita uma visão a 360º, por outro, pode complicar a leitura do visor. Mas o smartphone do condutor pode colmatar esta lacuna e, através da app My Citroën, fornece os dados mais relevantes da condução. Não nos foi possível testar este recurso, dada a brevidade deste primeiro contacto.

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O certo que nem é preciso olhar para o visor que temos à frente do volante ou para um smartphone para termos a certeza que estamos a circular completamente dentro dos limites de velocidade. É que os 45 km/h são o máximo que é possível alcançar, mas nem sempre, sobretudo nas subidas em que é preciso “ganhar balanço” para atingir mais rapidamente um ritmo vivo e vencer a inclinação.

A resposta ao acelerador é pronta e nem sempre isenta do ruído de accionamento após uma paragem, a que se junta depois o ruído de rolamento em ruas calcetadas ou mal pavimentadas. Nada de grave ou de estranho, pois aqui não há um motor a combustão a fazer barulho, pelo que todos os outros sons se tornam um pouco mais presentes. Mas a música que o Ami nos dá em bom piso é outra, mais suave e com ritmo, na medida em que o pequeno Ami consegue, na maior parte das vezes, acompanhar sem hesitações o fluxo de tráfego, sem ser um “empata”. Quando lá aparece uma subida mais acentuada e o micro Citroën demora um pouco mais até dar tudo o que pode, é conveniente não esquecer que a faixa mais direita na cidade é para ser usada, evitando os apitos de condutores mais impacientes ou apressados.

Da mesma maneira que se presta a algumas buzinadelas, o Ami também vira cabeças à sua passagem. Parado para deixar os peões atravessarem na passadeira, a sua peculiar imagem desenha sorrisos de surpresa e de admiração no rosto de quem passa, sobretudo mulheres. Já quando lado a lado com alguns taxistas da nossa praça, arranca esgares de desdém, talvez por ser visto como mais uma ameaça – e será mesmo, quando for integrado na frota da Free2Move, a marca de mobilidade da Stellantis.

Na versão dirigida aos profissionais, o lugar do ocupante cede espaço a uma divisória para acomodar carga

É impossível agradar a todos, mas este eléctrico em ponto pequeno agradará certamente à maioria dos que pretendem enfrentar a selva urbana sem poluir, com a liberdade de movimentos individual que os transportes públicos não oferecem e de forma mais segura e cómoda do que em bicicletas ou trotinetas, pois o Ami permite escapar da chuva sem molhas e resistir ao calor nos dias mais tórridos com a ajuda da ventilação, que podia ser um pouco mais silenciosa. A estes atributos, associa a vantagem de consumir pouco (“fartámo-nos” de andar, fizemos muitas subidas e ainda tinha bateria para percorrer 60 km). Joga ainda a seu favor o facto de a autonomia anunciada satisfazer as necessidades diárias da maioria dos condutores que se movem no perímetro urbano e na periferia. Isto tendo sempre que o Ami é uma solução de micromobilidade e que, pela categoria em que se insere, não pode circular em pontes e auto-estradas.

A última nota vai para a bateria de 5,5 kWh que demora 3 horas a carregar numa tomada standard de 220V. O acumulador está abrangido por uma garantia de apenas de dois anos, o que nos levou a questionar a marca acerca de qual será o custo de substituí-la, na eventualidade de tal ser necessário fora desse período. Esse dado ainda não nos foi facultado, pelo que actualizaremos o conteúdo assim que recebermos a informação.