Foi um caso que fez soar os alarmes por todo o mundo, apesar de não ser inédito. Em Israel, uma grávida de 30 anos não-vacinada ficou infetada com Covid-19 e com o vírus da gripe. Arnon Vizhnitser, diretor do departamento de ginecologia do hospital Beilinson — onde a doente foi acompanhada — já veio alertar que a coinfeção é “viral” e causa “dificuldades em respirar”, uma vez que ambos os vírus atacam o “trato respiratório superior”.

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) também avisou, esta segunda-feira, que, com o aumento da circulação do vírus da gripe, podem surgir coinfeções, embora ainda não se tenha registado qualquer caso em Portugal.

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O que se sabe sobre a “Flurona”?

Por agora, ainda não se sabe muita coisa sobre a “Flurona”, como é designada a doença nomeada a partir da combinação das palavras ‘flu’ (gripe em inglês) e ‘corona’. Porém, esta coinfeção dos vírus influenza e SARS-CoV-2 não é nova. Em maio de 2020 — na primeira vaga da pandemia — um estudo publicado na revista The Lancet já tinha identificado quatro casos de coinfeção, descrevendo este fenómeno como “possível”.

As quatro pessoas, que sofriam de comorbilidades — como hipertensão — e tinham idades compreendidas entre os 53 e os 81 anos, recorreram às unidades de cuidados intensivos, mas nenhuma delas morreu.

Em junho de 2021, um estudo partilhado pela Biblioteca Nacional de Medicina Norte-americana também deu conta de 79 casos de coinfeção, tendo analisado com mais detalhe 29 doentes. Desde número, dois deles morreram de complicações associadas aos dois vírus, enquanto 17 tiveram sintomas ligeiros.

Apesar destes contributos científicos, Thomas Russo, chefe do departamento de doenças infecciosas da Universidade de Buffalo, está “preocupado”. A situação é diferente este inverno, uma vez que — no ano passado — não existiu uma época gripal assinalável. Em Portugal, ninguém morreu ninguém entre outubro de 2020 e maio de 2021.

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Acresce-se ainda o surgimento de novas variantes, como a Ómicron, que podem alterar o quadro sintomático e também alterar as consequências no organismo. “Cada vírus é potencialmente letal. A combinação pode ser bastante má”, avisa, em declarações ao portal Prevention, Thomas Russo.

Como é que possível contrair dois vírus?

O chefe do departamento de doenças infecciosas da Universidade de Buffalo explica que é possível contrair dois vírus, dado que estes utilizam “recetores diferentes” no organismo.

Por seu turno, Rafael Cantón, chefe do serviço do microbiologia do Hospital Universitário Ramón y Cajal, afirma que as “coinfeções por vírus respiratórios não são pouco frequentes”, salientando ainda que também acontece haver uma infeção por um vírus e por uma bactéria.

Ao jornal El Español, Rafael Cantón sinaliza que, no organismo, apenas “predomina a agressividade de um deles”, dependendo da variante dos vírus em questão e também do sistema imunitário de cada pessoa.

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Quais são os sintomas?

Tendo em conta que a Covid-19 e a gripe têm sintomas idênticos, é difícil distinguir o quadro sintomático de cada um dos vírus. Segundo o estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina, os sintomas mais comuns dos 29 doentes analisados foram “febre, tosse e dificuldades em respirar” — sintomas transversais a ambas as doenças.

Por sua vez, Thomas Russo corrobora que a “Flurona” não vai trazer nenhum sintoma que não esteja associada à Covid-19 e à gripe. Alguns deles poderão consistir em fadiga, dores no corpo, dores de cabeça, perda do paladar e dores de garganta.

Quais são as diferenças entre gripe e a Covid-19?

Embora apresentando sintomas idênticos, os vírus da Covid-19 e da gripe apresentam características próprias. Uma das principais diferenças reside no período de incubação do vírus: na gripe, os primeiros sintomas surgem num intervalo de um a quatro dia após a infeção, enquanto no SARS-CoV-2,é estimado que as primeiras manifestações da doença apareçam entre um e a 14 dias.

Quem contrai Covid-19 pode ainda contaminar mais pessoas durante mais tempo, enquanto na gripe esse intervalo é mais curto.  Contudo, no que diz respeito à variante Ómicron, o período de incubação e de contágio deverá ser mais curto, pelo que a Direção-Geral da Saúde (DGS) reduziu o isolamento para assintomáticos e pessoas com doença leve para sete dias. No caso da Madeira e dos Açores, passou mesmo para cinco dias, tal como nos Estados Unidos.

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A Covid-19 também é mais transmissível que a gripe, especialmente a Ómicron, que é considerada por alguns especialistas a variante mais transmissível na história da Humanidade.