“Ainda nos conseguimos recordar daquele momento, de excitação misturada com expetativa. Quando se está à espera de algo que sabemos que vai ser bom, quase que queremos esperar um pouco mais para podermos aproveitar mais. 28 de janeiro de 2020: as cortinas foram levantadas no teatro Scala, o palco onde toda as primeiras aparições são especiais. E quando a classe cruza com a elegância, Eriksen e Inter, não podia ser mais especial. Ali estava o maestro dinamarquês a acenar com magia no nosso meio-campo.

Christian Eriksen vai passar a usar um desfibrilhador cardíaco para controlar as anomalias. “Vai ser difícil voltar a jogar”

O barulho da bola a bater na barra diluído no ‘oohhh’ de espanto dos fiéis nerazzurri quando o Christian atirou aquele rocket de livre direto a uma distância ridícula, a meros centímetros da glória. A partir desse momento, sabíamos que era um compositor da melhor música. Partilhámos momentos de classe, batalhas, golos inesperados, como aquele de canto direto com o Nápoles, assim como algumas desilusões, como no verão da interminável época de 2019/20, quando fizemos uma campanha magnífica mas falhámos. Outro livre, outro dérbi, na Taça de Itália. Um momento icónico da história recente do Inter. Um esplêndido e vital remate – não apenas para nos levar para a próxima ronda mas também para dar uma energia renovada à história do Christian e do Inter, uma ligação que ficou mais forte jogo após jogo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Signora caiu mesmo de Vecchia: Inter é campeão mais de uma década depois e Juventus ainda luta por um lugar na Champions

O Christian foi uma figura chave para a nossa marcha rumo ao scudetto – um esforço de equipa para o qual Eriksen contribuiu com a sua visão, intuição, capacidade de passe, assistências e golos, alguns dos mais importantes. Contra o Nápoles. Contra o Crotone, que acabou por carimbar o título. Outro livre direto fantástico para celebrar o triunfo em San Siro no último dia da temporada. Esta é a nossa última e feliz memória do Christian com a camisola do Inter em campo. Tudo porque a vida às vezes dá voltas que não esperamos e envia-nos para caminhos que não imaginamos. Todos os adeptos do Inter, todos os adeptos do futebol olharam em silêncio à espera do Christian. Vê-lo de novo no Appiano Gentile com os seus colegas de equipa, como campeões italianos, foi uma alegria para recordar e que não será esquecida.

Eriksen reapareceu pela primeira vez em público (na praia) e continua a ser o “segredo” da Dinamarca: “Todos os dias pensamos nele”

Apesar de Inter e Christian levarem agora caminhos diferentes, a ligação jamais será quebrada. Os bons tempos, os golos, as vitórias, aquelas celebrações do scudetto com os adeptos fora de San Siro, tudo vai ficar na história nerazzurri. Tudo de bom, Christian!”

Eriksen caiu no chão, inanimado e com uma paragem cardíaca há 173 dias. Agora, fez o primeiro treino com corrida e bola

Foi desta forma sentida que, seis meses e uma semana depois da paragem cardíaca sofrida no jogo inaugural da Dinamarca no Campeonato de Europa de 2020, frente à Finlândia, o Inter anunciou a rescisão de contrato “por mútuo acordo” com o ex-médio do Tottenham e do Ajax, confirmando um cenário que há muito se tinha colocado em cima da mesa por uma questão regulamentar, na medida em que a Serie A não permite que sejam utilizados aparelhos como o desfibrilhador que o jogador tem para prevenir o risco de morte súbita.

Assim, o jogador está nesta altura livre para assinar contrato com qualquer equipa, havendo a possibilidade forte de ficar nos dinamarqueses do Odense, onde voltou aos treinos há duas semanas também por ser o seu clube de formação e por estar mais próximo de casa. Nenhuma das partes comentou ainda essa hipótese, embora a imprensa italiana escreva esta sexta-feira que já haverá um acordo com o médio de 29 anos.

Para muitos o melhor jogador desta geração do conjunto escandinavo, Eriksen esteve no Ajax depois de sair da Dinamarca com 16 anos, tendo ganho três Eredivisies, uma Taça dos Países Baixos e uma Supertaça pela equipa de Amesterdão entre 2010 e 2013, ano em que se transferiu para o Tottenham (onde nunca ganhou nenhum troféu, apesar da final perdida da Champions em 2019). Em janeiro de 2020, quando estava a seis meses de acabar contrato com os londrinos, o médio assinou pelo Inter, onde conseguiu o supracitado título de campeão da Serie A além de uma final perdida da Liga Europa em 2020 frente ao Sevilha.