Era um nome que nos últimos dias tinha aparecido amiúde pela imprensa desportiva. Por ter recebido o prémio Vítor Oliveira de Melhor Treinador da Segunda Liga em outubro e novembro, uma distinção que não demorou a partilhar com todos os que fazem parte do grupo. Por ter sido muito elogiado por Henrique Araújo, uma das novas pérolas já internacional Sub-21 que em entrevista ao jornal O Jogo apontou muito do seu crescimento ao trabalho do técnico. E não era um nome que aparecesse por acaso, longe disso. Hoje, é o nome que todos os sócios e adeptos do Benfica se vão de novo habituar a pronunciar antes e depois de qualquer jogo. E é um nome que, também pelo que estava a fazer, podia não ser falado no Seixal.

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Depois de ter feito a transição até ao final da temporada de 2019/20, na sequência da saída inesperada de Bruno Lage à 29.ª jornada após nova derrota dos encarnados na Madeira frente ao Marítimo que deu uma outra margem de gestão ao líder FC Porto, Nelson Veríssimo deixou o clube a seguir à derrota na final da Taça de Portugal com os dragões mas acabou por estar menos de seis meses fora do clube, voltando ao comando da equipa B quando Renato Paiva quis apostar (com sucesso) no Independiente del Valle, que se sagrou campeão do Equador – com essa curiosidade de, em julho de 2020, ser a outra hipótese para assumir a equipa A sem Lage. Estabilizou o conjunto secundário e foi preparando a época de 2021/22.

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Veríssimo foi sempre alguém muito elogiado pelos responsáveis do Benfica Campus, daqueles com quem os encarnados não deveriam abdicar qualquer que fosse o cargo que ocupasse. E esta temporada estava a ser uma prova disso mesmo, com o treinador a fazer o melhor arranque da equipa B que, até mesmo depois da derrota na noite desta terça-feira em Santa Maria da Feira com o Feirense, mantém a liderança da Segunda Liga e corre por um título que nunca conseguiu ganhar. Foi isso que lhe valeu propostas para assumir equipas “maiores” do primeiro escalão, todas recusadas. Para alguns, era uma questão de crença no projeto que tinha pela frente; para outros, uma garantia de que a oportunidade voltaria a chegar.

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Antigo central da formação do Benfica, Veríssimo ainda esteve mais de duas temporadas nos seniores das águias, entre 1994 e 1996, após a conquista do título na época marcada pelo Verão Quente, antes de passar para o Alverca, onde fez grande parte da carreira numa altura em que os ribatejanos estavam na 1.ª Divisão. Mário Wilson, uma espécie de reserva moral durante anos a fio na Luz sempre que alguma aposta técnica corria mal, foi o treinador que o lançou numa temporada que tinha sido iniciada por Artur Jorge. É desse técnico que muitos se lembram e associam a Veríssimo, um outro “bombeiro” na história do clube.

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“Sempre foi um capitão de equipa. Tem uma capacidade de liderança interessante, até pela forma de estar. Sempre foi aquele tipo de jogador muito certinho, nunca fugia daquilo que era o correto e certo, por isso era um dos capitães. Grande capacidade de liderança, forte de caráter. É boa pessoa, uma pessoa excelente”, recordara José Sousa, antigo lateral, ao Expresso em 2020. “Sempre foi uma pessoa racional, profissional e um indivíduo muito estudioso. Interessava-se por todos os aspetos do jogo. Surpreendeu algumas pessoas com a maturidade que já tinha”, acrescentara José Calado, antigo médio e capitão.

O ex-defesa passou ainda por Académica, V. Setúbal (ambos nos escalão principal), Fátima e Mafra, onde terminou em 2012. Logo nesse ano, e depois de ter tirado os níveis necessários de treinador, Veríssimo foi durante sete anos adjunto da equipa B dos encarnados que tinha Luís Norton de Matos e o também ex-central Hélder Cristóvão, o seu clube de sempre, tendo subido à equipa técnica do conjunto principal com a promoção de Bruno Lage em janeiro de 2019, após o despedimento de Rui Vitória. Seis meses depois, festejou o Campeonato; em agosto, seguiu-se a Supertaça; em julho de 2020, com a paragem de todas as competições pelo meio devido à pandemia e ao primeiro confinamento, viu o número 1 sair.

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Esta terça-feira, Veríssimo viveu um dos dias mais complicados da sua vida. Em condições normais, e se não tivesse havido por exemplo todo o caso gerado na véspera pelo afastamento de Pizzi e a posição de solidariedade de vários elementos do plantel perante essa decisão, Jorge Jesus faria pelo menos mais um jogo no comando do Benfica, no Dragão. Com isso, o técnico da equipa B, de 44 anos, sabia que essa chamada poderia acontecer a qualquer momento. Mas a viagem do Norte, onde iria defrontar o Feirense, para Lisboa foi particularmente complicada ao ter conhecimento da morte da mãe, vítima de doença prolongada. Foi por isso também que o Benfica, respeitando o momento que estava a passar, tentou ao máximo resguardar o técnico ao longo do dia mas o mesmo fez questão de orientar o treino da tarde.

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“O Benfica informa que, de comum acordo entre as partes, Jorge Jesus já não é treinador do Benfica. A Benfica SAD agradece a Jorge Jesus todo o trabalho desenvolvido ao longo do último ano e meio e deseja-lhe as maiores felicidades para o futuro. Mais acrescenta que cumprirá com todas as obrigações contratuais até ao término do vínculo laboral existente ou até que Jorge Jesus e a sua equipa técnica assumam novo compromisso profissional. Nelson Veríssimo assume hoje as funções de treinador da equipa principal do Benfica até ao final da temporada”, assumiram os encarnados através de um comunicado no seu site oficial. Se será mesmo assim ou não, só mesmo o tempo e os resultados poderão dizer ou confirmar.

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Os responsáveis do clube da Luz acreditam que o técnico tem condições para mudar o rendimento da equipa mas, à semelhança do que aconteceu em julho de 2020, também conhecem as dificuldades que vai enfrentar com uma entrada a meio da temporada com um plantel feito mais à medida de Jorge Jesus. Nem sempre acontece mas o comboio passou pela segunda vez à porta de Nelson Veríssimo e é a viagem que o antigo técnico dos B conseguir fazer que proporcionará que os planos meramente exploratórios que têm sido pensados por Rui Costa e restante equipa possam ou não acelerar tendo em vista um novo ciclo.