Há um ano a trabalhar na Organização Mundial da Saúde, Rogério Gaspar diz que é cedo para falar no fim da pandemia e fala nos “egoísmos nacionais” que levaram à situação atual, isto é, “países com uma taxa de cobertura vacinal elevadíssima e outros com uma taxa de cobertura muito baixa”.

Em entrevista ao Jornal I (link para assinantes), o diretor do Departamento de Regulação e Pré-qualificação da OMS, responsável pelo processo de avaliação e distribuição dos produtos farmacêuticos, incluindo vacinas, recorda que 2021 terminou com 94 dos 192 países com uma taxa de cobertura vacinal inferior a 40%, “que era a meta para todos e cada um”. A consequência? “Estarmos sujeitos ao aparecimento de variantes – a mais recente a Ómicron mas que não será provavelmente a última.

O também professor catedrático da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa lembra que “este processo não irá parar enquanto não percebermos que precisamos de vacinar toda a gente” e que o problema da “infodemia” vai continuar a existir em simultâneo com a pandemia.

A lição a retirar é que, enquanto tivermos grupos significativos com uma baixa taxa vacinal, abrimos a porta a que a evolução dos vírus vá continuando, conduzindo ao surgimento de novas variantes. É um bocadinho uma roleta: pode correr bem um dia e correr correr mal com a variante seguinte.

O professor comenta também que Tedros Adhanom Ghebreyesus é das “pessoas mais fáceis de trabalhar do mundo”, sendo, ao mesmo tempo, um líder muito exigente.

Rogério Gaspar deixa ainda um aviso: “Uma coisa é certa: vamos ter mais pandemias. É importante começar a rever as lições desta crise e dotar a OMS de instrumentos que lhe permitam exercer uma maior capacidade de coordenação operacional da resposta à escala global, que é um mandato que hoje tem fortes limitações”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR